Roubos obrigam produtores de melão e melancia a dormir nos campos da Lezíria

Produtores de melão e melancia estão desesperados com a onda de furtos, uma situação que se arrasta há anos sem solução por parte das autoridades. O MIRANTE visitou algumas das propriedades visadas nos concelhos de Alpiarça e Chamusca e ouviu os lamentos dos que trabalham as terras de dia e têm de as vigiar durante a noite.
Há um mês que Luís Fidalgo não deita o corpo cansado na cama. Em vez disso, depois de um dia de trabalho nos 36 hectares de terreno que tem em Vale de Cavalos, concelho da Chamusca, pernoita no banco da carrinha na tentativa de conseguir dissuadir os ladrões que este ano voltaram a atacar, furtando cerca de 400 quilos (Kg) de melão. Dessa vez, conta, houve até quem visse o furto a acontecer mas quando o produtor chegou ao local já só encontrou o rasto de destruição. A associação de caçadores que se dedica por esta altura do ano à montaria ao javali tem sido, conta, uma grande ajuda, assim como a câmara térmica que transporta consigo na carrinha. “Através da câmara consigo vê-los ao longe mas quando ligo as luzes da carrinha desaparecem”, diz, sublinhando que maioritariamente os furtos devem ocorrer durante a noite, mas também acontecem de dia. “É verem que não está ninguém no terreno, entram e levam”, refere o empresário.
Também Joaquim Luís Vicente, produtor agrícola há 40 anos, tem sido prejudicado com esta onda de furtos que teima em regressar por esta altura do ano. “Não é novidade, só que parece que este ano está a ser mais complicado. Andamos saturados... temos de andar de dia no trabalho e à noite temos de andar a guardar os campos em vez de estarmos a descansar”, lamenta. Além de melões, meloas e melancias, os larápios têm furtado material agrícola, nomeadamente torneiras e cabos em cobre, e até pneus de motas, carteiras, dinheiro e os mantimentos que os produtores levam para se alimentarem durante o trabalho. No caso de Joaquim Luís Vicente, que cultiva 80 hectares de terra, levaram-lhe, há uns dias, torneiras em cobre no valor de 250 euros. Situação que impediu que regasse a produção até serem compradas e instaladas novas torneiras.
O produtor agrícola fez o que o dever manda: apresentou queixa no posto da Guarda Nacional Republicana contra desconhecidos, embora saiba que pouco ou nada valeu. Ressalvando que tem consciência que a Guarda não pode estar a toda a hora a guardar os campos, lamenta que quando alguns são apanhados a Justiça não lhes aplique sanções pesadas para que não voltem a cometer o mesmo delito dali a dias. “Há impunidade! Não há quem puna estas pessoas para não voltarem a fazer a mesma coisa”, diz revoltado. Os furtos constantes estão a gerar uma onda de desconfiança e receio que leva a que alguns agricultores andem munidos com ferramentas caso se dê uma situação de confronto com quem furta. “Qualquer dia ainda se dá uma tragédia”, alerta Joaquim Luís Vicente.
Em Alpiarça, no cruzamento entre a estrada do campo com a Estrada Nacional 368, a barraca de melões e melancias de João Carlos da Rama começa a compor-se pela manhã. Enquanto descarrega os produtos acabados de sair da terra, o produtor conta que ainda há três dias lhe furtaram meloas e, na semana anterior, melancias. Já no terreno ao lado do seu foram os fios em cobre a chamar a atenção dos criminosos. “Acontece todos os anos. Guardo eu isto, ando aqui de dia e noite. Venho às 05h30, saio às 22h00, janto e venho até por volta da 01h00 para guardar o que é meu”, diz, criticando já ter ligado para a GNR quando se estava a dar um furto e lhe terem dito, do outro lado da linha, que não havia ninguém para lá ir acudir. “Isto assim é difícil, dizem que não têm homens, telefonamos e não vêm”. Além do reforço de patrulhamento, os produtores defendem que alguns itinerários agrícolas deviam ser fechados ao trânsito, pelo menos durante a noite, pelas câmaras municipais, com excepção de viaturas autorizadas.
Produtos furtados vendidos na berma de bagageira aberta
Há casos, afirmam os produtores, em que o produto furtado acaba por ser posto à venda na beira da estrada em bagageiras abertas. Uns vão para longe das terras onde cometeram o crime, mas há quem se limite a ir até à Tapada e faça, ali mesmo- a poucos quilómetros dos campos- a venda ao público. Claro que quem compra não sabe, provavelmente, que está a levar para casa melões ou melancias furtadas mas, pedem os produtores, que contactem as autoridades caso desconfiem que se trata de uma situação dessas.

GNR tem Operação Campo Seguro a decorrer
Com o objectivo de aumentar a segurança de pessoas e bens no sector agrícola e “reprimir a prática de crimes de furto de máquinas e produtos agrícolas”, a GNR tem a decorrer acções de sensibilização e fiscalização, refere a O MIRANTE fonte oficial da Guarda. Decorrem também acções, no âmbito da Operação Produção Agrícola, para garantir a segurança na produção agrícola, condições de trabalho e legalização dos trabalhadores. Outro “dos objectivos é o reforço de patrulhamento”, destaca a mesma fonte, afirmando que, no entanto, o número de idas dos militares para as zonas de campo, em patrulha, depende sempre da capacidade de meios de cada posto.
No âmbito da Operação Campo Seguro, tal como O MIRANTE noticiou, a GNR deteve, nos dias 5 e 10 de Julho, seis homens, com idades entre os 18 e os 66 anos, por furto de produtos agrícolas no concelho de Alpiarça, tendo sido recuperada uma tonelada de melancia.