Negócios de canábis medicinal em Mação utilizados para tráfico de droga

Em 2021 Mação tinha três unidades industriais dedicadas ao comércio de canábis medicinal. Esta semana a PJ deteve dois homens e apreendeu duas toneladas de canábis depois de buscas relacionadas com uma dessas empresas.
A Polícia Judiciária (PJ) deteve dois cidadãos estrangeiros e apreendeu cerca de duas toneladas de canábis, no âmbito da operação “Ortiga”, realizada na zona de Mação. Em comunicado, a PJ adiantou que a investigação visou um grupo criminoso dedicado à “introdução de grandes quantidades de canábis em mercados europeus e africanos”, através da utilização fraudulenta de empresas farmacêuticas.
De acordo com a nota, o grupo, composto por cidadãos nacionais e estrangeiros, terá adquirido várias empresas do sector farmacêutico autorizadas a comercializar canábis medicinal, com o objectivo de facilitar o tráfico. “No âmbito das investigações, foi possível determinar que um grupo criminoso, constituído por diversos cidadãos nacionais e estrangeiros, após proceder à aquisição de várias empresas farmacêuticas, infiltraram diversas sociedades comerciais licenciadas para o comércio por grosso, importação e exportação de canábis medicinal”, lê-se no comunicado.
A PJ referiu ainda que os suspeitos aproveitaram-se das falhas no sistema de fiscalização e controlo de exportações de canábis medicinal em Portugal, utilizando documentação e certificados falsos para enviar milhares de quilos da substância para mercados ilícitos. Segundo a PJ, a operação foi conduzida pela Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes, no seguimento de uma investigação iniciada no início do mês em cooperação com a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed). A nota adianta ainda que a investigação permitiu interromper a actividade criminosa, que decorria há vários meses. Os dois detidos foram presentes à autoridade judiciária competente, tendo-lhes sido aplicadas medidas de coação não detentivas.
Empresa instalada em Mação para traficar droga
Embora a PJ não o assuma, O MIRANTE sabe que as buscas foram realizadas em estufas construídas há cerca de quatro anos, pertencentes a unidades agro-industriais de canábis para fins medicinais, junto à Estrada Nacional 3-12, no Alto do Casal, entre Rosmaninhal e Casal da Barba Pouca. Em 2021 instalou-se naquela zona a terceira empresa do género, num investimento que, segundo foi divulgado na altura, originou cerca de 150 postos de trabalho directos, além da criação de outros empregos indirectos.
O negócio das empresas assenta no cultivo, armazenamento, produção, manipulação, transformação, importação, exportação e expedição de canábis e seus derivados, tudo para fins medicinais. Os três projectos anunciados para o concelho de Mação receberam, em 2020, pré-licença do Infarmed. Em causa estão investimentos que rondaram os 25 milhões de euros.