Sociedade | 15-09-2025 15:00

Grande Lisboa pressiona preços da habitação em Samora Correia, Salvaterra e Coruche

Grande Lisboa pressiona preços da habitação em Samora Correia, Salvaterra e Coruche
Nuno Olival, um dos sócios-gerentes da Olival Imobiliária - foto O MIRANTE

A subida do custo da habitação na Área Metropolitana de Lisboa está a empurrar famílias para o Ribatejo, provocando aumentos significativos nos preços dos imóveis em concelhos como Benavente, Salvaterra de Magos e Coruche. Imobiliárias da região confirmam que a procura disparou, em grande parte por compradores que chegam com maior capacidade financeira.

O fenómeno não é novo, mas ganhou expressão nos últimos anos: quem não consegue comprar casa em Lisboa ou na primeira linha da área metropolitana procura alternativas a meia hora da capital. Samora Correia, Porto Alto, Salvaterra de Magos e Coruche estão entre as zonas mais procuradas, confirmam agentes do sector.
“Vendemos cerca de 50 a 60 casas por ano e diria que 90% dos compradores vêm da zona de Lisboa”, afirma Bruno Martins, team leader da Ribatec Imobiliária, em Coruche. Segundo o agente, muitas destas famílias chegam com capitais próprios, depois de venderem imóveis na capital por valores elevados, o que cria um desequilíbrio face aos locais e aos jovens que dependem de crédito bancário. “Quando competem no mesmo mercado, ficam em grande desvantagem, porque a bagagem financeira é outra”, sublinha.
A pressão tem efeitos visíveis. “Começámos a vender um apartamento T2 por 135 mil euros, no empreendimento das Baleias, em Coruche, e em pouco mais de um ano, o último que vendemos foi na ordem dos 175 a 180 mil. Há casas que, em dois anos, valorizaram 70 mil euros”, aponta Bruno Martins. A falta de construção nova, acrescenta, agrava o problema. E, sem oferta suficiente, o mercado está à rédea solta.
Em Samora Correia, onde a Olival Imobiliária está implantada há 29 anos, esta tendência também se verifica. Nuno Olival considera inevitável que o aumento dos preços em Lisboa transborde para os concelhos vizinhos, comparando a procura a uma pedrada no charco que vai abrindo auréolas à volta. O empresário recorda que, durante décadas, o concelho de Benavente foi visto como “o parente pobre de Lisboa”, o que afastou investimento na construção. “Hoje temos falta de mão-de-obra e de habitação, como em todo o país, mas aqui a necessidade desta última é muita”, vinca, considerando no entanto que Samora Correia não é cara, não há especulação, mas admite que o preço de custo subiu.
Na tomada de decisão de uma família que se queira fixar entre Samora Correia e Vila Franca de Xira, como exemplifica, talvez a escolha recaia em Vila Franca pela questão da oferta dos transportes. Mas, apesar das críticas à falta de uma boa rede de transportes públicos no concelho de Benavente, Nuno Olival sublinha que a proximidade da capital e a qualidade de vida continuam a ser trunfos. “Estamos a meia hora de Lisboa, temos alternativas de acesso rodoviário pelas três pontes (Lezírias, Recta do Cabo e Vasco da Gama) e ainda não sofremos da construção desmesurada em altura. Temos todas as condições para vingar”, garante.
Não é à toa que as empresas logísticas estão a tentar implantar-se em Samora Correia e Benavente; porém, o problema, alerta, pode estar na capacidade de resposta para acomodar as pessoas que se vão fixar. “No dia em que vier toda essa gente para viver aqui, quero saber para onde vai morar”, vaticina.

Infra-estruturas devem acompanhar aumento de população
As limitações não se esgotam nas casas. Bruno Martins, de Coruche, lembra que a pressão populacional obriga também a reforçar serviços em prol do bem-estar da comunidade. Se uma localidade receber mais 200 ou 300 pessoas, as infraestruturas de saúde, de educação, entre outras, vão ter de acompanhar. Bruno Martins, que diz conhecer melhor os mercados de Coruche e Salvaterra de Magos, perspectiva que, nos próximos dois ou três anos, a escalada dos preços deverá continuar, salvo a influência de algum factor externo, como uma guerra.
Para Nuno Olival, o concelho de Benavente precisa ainda de mais comércio e serviços, mas só a massa crítica da população permitirá esse passo. “Costumo dizer que temos tudo em cima da mesa. Se conseguimos pôr tudo na panela, é outra coisa. Mas acredito que isto pode mesmo ser um oásis”, conclui, enfatizando a questão identitária, através de tradições e festas, as quais perduram em Samora Correia e em concelhos da Margem Sul ao contrário dos dormitórios de Lisboa.

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