Laço entre avós e netos resiste à distância e ao passar do tempo

Na maioria das famílias os avós assumem o papel de segundos pais, criando laços com os netos que permanecem mesmo com a distância. A propósito do Dia dos Avós, que se assinalou a 26 de Julho, avós e netos partilharam com O MIRANTE histórias e memórias marcadas por esta ligação única e repleta de amor.
Na tarde de 25 de Julho o pátio do Museu Diocesano de Santarém encheu-se de vida para celebrar o Dia dos Avós, assinalado no dia 26 do mesmo mês. Com as portas abertas à comunidade, o espaço recebeu dezenas de idosos de vários lares do distrito, num ambiente de festa com música e conversas muito animadas. Neste cenário acolhedor entre avós e netos, alguns partilharam com O MIRANTE o que é que caracteriza e torna especial e único este laço que une diferentes gerações.
Sentadas lado a lado, Maria José Sousa, de 85 anos, e a neta Filipa Sousa, de 16 anos, chamavam a atenção pela forma como conversavam, como se estivessem num mundo só delas. Vindas de São João da Ribeira, no concelho de Rio Maior, são o retrato perfeito da cumplicidade entre avó e neta. Filipa Sousa fala com entusiasmo sobre os ensinamentos que aprende com a avó, enquanto Maria José Sousa recorda os tempos em que cuidou dos netos enquanto os pais trabalhavam. Para si, amor de avó “é amor a dobrar” e foi como viver uma segunda maternidade, só que com mais tempo, menos pressão e muito mais serenidade.
Juntas fazem de tudo, mas é na cozinha que surgem os momentos mais especiais, conta a O MIRANTE Filipa Sousa. A neta recorda com entusiasmo as tardes passadas a fazer bolos e a aperfeiçoar a receita de puré, sendo o seu prato favorito o famoso empadão de carne da avó. “Só aprendi a fazer puré por causa dela e peço-lhe sempre para fazer o empadão de carne que mais ninguém sabe fazer como ela”, explica com um sorriso. Para ambas, mais do que as receitas, o que fica é o tempo passado a conviver e um amor entre avó e neta que, garantem, vai durar para sempre.
O amor que sobrevive à distância
Emília Casaca, de Verdelho, Achete, no concelho de Santarém, tem 86 anos e só há sete é que teve a felicidade de ser avó. Vasco, o seu único neto, vive em Lisboa com os pais, e as visitas são menos frequentes e mais curtas do que gostaria, mas isso não impede que o amor entre os dois floresça a cada reencontro. Com um sorriso no rosto, Emília Casaca fala das histórias inventadas que o neto lhe lê, dos desenhos que guarda com carinho e, com especial orgulho, de um colete que lhe costurou e que ele levou para a escola e se gabou aos colegas: “faço-lhe sempre umas camisas e uns coletes e ele fica sempre contente e orgulhoso de mostrar a toda a gente o que lhe faço. É um tesouro de menino e uma das minhas maiores alegrias!” partilha.
Mesmo com a distância a separá-los fisicamente, para Emília Casaca, o amor de avó nunca perde a força, não fazendo distinção entre o amor de mãe e de avó. Para si, ambos não se medem nem se explicam, sendo os filhos e o neto das maiores felicidades que a vida lhe deu.
Amor que resiste ao tempo
Tal como o amor de avós também o de neta é imensurável, sendo Fátima Pomar um exemplo perfeito. Com 80 anos, Fátima Pomar dedicou a vida à carreira e nunca teve filhos, mas mesmo assim faz questão de celebrar sempre o Dia dos Avós, em honra do amor que ainda sente pela sua falecida avó Ester. “Mesmo não tendo netos, este dia faz-me lembrar a minha avó e celebro-o em honra dela. É um dia especial para mim”, diz com emoção. Residente em Santarém, Fátima Pomar descreve a avó como uma mulher extraordinária, que se destacava pela elegância, carácter forte e ideias firmes, a quem apelidava carinhosamente como “Rainha Amélia”. Com alegria e brilho nos olhos, relembra inúmeros momentos que viveu ao seu lado, havendo uma memória em particular que ainda hoje a comove: uma toalha feita pela avó para o seu enxoval, terminada dias antes dela morrer inesperadamente. Pelo valor sentimental que carrega, Fátima Pomar nunca conseguiu usar a toalha, tendo em vez disso oferecido a peça a Nossa Senhora de Fátima, num gesto de devoção e amor. “Nunca consegui usá-la… era uma peça demasiado especial. A única pessoa que a merecia e era digna de a receber era a Nossa Senhora”, recorda emocionada.
Fátima Pomar fala da avó com a mesma ternura de uma neta que ainda sente saudades do colo e dos conselhos da avó, confessando que aproveita qualquer oportunidade para a homenagear. “Mesmo passado tantos anos, o amor que sinto pela minha avó continua vivo no meu coração, para sempre”, partilha com um sorriso carinhoso.

