Sociedade | 03-10-2025 18:00

Gado bravo à solta é ameaça constante em Vila Nova de São Pedro

Gado bravo à solta é ameaça constante em Vila Nova de São Pedro
Em Julho de 2020 alguns populares reuniram-se em Vila Nova de São Pedro junto à antiga sede de freguesia para protestar e alertar contra a situação e passividade das entidades competentes - foto arquivo O MIRANTE

Toiros de ganadarias locais estão constantemente à solta a desafiar a segurança de pessoas e bens em Vila Nova de São Pedro. Recentemente, Jorge Correia ficou com a viatura danificada depois de a atravessar à frente de um toiro para proteger de uma investida um idoso de 88 anos.

Francisco Fialho, pequeno agricultor de 88 anos, temeu pela vida quando se viu indefeso num frente a frente com um toiro bravo que o surpreendeu no terreno que cultiva, em Vila Nova de São Pedro, concelho de Azambuja. Enfurecido, o animal preparava uma investida e “o pior só não aconteceu” porque Jorge Correia estava no sítio certo à hora certa. Apercebendo-se da situação, atravessou a viatura que conduzia entre o toiro e o seu alvo, que acabou por sofrer várias amolgadelas e ficar com faróis partidos devido à força das investidas do animal. “Da maneira que o boi se enfureceu contra o jipe, matava o homem se não me tenho metido à frente”, conta a O MIRANTE o agricultor que estava de visita aos terrenos onde tem vinhas plantadas e que também são frequentemente visitadas e destruídas pelos animais, pertença de duas ganadarias locais ligadas à mesma família.
O susto que os dois agricultores viveram parece ser o novo normal por aquelas terras onde os toiros bravos são presença assídua em terrenos alheios e estradas. Há quem seja confrontado pelos animais no carro, a caminho de um dia de trabalho, ou numa caminhada ao final do dia. “Ainda há dias um homem esteve duas horas em cima de um pinheiro à espera que o boi se fosse embora e umas senhoras, que estavam a andar na estrada, ligaram para a GNR”, afiança Jorge Correia. Também ele e Francisco Fialho trataram de chamar a Guarda ao local, naquele final de tarde de 23 de Setembro, para apresentarem queixa e alertarem mais uma vez para um problema que se arrasta há anos sem solução.
Ao local deslocou-se uma patrulha e dois representantes das ganadarias em causa, tendo um deles, segundo Jorge Correia, assumido a propriedade do toiro que estava à solta e que danificou a viatura. O problema, prossegue o agricultor, é que apesar das queixas da população, o gado bravo continua a sair fora dos limites da ganadaria constituindo uma ameaça real para a população, nomeadamente idosos que perante animais daqueles não têm hipótese de fuga. Naquela tarde, conta, o toiro acabou por ser atingido com um dardo tranquilizante disparado pelo seu dono e amarrado a uma árvore com uma corda. “Depois não sei como foi levado dali. Mas quando foi amarrado, depois de várias tentativas, já a GNR tinha ido embora”, detalha Jorge Correia.

“Qualquer dia temos de andar armados”
As denúncias e preocupação da população resultaram, em Março de 2023, numa reunião na qual estiveram presentes várias entidades como a GNR, Câmara de Azambuja, Junta da União de Freguesias de Manique do Intendente, Vila Nova de São Pedro e Maçussa e Direcção-Geral de Veterinária. Mas, como alerta e lamenta o presidente da junta, Avelino Correia, anos depois “está tudo na mesma” com “vacas, bois e cabrestos a andar na rua”. “Fizeram zero, apesar de dizerem que aquela quantidade de animais não pode estar ali. Qualquer dia temos de andar armados na freguesia para nos defendermos. Estamos a falar de bois agressivos que já foram corridos em touradas”, diz a O MIRANTE o autarca, que tem ouvido as preocupações dos fregueses que têm de viver debaixo de um constante clima de insegurança.
Em Fevereiro de 2024, a DGAV, dizia em resposta às questões enviadas por O MIRANTE que foi constituído um “grupo de trabalho”, envolvendo várias entidades, “para efectuar um diagnóstico sobre as causas da fuga dos bovinos e determinar quais as explorações envolvidas que possam ter viabilidade para regularização da actividade pecuária e quais devem ser notificadas para apresentarem um plano de despovoamento. Voltámos agora a questionar a DGAV sobre o assunto, tendo a entidade afirmado que “as explorações em apreço têm sido regularmente controladas pela DGAV, sendo que o último controlo efectuado no âmbito do Plano de Protecção Animal, ocorreu a 23 de Dezembro de 2024. Das não conformidades encontradas, foi o produtor notificado e temos acompanhado a implementação das acções correctivas, onde se inclui o reforço da vedação da exploração, exigido por nós, durante aquele controlo”.

Queixas antigas mas está tudo na mesma

Em Julho de 2020 alguns populares reuniram-se em Vila Nova de São Pedro junto à antiga sede de freguesia para protestar e alertar contra a situação e passividade das entidades competentes. Um dos presentes foi precisamente Francisco Fialho, à data com 83 anos, que se queixava de ter ficado sem nada para colher depois de os animais terem entrado no seu terreno e destruído toda a colheita. Fez queixa, mas acabou arquivada, segundo disse a O MIRANTE. Contactado pelo nosso jornal, um dos proprietários das ganadarias dizia suspeitar que alguém ia deliberadamente abrir o portão para soltar os animais e que os lesados podiam ir junto de si reclamar os prejuízos.

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