Para evitar partos em ambulâncias os bombeiros deviam poder parar em qualquer unidade hospitalar

Responsável pelo Comando Sub-Regional da Lezíria do Tejo diz que os bombeiros estão preparados para realizar partos, mas não de todo o tipo. Em entrevista a O MIRANTE, a propósito do aumento de partos em ambulâncias na região, Hélder Silva considera que uma ambulância não é um local, por excelência, para ocorrem em nascimentos e defende que devia ser autorizada a paragem em unidade hospitalar mesmo sem urgência obstétrica.
Com o encerramento de urgências de ginecologia e obstetrícia alguns dias da semana em hospitais de referência da região, o transporte de mulheres grávidas em trabalho de parto é mais demorado, aumentando o risco do nascimento ocorrer durante o trajecto mais longo. Há, na região, casos de grávidas transportadas de Coruche para o Hospital de Évora e de Rio Maior para Leiria num ano em que o número de nascimentos em ambulâncias de corporações de bombeiros do Ribatejo já ultrapassou a dezena. Em entrevista a O MIRANTE, a propósito deste aumento do número de partos fora das maternidades, o comandante Hélder Silva, do Comando Sub-Regional da Lezíria do Tejo da Protecção Civil, assegura que os bombeiros dispõem do material necessário e de formação para realizar partos, mas, alerta, não de todo o tipo. É por isso fundamental haver diferenciação de meios e informação clara por parte de quem liga 112.
Considerando que a solução ideal passa pelo não encerramento temporário de urgências de obstetrícia, Hélder Silva defende que na impossibilidade de isso acontecer as ambulâncias que transportam grávidas em situação de parto iminente deviam ser autorizadas a parar no hospital mais próximo, mesmo não tendo essa valência a funcionar. “Teremos sempre mais condições numa unidade hospitalar do que numa ambulância. Apesar de termos todas as valências e termos tudo o que é necessário para fazer um parto, certamente que o faríamos melhor com a ajuda de outros meios, como um médico ou enfermagem. O parto dentro de uma ambulância em plena via é o último recurso que podemos dar a alguém”, diz, sublinhando que “um médico, mesmo não sendo de obstetrícia, conseguiria fazer uma avaliação mais correcta sobre se há tempo para transportar a grávida em segurança ou se seria melhor ficar e fazer o parto em ambiente hospitalar”.
Hélder Silva, que está no cargo desde 2023 depois de ter comandado os Bombeiros de Caxarias, faz saber que lhe tem chegado “informação dos vários comandantes de que o número de partos tem vindo a aumentar” e que por esse motivo têm intensificado as formações. “Os bombeiros são muito adaptativos e é normal que a formação interna seja intensificada para situações que estão a ser mais recorrentes”, diz. No entanto, mesmo com essas formações e kit de partos, disponível nas ambulâncias, podem ocorrer casos complicados para os quais os bombeiros não estão preparados para intervir. Realçando que “toda a gestão da emergência médica, é da responsabilidade do INEM”, acrescenta que caso alguma situação corra mal “a responsabilidade é do Sistema Integrado de Emergência Médica”.
Momento de tensão mas muito feliz
Ajudar a trazer ao mundo um bebé é descrito pelos bombeiros que passam pela experiência como um momento único e de grande emoção. Mas não ficam de fora a ansiedade e o nervosismo tanto nos operacionais como nas próprias grávidas que dificilmente imaginaram que iriam ter o bebé numa ambulância. “Aquilo que é a expectativa de algumas grávidas é que vão chegar à unidade hospitalar, que vão ter direito a epidural, que vão contar contracções... estar numa ambulância não é a mesma coisa”, vinca.
Hélder Silva é um dos que já passou pela experiência, há muitos anos, quando os partos em ambulância eram uma raridade ou pelo menos não tão badalados. “Transportava uma grávida de Caxarias para Coimbra, eram muitos quilómetros e aconteceu durante caminho. E não tínhamos a preparação que se tem hoje, nem as próprias ambulâncias tinham as condições actuais”, conta, salientando que “felizmente evoluiu-se muito nesse aspecto”.