Sociedade | 02-08-2025 21:00

É um erro abissal e uma machadada na vida de Alhandra e VFX o alargamento da ferrovia

É um erro abissal e uma machadada na vida de Alhandra e VFX o alargamento da ferrovia
Nelson Tereso, Mário Calado, Conceição Pereira e José Alves

O MIRANTE continua nesta edição a ouvir várias personalidades de Alhandra e Vila Franca de Xira sobre o polémico projecto da Infraestruturas de Portugal de duplicar a Linha do Norte, que causará impactos significativos na comunidade. Nelson Tereso, Conceição Pereira, José Alves e Mário Calado lamentam a falta de alternativas e há quem considere a postura da Infraestruturas de Portugal uma afronta aos munícipes do concelho.

O projecto que a Infraestruturas de Portugal (IP) tem para duplicar a Linha do Norte entre Alhandra e Vila Franca de Xira vai desgraçar a qualidade de vida de quem vive nessas localidades e há quem o considere um disparate e um erro abissal. O MIRANTE continua nesta edição a ouvir figuras das duas localidades sobre o que pensam do projecto que, tudo indica, entra em fase de discussão pública até ao final deste ano.
“É um disparate”, remata Nelson Tereso, advogado de Alhandra com escritório a poucos metros da ferrovia. Diz que o projecto vai meter a linha praticamente à porta dos moradores com a justificação de se ganhar apenas 20 minutos na viagem entre Lisboa e Porto. “O TGV é uma ideia megalómana. Para que precisamos da alta velocidade se temos aviões acessíveis para todo o lado? A estratégia devia passar por construir o novo aeroporto rapidamente e não andar a brincar ao TGV”, critica. Para o causídico, a postura de inevitabilidade da solução apresentada pela IP não tem em consideração a qualidade de vida das duas localidades nem o meio ambiente.
“Este processo anda às escondidas, fizeram uma apresentação pública em Alhandra com o presidente de câmara muito comprometido. Os políticos não têm feito o suficiente para defender as populações. Se fosse presidente da câmara batia-me contra isto. Podia não ter sucesso, mas seria o porta-voz da indignação das populações. Isso era garantido, porque as pessoas não têm tido voz neste processo, anda tudo muito abafado”, condena.
Já José Alves, provedor da Associação do Hospital Civil e Misericórdia de Alhandra, considera o projecto “um erro abissal” que vai descaracterizar Alhandra e Vila Franca de Xira. “Vão estragar todo o ambiente que ali existe e criar problemas às pessoas. As árvores são património necessário e que contribui para o ambiente. Em qualquer parte do mundo civilizado não se arrancariam aquelas árvores. É um erro enorme”, lamenta. Para o dirigente associativo, com histórico profissional na área da engenharia, o ideal seria construir um canal autónomo para a passagem da alta velocidade, ou pelas lezírias ou pela zona Oeste.
“Este projecto parece saído de meninos a jogar com Lego. Fazem-no e desfazem-no com facilidade, esquecendo-se que aqui os Legos são casas e pessoas. Não podemos brincar com isto. Não há impossíveis e consegue-se perfeitamente estudar outra solução que não fosse ferir de morte duas terras importantes, carinhosas, com ambiente agradável. Vão estragar tudo”, critica o dirigente, confessando ficar triste por ver que as forças políticas “assobiem para o lado” sobre o assunto. “Quem for intelectualmente honesto não pode estar com a IP, que não quer pensar numa solução correcta. Os políticos escondem-se ou não dizem o que verdadeiramente pensam”, lamenta.

“Duplicação da linha é uma machadada fatal para VFX”
Conceição César Pereira, vilafranquense de nascença e rosto conhecido da cidade pela dedicação de 44 anos e meio à farmácia de que foi proprietária, não tem dúvidas de que a duplicação da linha de comboio será uma machadada fatal na já frágil qualidade de vida de VFX. Diz que esta é uma causa sem partidos e, por isso, lamenta a fraca mobilização popular em torno do projecto e que o município, até à data, não tenha ainda assumido uma posição firme face às intenções da IP.
A duplicação da linha vai cortar o acesso ao rio Tejo, alerta, e dificultar ainda mais a ligação ao Jardim Constantino Palha, cujos acessos, diz, não estão devidamente acautelados. “Como se fará a entrada no jardim pela via sul? O portão está junto ao comboio e a outra entrada já se faz sobre parte que apanha o rio. As pessoas vão ficar compactadas e sem visão; apenas quem viver em altura é que terá vista para o rio Tejo”, considera.
Conceição César Pereira critica ainda a falta de abertura da Infraestruturas de Portugal às sugestões técnicas de engenheiros como Carlos Gaivoto, que defendeu soluções como a modernização da semaforização da linha. Acrescenta também que a duplicação não beneficiará o cidadão porque não há ganhos em se fazer menos 20 a 30 minutos numa viagem Lisboa–Porto.

Contrapartidas são insuficientes
Já as contrapartidas que a cidade de Vila Franca de Xira e a vila de Alhandra vão receber pela duplicação da Linha do Norte são insuficientes, tendo em conta o impacto da obra, diz o ex-autarca de Vila Franca de Xira, Mário Calado. A duplicação da linha vai influenciar negativamente a vida da população mas considera-a uma inevitabilidade. Mário Calado é crítico em relação à forma como o processo foi conduzido desde o início, com decisões técnicas e políticas que, segundo afirma, já estavam tomadas muito antes da apresentação pública do projecto. Recorda que, logo na primeira apresentação da IP, foi dito que a passagem aérea junto à Fábrica das Palavras já tinha sido construída a contar com esta intervenção ferroviária.
Mário Calado reconhece que a Câmara de VFX tenta minimizar os danos, mas considera que as alterações feitas ao projecto não são suficientes face à transformação profunda que está em curso. Admite que a intervenção na zona do Largo 5 de Outubro já não será tão agressiva como no projecto inicial, que a nova estação terá uma vista renovada e que, para eventos como a Feira de Outubro e o Colete Encarnado, o impacto será menor. Ainda assim, o ex-autarca acredita que a solução ideal passaria por um túnel, rejeitando os argumentos técnicos que apontam o rio Tejo como impedimento. “A tecnologia está muito avançada. O não enterramento da linha deve-se apenas ao custo financeiro”, lamenta.

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