USF modelo C em Azambuja em risco de cair antes de arrancar

Cerci de Azambuja manifestou interesse junto da tutela para estabelecer uma parceria para uma Unidade de Saúde Familiar modelo C. Mas refeitas as contas, ao fim de alguns meses, a instituição diz que o pacote financeiro é curto para tanta despesa. No concelho de Azambuja, 91% da população não tem médico de família.
Foi anunciada e dada como garantida, nesta fase de campanha eleitoral, pelo Partido Socialista que governa a Câmara de Azambuja, mas a nova Unidade de Saúde Familiar (USF) modelo C em Azambuja está em risco de não avançar. Quem o diz é José Manuel Franco, na qualidade de presidente da direcção Cerci Flor da Vida de Azambuja, a instituição que fez uma manifestação de interesse junto do Ministério da Saúde, no início do ano, mostrando-se disponível para estabelecer um acordo de parceria.
O objectivo era claro: melhorar o acesso aos cuidados de saúde primários dos cerca de 18.700 utentes do concelho de Azambuja onde, actualmente, há apenas um médico de família e 91% da população não tem um clínico atribuído. E, além desta unidade, que se previa arrancar em Janeiro de 2026 com quatro médicos e ir avançando até aos 10, manter-se-ia, em simultâneo, o projecto Bata Branca, também gerido pela Cerci e que tem sido a tábua de salvação para os utentes sem médico de família.
No entanto, explica a O MIRANTE José Manuel Franco, o modelo de financiamento que é conhecido pela Cerci não garante condições para que possa avançar com a USF modelo C, por não ser capaz de cobrir as despesas que uma unidade dessas iria acarretar. “Os encargos com o corpo clínico aumentaram desmesuradamente, porque o que acontece hoje é que as unidades modelo B nivelaram [o valor de vencimento dos médicos] por cima. E os médicos vão para as USF modelo C mas querem nivelar pelas unidades modelo B”, afirma, reiterando: “face ao que é do nosso conhecimento, não temos condições de avançar”.
Financiamento do Estado não chega para as despesas
Depois de várias reuniões com a Unidade Local de Saúde do Estuário do Tejo, onde, conta, chegaram a estar outras instituições interessadas em avançar com o modelo mas que já saíram de cena, neste momento, sem uma actualização ao modelo de financiamento, também a Cerci de Azambuja irá pelo mesmo caminho. “Já saíram os outros e nós também já estamos à porta”, reitera o dirigente, sublinhando que a Cerci não pode “assegurar um serviço que não é da sua responsabilidade” e vir a ter, com isso, prejuízo.
“Fomos informados que havia uma revisão por parte do Ministério da Saúde relativamente a este programa de financiamento e assinatura do acordo de cooperação, mas ainda não nos chegou à mão”, diz ao nosso jornal, lembrando que a Cerci tem e mantém o compromisso de assegurar o Bata Branca até 31 de Dezembro. Um projecto que, segundo o último relatório de contas, deu um prejuízo de mais de 20 mil euros à instituição que se dedica, de génese, ao apoio de pessoas com deficiência.
“A instituição só queria ter resultado zero e não está a ter. Está a ter um resultado negativo e isto não pode continuar. A instituição não tem que dar lucro, porque é sem fins lucrativos, mas também não pode acumular prejuízos e está a ter prejuízos na Saúde”, lamenta o dirigente.
José Manuel Franco avança ainda que o actual executivo socialista que gere a Câmara de Azambuja se disponibilizou para “dar um contributo para viabilizar essa unidade, nomeadamente a nível das instalações”, que seriam as do Centro de Saúde de Azambuja. Mas isso só não basta, garante, reiterando que o modelo de financiamento precisa de ser ajustado ao panorama actual pelo Ministério da Saúde. Até porque, além dos recursos humanos, todos os consumíveis, desde a parte informática, a medicamentos, desinfectantes e todo o material indispensável ao normal funcionamento da USF ficariam a cargo da instituição.