Sociedade | 20-07-2025 12:00

Criação de centro de hidrogénio verde em Samora Correia levanta dúvidas e adia decisão

Criação de centro de hidrogénio verde em Samora Correia levanta dúvidas e adia decisão
Membros da assembleia municipal de Benavente pediram mais esclarecimentos para aprovar declaração de interesse público municipal  - foto O MIRANTE

Assembleia Municipal de Benavente adiou a votação da declaração de interesse público para a instalação de um centro de produção de hidrogénio verde na Herdade de Camarate, após alertas sobre riscos sísmicos, dúvidas nos pareceres das entidades, ausência de dados técnicos e benefícios limitados para o concelho.

A votação da declaração de interesse público municipal para a criação de um centro de produção de hidrogénio verde na Herdade de Camarate, freguesia de Samora Correia, foi adiada, na última sessão da Assembleia Municipal de Benavente, face às dúvidas e reservas levantadas por diversos eleitos municipais.
Apesar de não ter havido oposição formal à instalação do projecto, foram várias as vozes a criticar a falta de informação e a ausência de fundamentação política que sustente o interesse municipal da proposta. Paulo Cardoso, eleito pelo Chega, manifestou apoio à aposta em energias verdes, mas alertou para os riscos sísmicos associados à localização do projecto. “Estamos numa zona de risco sísmico máximo, de nível oito, e o hidrogénio é transportado sob altas pressões. Nós não nos vamos opor, mas não podemos ignorar o risco”, vincou.
António Rabaça, agora independente depois de sair do grupo municipal do PS, destacou os impactos ambientais e a escassez de dados técnicos. “Não sabemos o volume de armazenamento de hidrogénio, a pressão, nem como serão tratados os efluentes. A documentação não menciona a ETAR nem os depósitos. Que pareceres receberam as entidades que se pronunciaram antes de nós?”, questionou. O eleito falou ainda da ausência de benefícios fiscais para o concelho. “A empresa tem sede fiscal em Faro, não pagará IRC aqui e o IMI dependerá da classificação do empreendimento”, referiu.
Pedro Gameiro, do PS, pediu esclarecimentos sobre os reais efeitos da declaração de interesse público. “Quantos postos de trabalho estão previstos? Dois. E os indirectos, através de prestação de serviços, talvez nem envolvam o nosso concelho. Esta declaração pode abrir portas a isenções e assim licenciamento mais ágil. Precisamos de saber exactamente o que estamos a aprovar”, alertou.
Também Ricardo Oliveira, do PSD, exigiu maior clareza política e criticou o desfasamento temporal entre os pareceres emitidos e a posterior decisão do Governo sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa. “O município deve pedir novos pareceres porque há agora um novo dado, o aeroporto. Precisamos de saber o que justifica este interesse público”, disse o social-democrata.
O presidente da Câmara de Benavente, Carlos Coutinho (CDU), considerou o projecto alinhado com a estratégia nacional para as energias alternativas, embora com impacto económico local reduzido. “Não é decisivo para o concelho, mas está em linha com os objectivos do país. Esta declaração de interesse público serve apenas para permitir a edificação numa zona incluída na Estrutura Ecológica Municipal”, lembrou o autarca à audiência.
O presidente do município informou ainda que há outros projectos em vista para o concelho, com interesse na injecção de hidrogénio na rede através dos pontos no gasoduto junto à Herdade de Camarate, mas também noutras zonas do concelho, nomeadamente perto do Porto Alto e em Benavente.
Face às várias dúvidas e à solicitação de mais dados por parte dos membros da assembleia municipal, o ponto foi retirado da ordem de trabalhos e remetido para discussão em futura sessão. Recorde-se que esta proposta já tinha sido aprovada em reunião de câmara, faltando o aval da assembleia municipal.

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