Centro de Luta contra o Fogo em Arruda dos Vinhos: um projecto pioneiro que ficou pelo caminho
Pensado há mais de duas décadas como espaço de formação nacional e treino para bombeiros e agentes de segurança, o Centro Nacional de Luta Contra o Fogo no Alto da Carvalha nunca chegou a ver a luz do dia e o espaço degradado tem merecido queixas da comunidade, que há muito pede uma intervenção no imóvel.
Há 26 anos que as instalações do Centro Nacional de Luta Contra o Fogo de Arruda dos Vinhos, também chamado de Cenafogo, estão ao abandono, degradadas e a criação do centro sem perspectivas de sair do papel, com um espaço devoluto que há muito gera queixas da comunidade por se encontrar perto de um forte das Linhas de Torres Vedras, património nacional. Era para ser um espaço nacional de eleição para treinar e formar bombeiros e agentes de segurança para o combate ao fogo, que proporcionasse também formação prática em diversas áreas da segurança pública e industrial e protecção civil em geral, mas a ideia acabou por colapsar no início da década de 2000 por falta de financiamento.
Ficou o edifício, no Alto da Carvalha, à espera de melhores dias e que agora o município vai comprar por 150 mil euros. O pedido de autorização prévia de assunção de um compromisso plurianual visando a compra do edifício foi aprovada na última reunião do executivo, com a abstenção dos dois vereadores do PSD que consideraram o negócio uma manobra eleitoralista a poucas semanas das autárquicas. Já em 2020 o município aprovara uma proposta para celebrar um contrato promessa de compra e venda do imóvel, já na altura considerando a necessidade de resolver uma situação que se arrastava há muitos anos. “O que foi anunciado na altura foi uma vontade da compra acontecer e isso só foi possível agora do ponto de vista processual, só agora está tudo resolvido”, explicou Carlos Alves (PS), presidente do município.
Segundo o autarca, o processo de compra foi demorado e envolveu muitas situações que tiveram de ser resolvidas previamente. “Foi um processo moroso e difícil. Depois de resolver o processo da compra teremos oportunidade de pensar num projecto para o espaço, de todos para todos”, afirmou o autarca, que recusou a ideia de se tratar de uma proposta eleitoralista. Carlos Alves confirma haver ideias para o espaço, mas quer abrir com a comunidade um processo de discussão alargado, ao invés de apresentar apressadamente um projecto antes das eleições. “É uma infra-estrutura com grande potencial, com o Forte da Carvalha logo ao pé, uma das fortificações das Linhas de Torres Vedras que são classificadas de monumento nacional. Isso exige uma grande ponderação e reflexão de todos”, defendeu.
O PSD não está tão optimista, com João Cavaco, vereador daquela força política, a considerar que a proposta, apresentada nesta altura, “parece outro processo de intenções sem objectivos planeados e delineados”.
As cinzas de um projecto
O Centro Nacional de Luta contra o Fogo foi um projecto único e diferenciador a nível nacional, destinado a realizar formação na área da protecção civil. A sua construção chegou a começar mas parou em 1997, apenas dois anos depois de ter começado, devido a problemas financeiros associados ao projecto. Na altura, para constituir o centro, criou-se a empresa Cenafogo, com capitais privados de duas empresas, um técnico espanhol (que se previa vir a ser o director do centro), da Liga dos Bombeiros Portugueses, do município de Arruda dos Vinhos e dos bombeiros de Arruda.
O terreno custou perto de 60 mil euros, em dinheiro actual, tendo-se gasto outros 349 mil euros na construção de infra-estruturas e de quatro edifícios, incluindo uma torre de treinos, salas de formação e balneários, mas surgiram dificuldades para o financiamento do resto das obras, que acabaram por parar depois de um acumular de dívidas ao empreiteiro e aos bancos. Chegou a haver interesse do Governo em desenvolver o projecto, numa segunda fase, pela mão do então secretário de estado Armando Vara, mas tudo não passaram de intenções e o espaço morreu sem nunca ter chegado a arrancar, ficando apenas os esqueletos dos edifícios.