Associação de Caçadores de Carnota alerta para dificuldade em controlar javalis

Associação de Caçadores de Carnota alerta para o aumento da população de javalis no concelho de Alenquer, que provoca estragos na agricultura e junto a habitações. Estudos indicam que a população cresce cerca de 40% ao ano, tornando a sua gestão difícil. O controlo exige recursos especializados e comporta elevados custos, tornando a caça e o acompanhamento da população complexos e incertos.
A freguesia de Carnota, no concelho de Alenquer, tem sido uma das mais afectadas com o aumento da população de javalis. Os animais têm causado estragos na agricultura, aparecido junto a habitações e provocado alguns acidentes rodoviários. Existem relatos de avistamentos na zona da Quinta do Leão e na estrada que vai do Casal das Balas à Serra.
Os últimos dados do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) indicam uma sobrepopulação de javalis em Portugal, estimada em cerca de 300 mil exemplares. Para controlar esta situação, o ICNF tem implementado medidas como a divulgação de editais que permitem a caça para correcção de densidades, incluindo o aumento da taxa de abate e a autorização para caça de espera em diferentes períodos do ano.
No entanto, as medidas não são suficientes, porque os caçadores não têm recursos materiais e financeiros suficientes para fazer face ao problema, conforme explicou a O MIRANTE Pedro Esteves, vice-presidente da Associação de Caçadores de Carnota. “A caça exige grandes recursos. Cada montaria necessita de várias matilhas de cães, entre 150 a 200 animais, e equipamentos especializados, como carabinas e miras de visão nocturna, cujo custo inicial pode chegar aos dois mil euros. Mesmo assim, os resultados são incertos, e muitas vezes as montarias terminam sem abater nenhum animal”, explica.
População cresce 40% ao ano
O caçador aponta para os estudos do ICNF, da Universidade de Aveiro e do Clube Português de Monteiros, que indicam que a população de javalis cresce cerca de 40% ao ano. Para manter o controlo, os caçadores deveriam abater pelo menos 30% dos animais existentes, mas a tarefa é complexa devido à movimentação nocturna e à densidade do mato, como acontece no concelho de Alenquer. Além disso, a circulação dos javalis por várias freguesias e concelhos torna difícil a gestão da população, aumentando o impacto nas culturas agrícolas.
“Há queixas de agricultores que são efectivamente prejudicados, mas que não colaboram, não estão dispostos a assumir qualquer custo para reduzir o problema. Não é que tivessem de pagar para caçar, mas sim apoiar aqueles que têm licença para o fazer”, lamenta Pedro Esteves.
Questionado sobre medidas alternativas, o caçador afirma que não existem soluções fáceis. O que poderia alterar o cenário seria o aumento dos apoios ou métodos de caça estáticos, como armadilhas, solução que o caçador não defende. Assim, a Associação de Caçadores de Carnota restringe a caça a dez noites de lua cheia, permitindo alguma igualdade entre quem tem meios técnicos e quem não tem. “Dos 80 associados da associação, cerca de 15 tem cevadouros e fazem esperas noturnas para tentar abater os javalis. Os restantes associados, sem recursos, não conseguem caçar com a mesma eficácia, o que justifica a necessidade de limitar as montarias a períodos específicos para garantir igualdade de oportunidade entre todos”, diz.
