Secretário de Estado acusado de maltratar chefe de registos de cavalos comprou espaço com cavalariças na Golegã

O secretário de Estado da Agricultura, João Moura, envolvido numa polémica por alegados insultos a uma chefe de serviços da administração veterinária, que passou a tutelar há menos de um mês por delegação do ministro, fez um investimento milionário com a aquisição de um espaço com condições privilegiadas na capital do cavalo.
João Moura aparentemente não tem interesses directos na criação de cavalos, mas a aquisição do espaço com cavalariças na Golegã, no epicentro da feira do cavalo com projecção internacional, levanta algumas questões.
O secretário de Estado da Agricultura, que está envolvido numa polémica relacionada com a plataforma online de registo de equídeos em que alegadamente maltratou a chefe de serviços da área por o sistema não estar a funcionar, tem evidentes sinais de que esta é uma área em que tem interesse. O governante não é criador nem comerciante de cavalos, apesar de ser dono de alguns, mas recentemente fez uma compra milionária de um edifício no espaço nobre da mais importante feira do cavalo do país, na Golegã.
João Moura, que à partida está a contas com a justiça devido à queixa-crime da chefe da Divisão de Identificação, Registo e Movimentação Animal, Ana Manso, que garante ter sido insultada pelo político de Ourém, adquiriu o espaço que era de uma família de renome numa zona privilegiada do Largo do Arneiro da Golegã, por mais de um milhão de euros. O espaço tem vindo a ser sujeito a avultadas obras de beneficiação que incluem cavalariças. Pelo que O MIRANTE apurou, as cavalariças não têm sido usadas, mas estão em condições de serem utilizadas na Feira Nacional do Cavalo ou na Expoégua, que são certames com projecção internacional.
Com estas condições, segundo pessoas que conhecem o espaço, o secretário de Estado, que mantém o cargo de presidente da Assembleia Municipal de Ourém, pode movimentar-se entre criadores e individualidades importantes do mundo equestre e até ter algum poder de influência junto deles. João Moura só recentemente passou a ter competências na área da veterinária e foram necessários poucos dias para arranjar um conflito com quem chefia os serviços de Divisão de Identificação, Registo e Movimentação Animal e que passou a estar na sua dependência. Recorde-se que o ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, delegou no político do PSD de Ourém, por despacho de 12 de Agosto, a tutela da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), passando também a supervisionar a Direção-Geral do Desenvolvimento Rural.
O secretário de Estado tem vindo a negar que tenha insultado a dirigente numa reunião online. Mas há uma gravação dessa reunião que decorreu por vídeo-conferência, o que levou o governante, quando soube, a insurgir-se contra o facto de os serviços da DGAV terem gravado o que se passou, salientando que tal foi feito sem o seu conhecimento e autorização. Natural de Mação, mas há muitos anos radicado em Ourém, e eleito deputado do PSD pelo círculo de Santarém, função que não assumiu para ocupar o cargo no Governo, João Moura alega que se limitou a confrontar os serviços com falhas na plataforma informática.
João Moura tem feito a sua vida mais entre cargos políticos, de vereador e deputado, apesar de no seu currículo dizer ter sido professor e administrador de empresas. Tem com a mulher uma empresa de projectos de arquitectura, gestão de projecto e obra, declarando no registo de interesses que suspendeu as acções na Metroaoquadrado, que funciona em Fátima. Ou seja, na prática, continua a ser sócio da mulher e continua com as acções, mas não pode usufruir delas, pelo menos directamente já que por via do casamento beneficia da sociedade com Ana Moura Rodrigues.
À Margem/opinião
João Moura e o minotauro
João Moura é um cidadão de Ourém a quem os seus munícipes dão a honra de ser presidente do principal órgão autárquico do concelho. Nas duas últimas eleições legislativas foi promovido a secretário do estado, mas nada disso e do seu poder económico evita que ele seja uma pessoa pouco inteligente politicamente, com tendência para cacique, pessoalmente com um ego tão exagerado que diria ser homem capaz, cada vez que monta um cavalo, de sentir a alma cheia como se montasse um minotauro.
A vida política está cheia de gente boa, carregada de boas intenções, mas que facilmente resvala para a idiotice, e põe-se a jeito para ser alvo de sarcasmo que faz duvidar o mais inocente dos cidadãos de que vivemos num mundo onde ninguém sobrevive debaixo de uma máscara.
João Moura está metido (outra vez) numa embrulhada com um chefe de serviços de um organismo do Estado que o caso já ganhou contornos de novela. A Senhora diz que fez queixa-crime do governante e o governante diz que nunca houve qualquer razão para isso. Até saber que a conversa tinha sido gravada, e reclamar que não tinha dado autorização para a gravação. Não é caso para esperarmos sentados para ver no que vai dar a imaginação do cacique? JAE.