Sociedade | 28-07-2025 07:00

Carlos Cunha: “somos um país onde prevalece o amiguismo e o facilitismo”

Carlos Cunha: “somos um país onde prevalece o amiguismo e o facilitismo”
Carlos Cunha é uma figura respeitada em Santarém - foto O MIRANTE

Carlos Cunha é um homem discreto e muito respeitado na cidade de Santarém. Trabalhou como veterinário em matadouros em Santarém e Tomar mas os seus momentos mais marcantes foram passados em Angola, onde nasceu e cresceu, sempre com a liberdade e o espírito de camaradagem que fazem de África um continente “que a toda a gente devia conhecer”.

A vida de Carlos Cunha nunca mais foi a mesma desde que foi obrigado a “fugir” de Angola depois da revolução do 25 de Abril de 1974. Nessa altura, na cidade onde nasceu e cresceu, vivia uma vida livre, onde o espaço era infinito e as pessoas mais “puras”. Filho de um guarda-livros e de uma empregada doméstica, Carlos Cunha cedo aprendeu os valores do respeito e da perseverança. Mas fez sempre questão de não seguir as regras. “Em África não há limites para a nossa imaginação. Por isso é que toda a gente adora África e devia lá ir uma vez na vida. Não há preconceitos”, afirma em conversa com O MIRANTE.
Carlos Cunha sempre foi e continua a ser uma figura respeitada na cidade de Santarém, depois de levar uma vida inteira a trabalhar como veterinário em vários matadouros do país. Agora reformado, na região trabalhou em Santarém e em Tomar e desses tempos diz que só guarda boas recordações. Chegou a Portugal em 1975, mas tantos anos depois ainda se recorda do homem que cuidava de si quando era moço em Angola. “Chamava-se Mateus. Cuidava de mim, levava-me para todo o lado. Tinha uns 20 anos a mais do que eu. Nunca mais o vi”, partilha Carlos Cunha, que completou este ano 72 anos de idade. A veterinária nasceu do seu gosto por animais. Estudou até ao quarto ano de curso em Luanda e fez o último ano na universidade em Lisboa.
Um dos seus primeiros empregos foi a fazer a inspecção sanitária em matadouros, numa altura em que era o Estado que tomava conta desse “dossier”. O processo do abate dos animais, porcos, vacas, borregos, cavalos, entre outros, é diferenciado, e vai desde o choque eléctrico à utilização de uma pistola cujo espigão entra na massa encefálica, explica. “Nunca tive complexos por trabalhar em matadouros. O objectivo é dar carne de qualidade às pessoas, sem problemas. Quase a totalidade da população come carne. A nossa profissão é essencial”, afirma.
Ainda assim, Carlos Cunha tem muitas críticas a apontar às grandes empresas, mas sobretudo à forma como o sector opera em Portugal. Os episódios contantes de poluição, com sucessivas descargas de pecuárias para linhas de água, é, no seu ponto de vista, um reflexo da “pequenez” do nosso país. “Somos um país de amiguismo e de facilitismo. A pecuária é necessária mas tem que se criar condições para os empresários não prevaricarem. Somos um país demasiado pequeno para o número de empresas que existem no sector”, afirma, sublinhando que devem existir políticas próprias para o sector.

A perda de uma filha e o legado que deixa

Carlos Cunha tem 72 anos e é um homem activo. Faz piscina, ginásio e banho turco para ajudar a lidar com as dores do reumático. Cuida do seu jardim todos os dias e passeia o cão, o seu fiel companheiro. Adaptou-se às novas tecnologias e das primeiras coisas que faz ao acordar é ouvir o podcast de Camilo Lourenço, que aborda a situação política e económica do país. Estar bem informado é uma necessidade até porque, segundo o próprio, é uma pessoa que gosta de conversar do que sabe, de factos, e não apenas do que lê nas redes sociais.
Perdeu uma filha, a Rita, uma fatalidade que marca a sua vida e da sua família. Nunca se aprende a lidar nem se supera a perda de um filho, garante, mas todos os dias acorda a pensar no seu sorriso e no legado que deixou, sobretudo para a sua neta, a quem faz questão de mostrar o quarto para saber que a sua tia, que era psicóloga, deixou uma marca impossível de apagar.

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