Psicólogos discutiram em Santarém desafios da profissão e lamentaram falta de intervenção do Estado

Psicólogos do distrito reuniram-se com a bastonária e dirigentes da Ordem dos Psicólogos Portugueses para expor desafios da profissão, desde estágios precários à carência de profissionais no SNS.
A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) promoveu no dia 24 de Julho uma reunião com profissionais da área no Salão Nobre da Câmara Municipal de Santarém. Vindos de vários concelhos do distrito, psicólogos de diferentes áreas reuniram-se para conversar com a bastonária Sofia Ramalho e a sua equipa, num encontro que teve como principal objectivo identificar dificuldades na prática profissional e promover boas práticas.
Inserido na iniciativa “OPP +Próxima”, Sofia Ramalho explicou a O MIRANTE que estas reuniões e iniciativas são essenciais para conhecer as dificuldades reais no terreno, fortalecer a ligação entre a Ordem e os profissionais e garantir a melhoria dos serviços prestados, por todos os distritos do país. “Já fomos à ULS, ao Lar de Santo António, reunimo-nos com o executivo da câmara municipal e agora estamos aqui, para perceber as preocupações dos profissionais e como podemos ajudar”, vincou. Ao longo da sessão foram discutidos vários temas que preocupam os psicólogos, como a progressão na carreira, tendo a psicóloga escolar Laura Espírito Santo alertado para as dificuldades que os colegas mais jovens enfrentam actualmente. Sofia Ramalho explicou que, embora estas matérias sejam negociadas principalmente pelos sindicatos, a OPP tem intervindo junto dos decisores políticos, apresentando propostas para aumentar o número de psicólogos nas escolas e melhorar as suas condições de trabalho, especialmente no que toca ao tema da vinculação. “Temos mais de mil psicólogos sem vínculo e temos trabalhado para reduzir este número e melhorar as condições de progressão na carreira, mas infelizmente não temos a palavra final nesta matéria. Fazemos o que podemos”, frisou.
Outros dos temas levantados foi a falta de qualidade em certos estágios profissionais, com Fernando Firmino, psicólogo brasileiro residente em Rio Maior, a alertar para relatos de estágios que não incluem práticas psicológicas e casos em que orientadores cobram pela orientação. A bastonária reconheceu as preocupações levantadas e salientou que, embora a Ordem vigie e faça auditorias a estágios, não consegue fiscalizar individualmente todos os casos, sendo essencial que situações como estas sejam denunciadas imediatamente pelos estagiários.
A falta de psicólogos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi outro tema em destaque, havendo actualmente apenas cerca de 1100 psicólogos no SNS. Um número que Sofia Ramalho afirmou ser insuficiente para as necessidades reais da população. “Temos apresentado propostas para alcançar, pelo menos, um psicólogo por cada cinco mil habitantes. A realidade actual é que há um psicólogo para muitos milhares, o que sobrecarrega os profissionais”, referiu.
A sessão finalizou com vários participantes a trocarem contactos e partilhas de histórias e recomendações, ficando no ar o sentimento de que, apesar das dificuldades, encontros como este reforçam a rede de apoio entre os profissionais, relembrando Sofia Ramalho que a OPP promove sessões mensais de perguntas e respostas, convidando todos a participar.
Sector social tem dificuldade em manter e contratar psicólogos
A Bastonária da Ordem dos Psicólogos Portugueses alerta que o “sector social tem uma enorme dificuldade em manter e contratar psicólogos devido à situação de enorme precariedade que vive quem trabalha no sector. “É notável a dificuldade que as próprias direcções das Instituições de Solidariedade Social têm para manter os psicólogos e os restantes profissionais, devido à precariedade que vivem neste sector, onde os salários são muito baixos e as condições escasseiam. As direcções têm noção e querem alterar a situação, mas não conseguem, por falta de investimento financeiro do Estado. Os valores da tabela são muito baixos e muitos psicólogos estão contratados em programas que dependem de financiamentos de curto prazo”, explica Sofia Ramalho.
A Bastonária da OPP revela que “as próprias direcções das instituições estão preocupadas” com esta dificuldade e dizem ser “essencial” o trabalho dos psicólogos naquele contexto. “Estes psicólogos fazem um trabalho especializado e fundamental com as populações mais vulneráveis. Têm de ser valorizados. Ou vão encontrar outros locais de trabalho e as pessoas mais vulneráveis, como as crianças institucionalizadas, as mulheres vítimas de violência ou os idosos, vão ficar privados da intervenção, que é essencial, dos psicólogos. E esta população já lida com demasiadas perdas”, explica.