Sociedade | 17-07-2025 16:26

“Os Bacanos do Costa” é um grupo virtual com a missão real de ajudar o colega de trabalho

“Os Bacanos do Costa” é um grupo virtual com a missão real de ajudar o colega de trabalho
O oficial de justiça Francisco Costa com o administrador judiciário da Comarca de Santarém, Manuel Louro (à esq.), que personifica a solidariedade de um grupo de funcionários que está a ajudar o colega doente - foto O MIRANTE

Quase três dezenas de oficiais de justiça dos tribunais de Santarém uniram-se num grupo virtual do WhatsApp para darem apoio a um colega que está internado com um cancro nos pulmões. Desde levar comidas saborosas a organizar visitas, a solidariedade em contexto de trabalho ainda existe e Francisco Costa, conhecido por ser resmungão, mas bom coração, é um sortudo.

Francisco Costa já estava a tratar de se reformar de 42 anos ao serviço da justiça, para estar mais tempo com o pai que precisa de cuidados de saúde quando foi atirado para uma cama do serviço de pneumologia do Hospital Distrital de Santarém. Diagnóstico: cancro do pulmão. Sem esposa nem filhos, o oficial de justiça da Azinhaga, concelho da Golegã, viu o mundo desabar, mas depressa surgiu o apoio e solidariedade dos colegas de trabalho, enquanto o pai, que foi tipógrafo, vai tendo a assistência do apoio domiciliário e a visita de uns primos de Francisco que vão resolvendo o que é preciso.
Funcionário dedicado, com 30 anos de serviço nos tribunais de Santarém, Francisco Costa não renega a sua qualidade de chato. Com um estilo mais incisivo, por vezes resmungão, perante o trabalho que não está bem feito, tem a consideração dos colegas com quem tem trabalhado mais de perto, que se organizaram para o ajudar neste momento difícil. Os “Bacanos do Costa”, é o nome do grupo crido na aplicação de comunicações WhatsApp e onde 28 funcionários judiciais formam uma rede que gere períodos de visitas entre eles e onde se combina quem é que pode levar alimentos ou outros artigos que ele precise.
O grupo começou a organizar-se com uma preocupação com a alimentação, porque Francisco Costa é “muito esquisito com a comida”. Como já há algum tempo que andava a comer pouco por se sentir doente, o que se agravou no hospital, alguns colegas trataram de começar a animá-lo pelo estômago, levando-lhe canja e outros pratos que lhe voltassem a despertar o apetite. O funcionário passou um mau bocado. “Estive bastante mal, em baixo, mas agora estou melhor e isso também é devido ao apoio dos meus colegas de trabalho”, salienta Francisco Costa, internado há três meses.
Este caso é a prova de que no ambiente muitas vezes competitivo do trabalho, ainda há um espaço de solidariedade. E Francisco Costa beneficia da camaradagem que tem granjeado ao longo dos anos por ajudar os outros a superarem as dificuldades do trabalho, a refazer o que não está bem feito, a resolver pequenos problemas do dia-a-dia com os procedimentos nas plataformas informáticas da justiça. Nos últimos tempos já não estava a tempo inteiro na secção central dos juízos que estão instalados no Palácio da Justiça II, na antiga Escola Prática de Cavalaria, por beneficiar do estatuto de cuidador informal de modo a acompanhar o pai que tem dificuldades de locomoção.
O cancro não será alheio a cinco décadas de tabaco. Começou a fumar aos 13 anos. Fumava uma média actualmente de 20 cigarros diários, sendo que tinha aderido há um tempo à moda do tabaco aquecido. Francisco Costa reconhece o esforço dos colegas que fazem tudo por estar sempre um deles presente na visita todos os dias e às vezes também ao sábado, sendo que alguns não são de Santarém. No dia em que fez 66 anos, a 6 de Julho, encomendou um bolo de aniversário que mandou entregar no tribunal para os colegas. Também houve um bolo no hospital para agradecer o cuidado que têm tido com ele.
No hospital, com pouca coisa para fazer além de ler jornais, ver televisão ou conversar, uma das manias é comprar coisas na internet, como porta chaves, relógios ou camisolas. “Compro coisas que não me fazem falta”, revela. Mas também já comprou coisas úteis como um andarilho para caminhar no hospital e contrariar a perda de massa muscular. Outra tarefa que tem tido durante o internamento é atender as chamadas do pai, com 91 anos, sempre que precisa de algo, como comprar pão. O pai até tem o contacto das pessoas e podia encomendar o pão, mas prefere que seja o filho a fazê-lo.
As visitas dos colegas dão-lhe ânimo para enfrentar a situação por que passa. Francisco Costa esteve na guerra colonial em Angola e sobre medos não sabe qual é o pior, o da guerra ou o do cancro. “São medos diferentes”. Neste momento um dos medos é chegar a casa e não conseguir fazer o que é preciso, não conseguir andar”, lamenta. Do que mais sente falta é dos petiscos com os amigos.

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