Intervenção precoce e trabalho em rede são essenciais no desenvolvimento infantil

Capacit´Arte: III Encontro-As Nossas Crianças” reuniu no dia 9 de julho, em Abrantes, profissionais da educação, saúde e acção social, bem como famílias e instituições da região, num momento de partilha, reflexão e reforço do trabalho em rede na intervenção precoce.
O auditório da Escola Secundária Dr. Manuel Fernandes, em Abrantes, acolheu o III Encontro “Capacit’ARTE- As Nossas Crianças”, uma iniciativa da Equipa Local de Intervenção (ELI) de Abrantes, Sardoal e Mação. Com o mote “Capacitar”, o encontro reuniu profissionais da educação, saúde, serviço social e famílias, num espaço de reflexão, partilha de experiências e reforço do trabalho em rede para a intervenção precoce no desenvolvimento infantil.
A vereadora da Câmara Municipal de Abrantes, Raquel Olhicas, sublinhou a importância do encontro como momento de reconhecimento e responsabilidade partilhada e recordou que, desde o primeiro evento em Mação, centrado na intervenção nos contextos das crianças, e passando pelo segundo, no Sardoal, dedicado à neurodiversidade, o caminho tem sido de aprofundamento do compromisso interinstitucional. Destacou ainda o protocolo assinado entre o município e a ELI, que formaliza e fortalece a colaboração na intervenção precoce: “trabalhar nesta área é reconhecer o potencial transformador de uma acção atempada, colaborativa e centrada na criança no seio da sua família e comunidade”, afirmou.
O encontro contou com dois painéis que enriqueceram o debate técnico e prático. O primeiro painel falou sobre o tema “Avaliar e Sinalizar Precocemente”, com enfoque na Consulta da Perturbação do Espectro do Autismo da ULS Médio Tejo. Participaram Otília Branco, médica pediatra especialista em neurodesenvolvimento; Conceição Oliveira, enfermeira especialista; Catarina Ferreira, terapeuta da fala; Nélia Mendes, terapeuta ocupacional; e Adriana Gonçalves, psicóloga da educação e desenvolvimento. A discussão centrou-se na identificação precoce dos sinais de risco, no acompanhamento multidisciplinar e na importância da articulação no apoio às crianças e às suas famílias.
O segundo painel contou com a nutricionista Elisa Costa, da ULS Médio Tejo, que apresentou o tema “O meu filho não come” e abordou a problemática da selectividade alimentar na infância, um tema frequentemente negligenciado, mas com forte impacto no desenvolvimento e bem-estar infantil, onde a especialista partilhou estratégias práticas e formas de compreensão, reforçando a importância da empatia e da orientação especializada. A sessão contou também com intervenção da psicóloga clínica Sara Martins Leitão, com a palestra “Os anos incríveis e a incrível arte de capacitar”. Isabel Alves, directora do Agrupamento de Escolas n.º 2 de Abrantes, destacou o papel da arte como instrumento de capacitação desde os primeiros anos. Também Ana Rico, directora do Agrupamento n.º 1, elogiou o trabalho da ELI e o impacto positivo na articulação com os professores e educadores.
No campo da saúde, Maria José Mota, da ULS Médio Tejo, reforçou a importância da intervenção precoce na identificação de sinais de risco, referindo que a referenciação não garante resultados absolutos, mas permite respostas mais eficazes. Do lado das IPSS, Vítor Moura, presidente do CRIA, fez um apelo à reflexão sobre o papel das instituições como estruturas que frequentemente suprimem lacunas deixadas pelo Estado. Francisco Corga, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Mação, reafirmou o compromisso da instituição com a infância, sublinhando que a forma como se acolhe e se intervém junto das crianças e das famílias pode, efectivamente, transformar realidades. Pedro Caldeira, pedopsiquiatra e Sub-Comissário Geral de Lisboa e Vale do Tejo, salientou que a intervenção precoce é, acima de tudo, um exercício contínuo de escuta e interesse por cada criança.