Os truques dos autarcas para aguentarem as maratonas das festas populares

Entre croquetes e imperiais, os autarcas ribatejanos trocam a gravata pela resistência à gula e revelam como se desdobram para estarem com o povo sem perderem a amizade com a balança. O Verão transforma-se numa corrida de festa em festa onde é preciso gerir pratos sucessivos, lidar com a insistência por mais um copo e compensar o tempo longe da família que nem sempre acompanha a agenda.
De Ourém a Azambuja, passando pela Golegã e Tomar, os presidentes de câmara destes municípios têm uma das maiores provas de resistência física do que é estar próximo da população no Verão, altura em que se multiplicam as festas e os convívios. Luís Albuquerque, Silvino Lúcio, António Camilo e Hugo Cristóvão, partilham o mesmo dilema: conciliar a vida pública com a vida privada. Uns levam os filhos e as esposas às festas, outros aproveitam as poucas horas livres para matar saudades. Entre dietas difíceis de cumprir e refeições repetidas em série, todos reconhecem que ser autarca no Verão exige mais do que resistência política, sendo quase um desporto de alta competição.
Luís Albuquerque não vai a mais que um almoço por dia
O presidente da Câmara de Ourém, Luís Albuquerque, impõe a si próprio limites para o que considera momentos propícios para estar com as pessoas e procura não estar em dois almoços no mesmo dia, porque se vai a um lado “é para estar e não para passar”. Até porque o autarca considera que as festas populares são os “momentos propícios para estar com as pessoas”, mas admite que há limites. “Só vou a um almoço por dia porque se vou a um lado é para estar e não para passar”, explica.
Luís Albuquerque considera que é um período de “maior desgaste a nível físico, o que obriga a uma atenção redobrada com a alimentação” para que o objectivo de manter a linha não seja uma miragem. Entre jantares e conversas de rua, vai tomando boa nota do que lhe dizem os munícipes, sejam pequenos problemas do dia-a-dia ou assuntos que os preocupam. E sempre que pode leva a família consigo. “É também uma forma de convívio, porque sabemos que muitas vezes eles ficam para trás”, explica.
Médica aconselha autarca da Golegã a fingir que come
Na Golegã, António Camilo diz que tenta resistir aos excessos com uma receita curiosa da sua médica: “fingir que estou a comer”, sobretudo ao fim da tarde. A técnica, admite, nem sempre resiste à vontade de degustar um croquete ou pastel de bacalhau, sobretudo quando a hora é crítica para o estômago. A tentar fazer dieta, porque precisa de perder uns quilinhos, confessa-se “bom garfo ao almoço” e apreciador ocasional de vinho tinto e imperial.
Com a ajuda do vice-presidente, António Camilo desdobra-se quando as iniciativas apertam o calendário e, mesmo assim, garante que, por vezes, é difícil ir a todas as festas. Quando complica petisca-se num lado e come-se outra coisa noutro sítio. Mas é no ritmo de trabalho que mais se sente o peso. O do corpo e o da vida familiar e é a parte da família que mais o preocupa porque é cuidador de uma filha com doença do foro psiquiátrico. “É preciso ter espírito para isto, sempre com um sorrisinho”, diz.
Festas non-stop e a barriguinha de Silvino Lúcio que não engana
O presidente da Câmara de Azambuja, Silvino Lúcio, não esconde as dificuldades de gerir tantos convívios. Já chegou a ter três almoços no mesmo dia e ir a todos. A estratégia é num, comer as entradas; no outro, o prato principal e no terceiro, a sobremesa. É sempre non-stop. A mulher é quem lhe aponta os resultados mais evidentes pois “está sempre a dizer que tenho a barriga maior”, revela. Mas recusar comida não é opção: “Se não comermos, as pessoas pensam mal de nós. Ficam impressionadas se não comermos”.
Com 36 anos de carreira política e quase cinco décadas de casamento, garante que estar junto da população é “a melhor forma de ganhar conhecimento” e de ter respostas na ponta da língua, porque constatou e está a par da realidade. Os filhos foram “criados à margem” de uma vida feita entre turnos de fábrica e presidências de junta. “A minha mulher queixava-se, mas é do meu feitio gostar de estar com as pessoas e de me meter muito nas coisas, e isso rouba-nos tempo à família”, conclui.
Hugo Cristóvão diz que uma imperial na mão pode gerar uma conversa importante
Em Tomar, Hugo Cristóvão tenta evitar as maratonas gastronómicas. “Não sou aquele presidente que vai a todas as iniciativas. Vou a uma, duas ou três, conforme calha”, admite. Para ele, as festas são uma extensão da vida normal. Já o fazia antes, enquanto cidadão, com o seu grupo de amigos ou a família. “Mais facilmente irei com eles do que com os colegas autarcas ou de partido”, revela. Adepto de frango assado, defende que uma ida ao supermercado pode ser um momento de auscultação ou de conversa com os munícipes.
O autarca reconhece que não anda a correr de festa em festa, mas admite que num ambiente descontraído, com “uma imperial na mão”, pode ser o momento que origina uma conversa importante. Hugo Cristóvão sempre foi de uma forma física “mais redonda” e, por isso, gostaria de ter algum tempo para caminhadas e actividades desportivas, que actualmente não consegue fazer. Apesar disso está ciente de que quem é presidente de câmara sabe que tem sete dias e quase as 52 semanas do ano muito preenchidas.


