João Morais: o ribatejano com alma londrina que domina os segredos da pizza

Natural de Samora Correia, João Morais é o rosto do John’s Pizza, um estabelecimento que conquistou os amantes da pizza na cidade ribatejana. O Dia Mundial da Pizza, celebrado a 10 de Julho, serviu de pretexto para revelar uma experiência única, construída em duas passagens por Londres, onde aprendeu a verdadeira arte de confeccionar pizzas.
As pizzas de João Morais, 51 anos, não são apenas uma questão de ingredientes, é uma história contada em fatias. Nascido em Samora Correia, trocou a agricultura pela gastronomia, mas foi em Londres, entre mapas mal interpretados e a primeira entrega que nunca chegou ao destino, que descobriu o verdadeiro sabor da experiência.
O segredo para uma boa pizza está na confecção das massas e na escolha dos ingredientes. Para o pizeiro a massa tem que ter sabor, tem que estar no ponto certo e o tomate também faz toda a diferença. Foi criando algumas “fantasias” que nunca encontrou noutro lugar, como as crostas recheadas com vários queijos. Mais do que colocar muitos ingredientes é preciso fazer as combinações certas, com as quantidades na medida exacta. “Se colocarmos uma grande quantidade de ingredientes, a pessoa não vai saborear nenhum. A pizza tem de ser equilibrada, com o peso e medida certos”, garante.
Segundo João Morais, o público de Londres é diferente do português no que toca a sabores. Com uma presença significativa de uma comunidade indiana naquele país, os pedidos focam-se em pizzas vegetarianas e picantes. Reconhece que com a pandemia, a pizza saiu a ganhar. Entre 2000 e 2008, a adesão a esta iguaria era inferior. Nada tem a ver com o que é agora. A pizza tem muito mais saída, garante.
Entre as pizzas mais procuradas no John’s Pizza destaca-se a Pizza Brasileira, que leva frango, bacon, milho e creme de queijo Philadelphia, e a Pizza Calabresa do Brasil, com chouriço, azeitonas verdes e cebola roxa. Porém, a sua favorita é a The Best, que inclui pimento, cebola, pepperoni, cogumelos e azeitonas. A pizza Nata, por exemplo, também foi uma surpresa para muitos, acrescenta.
Mas João Morais não esquece os gostos mais tradicionais, principalmente dos mais jovens. Cerca de 90% dos miúdos preferem pizzas mais simples, de queijo e fiambre. Nos eventos, onde tem uma roulotte, coloca sempre cinco pizzas grandes com fiambre e duas com outros ingredientes. As cinco saem sempre, as duas não. Fidelizar clientes é um trabalho de longo prazo, e muitos continuam a pedir as mesmas pizzas, ano após ano.
“Há grandes diferenças de pizza para pizza. Podemos comprar uma no supermercado por três euros e, se calhar, aqui custa 20. Tem de haver diferença, tal como acontece quando vamos a um restaurante com menu de 10 euros e noutros pagamos o triplo”, defende João Morais, explicando o que faz a diferença no seu negócio. A pizza que o samorense faria para representar Samora Correia e Benavente seria a Pizza Farinheira, que leva azeitona, cebola roxa e é muito pedida pelos ribatejanos. “Mesmo quem não gosta muito de pizzas acaba por gostar dessa”, revela, destacando o seu compromisso com os sabores tradicionais da região.
Ao olhar para o futuro, João Morais está convencido de que a chave do sucesso continua a ser a mesma, não podendo faltar qualidade, inovação e a paixão que coloca em cada pizza, como se fosse a primeira. Com planos de expansão, a John’s Pizza está a estudar abrir em Castanheira do Ribatejo ou no Carregado, além de explorar a possibilidade de fixar a roulote na Gare do Oriente ou noutra estação de comboios.
O mestre da pizza que se iniciou nas cenouras
João Morais sempre foi um homem de negócios, mas a sua vida deu uma reviravolta quando trocou a agricultura pela gastronomia. Aos 15 anos, foi considerado o empresário mais jovem do país, com a empresa Cenouras Morais, uma empresa com 40 colaboradores que, nos anos 90, estava entre as líderes do mercado. Vendia cerca de 50 toneladas de cenouras por dia e tinha clientes de todo o país. No entanto, a sua ascensão no mundo da agricultura foi interrompida pela concorrência de mercados externos mais competitivos. As margens de lucro encolheram e João Morais, então com 20 anos, decidiu terminar o seu negócio.
A mudança para Londres em 1995, inicialmente a convite do irmão que estava imigrado no Reino Unido, representou o início de uma nova etapa na sua vida. Começou por trabalhar num restaurante a lavar pratos, mas surgiu uma oportunidade numa pizzaria de um gerente iraniano. Não falava inglês, respondia “yes” a tudo. Mesmo sem saber utilizar um mapa, João Morais não desistiu de aprender. A primeira entrega foi um caos. Perdeu-se por Londres durante horas, ficou sem combustível na moto, pediu ajuda a taxistas junto ao Big Ben e a pizza nunca chegou aos indianos que a solicitaram. No dia seguinte, quando pensava que ia perder o emprego, o chefe riu-se e perdoou-lhe a falsa partida. Durante sete anos conheceu os processos em várias pizzarias, do estilo indiana ou americana, e consolidou o seu gosto pela confecção.
Regressou a Portugal no final de 2000 e começou a sua carreira no ramo da restauração. Comprou uma pastelaria em Vila Franca de Xira que rapidamente transformou numa pizzaria. Abriu também um estabelecimento em Samora Correia. Com a crise económica e a falta de poder de compra, viu-se forçado a fechar os seus negócios em 2008, mas, em 2009, regressou a Londres, onde continuou a somar currículo em pizzarias, incluindo no franchising Papa John’s.
No final de 2020, e após vários anos de experiência, João Morais decidiu abrir o John’s Pizza em Samora Correia, criando um módulo nos Arados, com fornos e amassadeira, num terreno rodeado de toiros e cavalos, a partir do qual saía para fazer entregas no Porto Alto, Samora Correia e Benavente. Em 2024, estabeleceu-se nas Piscinas Municipais da cidade, uma localização que triplicou a procura e o obrigou a ajustar a equipa de trabalho.