Complexo Aquático de Santarém tem uma equipa de nadadores-salvadores que zela pela segurança das pessoas

Leo Neves e Ricardo Gonçalves coordenam a equipa de nadadores-salvadores do Complexo Aquático de Santarém e contam como é ser nadador-salvador numa altura em que os afogamentos em Portugal continuam a aumentar, muito devido a falta de cuidados e educação aquática básica.
No Complexo Aquático de Santarém, Leo Neves, de 43 anos, e Ricardo Gonçalves, de 32 anos, trabalham todos os dias para garantir a segurança das pessoas. Como o Dia Mundial de Prevenção do Afogamento se assinala a 25 de Julho, os coordenadores da equipa partilham com O MIRANTE as dificuldades da profissão, histórias marcantes e conselhos para a população. Leo Neves e Ricardo Gonçalves, vestidos com a típica t-shirt amarela e calções laranja, coordenam pela primeira vez este ano a equipa de cerca de 14 profissionais que assegura a segurança no complexo durante o Verão. À mão têm sempre os rádios para comunicar com os colegas, sendo interrompidos minuto a minuto com informações e pedidos de ajuda, o que demonstra a exigência da profissão.
Leo Neves, natural de Rio Maior, é nadador-salvador desde 2009 e trabalha no complexo há três anos. Ricardo Gonçalves está na profissão há oito anos, sempre no complexo da sua cidade natal. Ricardo Gonçalves confessa que sempre gostou do meio aquático, do sol e do Verão, por isso decidiu “juntar o útil ao agradável”. Leo Neves afirma que foi a vontade de salvar vidas que o fez escolher esta carreira, considerando ser esta a sua profissão de sonho. Ambos explicam que ser nadador-salvador é uma profissão exigente e que requer certificação e renovações constantes, de três em três anos. “Para além da responsabilidade de ser nadador-salvador, também somos coordenadores, o que implica fazermos toda a logística. Lidar com escalas, horários, conflitos de equipa ou reclamações de utentes não é pêra doce”, afirma Ricardo Gonçalves.
Questionados sobre os erros mais comuns dos utilizadores, não hesitam: a falta de bom senso e vigilância, tanto em praias como em piscinas. “Se não sei nadar ou se o mar está perigoso, não entro. Mas a maioria nem sabe identificar correntes e zonas de risco. Falta educação aquática desde cedo. Bastava as pessoas estarem mais bem informadas para se prevenir certas situações”, refere Leo Neves. Ricardo Gonçalves acrescenta que, nas piscinas, o maior erro é a distracção dos pais. “Basta um descuido e é o suficiente para uma tragédia”, alerta.
Momentos marcantes, dificuldades e valorização da profissão
Ambos já enfrentaram situações de alto risco ao longo da carreira. Leo Neves recorda o salvamento mais difícil que já fez, numa praia, quando teve de realizar manobras de reanimação a um homem em paragem cardiorrespiratória. “Foi a primeira vez que fiz reanimação real e é muito diferente do treino no boneco, mas felizmente resultou e o senhor sobreviveu sem sequelas. Também me recordo de ver um colega jovem de 18 anos, morrer no mar ao tentar salvar uma pessoa e custa muito quando situações destas acontecem”, partilha. Ricardo Gonçalves guarda na memória os gestos de agradecimento de quem ajudou, sublinhando que lidar com o stress faz parte da profissão, embora situações graves continuem a ser emocionalmente exigentes, onde a calma e treino é essencial.
Apesar de se sentirem realizados, ambos lamentam a desvalorização da profissão em Portugal, tanto a nível salarial como de progressão de carreira, o que consideram ser um dos principais motivos para a crescente falta de nadadores-salvadores, principalmente fora da época de Verão.
Cada vez mais mortes por afogamento
Segundo a Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores (FEPONS), 2025 já é o terceiro pior ano desde 2017 em mortes por afogamento, com 49 registadas até final de Maio. O Observatório do Afogamento da FEPONS confirma que estes números estão a ter uma tendência preocupante. O alerta fica dado por quem passa os dias de Verão com atenção máxima, como Leo Neves e Ricardo Gonçalves: “supervisão constante, respeito pelas regras e educação aquática podem fazer a diferença entre a vida e a morte”, afirmam.