Javalis continuam a aproximar-se perigosamente das zonas urbanas e a destruir culturas
Os javalis têm causado estragos em vinhas de Alenquer, alimentando-se de uvas brancas e de moscatel, e aproximando-se cada vez mais de zonas habitacionais. Apesar dos avistamentos, os caçadores e a Protecção Civil Municipal garantem que a situação está controlada.
Produtores de vinho do concelho de Alenquer reportaram estragos nas suas vinhas provocados por javalis. Alguns casos aconteceram na Abrigada e em Cabanas do Chão, com os animais a surgirem sobretudo ao anoitecer e durante a madrugada. A O MIRANTE, o coordenador da Protecção Civil Municipal de Alenquer, Tiago Espírito Santo, explica que se nota cada vez mais a tendência dos javalis se aproximarem de áreas habitacionais. No entanto, salienta, não há histórico no concelho de situações graves. “Ciclicamente, aparecem munícipes com queixas. Na Serra de Ota, por exemplo, na zona de Olhos de Água. Na Quinta do Bravo, já tivemos reporte de avistamento de javalis num campo em frente a alguns prédios”, conta.
Apesar de avistamentos, o número de javalis não está a aumentar e a população está controlada. De acordo com o presidente da Associação de Caçadores de Olho Alvo, Jorge Romão, o pico do número de animais ocorreu durante a pandemia. “É fácil, hoje, dizerem que há mais javalis, mas não é verdade. As pessoas vêem um javali ou dois e dizem que há muitos, porque eles estão a ficar já mais perto das casas e do ser humano, o que, numa espécie selvagem, não se verificava há décadas. Acontece o mesmo com os coelhos e as perdizes, em que os refúgios passaram para junto das habitações. Há menos javalis, são é mais vistos”, explica.
Javalis alimentam-se de uvas e destroem vinhas
No concelho de Alenquer existem pelo menos quatro associações de caçadores. A de Olho Alvo realiza quatro montarias por ano, de Outubro a Fevereiro, para caçar javalis, entre outras espécies. Os animais não estão sempre no mesmo local e, por isso, os caçadores têm de procurar nos eucaliptais e matos densos onde costumam dormir. Uma das zonas de referência é a Serra de Montejunto e a Serra Galega. Sendo Alenquer uma zona de vinhedo, os animais aproveitam para se alimentar das uvas brancas e do moscatel, por exemplo, danificando as culturas. Jorge Romão refere que os controlos feitos são os autorizados e obedecem a regras que são cumpridas.
Em 2023, o município implementou o Plano Estratégico e de Acção do Javali, que conta, desde essa altura, com a ajuda dos caçadores para reduzir a espécie. Na altura, os números revelados pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) apontavam para um total estimado de javalis a rondar os 277 mil, podendo atingir, na hipótese aproximada mais intensiva, os 391 mil a nível nacional. Jorge Romão lamenta que haja cada vez menos pessoas interessadas em caçar. “Culpo o Estado porque o declínio das espécies pequenas vem desde há 15 anos e nunca se fez um estudo para saber o porquê. As associações de caçadores são das primeiras a alertar para um fogo; estamos no meio rural e não temos o apoio estatal que devíamos ter. Além disso, o Estado não reconhece que andamos a alimentar espécies com o nosso dinheiro”, sublinha. A Associação de Caçadores de Olho Alvo conta com 245 sócios, mas caçadores são 195. Nas montarias aparecem caçadores de várias zonas do País e só assim é que se consegue realizar a actividade de caça.
Produtores de milho de Abrantes também sofreram prejuízos
Conforme O MIRANTE tem vindo a noticiar, Abrantes é outro dos concelhos mais afectados pela presença dos animais, com queixas dos produtores de milho. Em 2023, o presidente do município, Manuel Valamatos, mostrou-se preocupado com a frequência com que os animais são avistados não só em zonas urbanas como em freguesias rurais do concelho e avançou, na altura, com medidas para mitigar o problema, como o controlo da espécie através da caça.
Durante os anos de 2019 e 2020, 52% dos acidentes rodoviários envolvendo javalis ocorreram em estradas nacionais, um número absoluto superior a 500 ocorrências nesse item. O acondicionamento do lixo doméstico de forma apropriada ou a reconfiguração do espaço verde na periferia das cidades, são medidas que podem mitigar o aparecimento do javali.