Coruche regulariza retroactivos e implementa turnos de 12 horas nos bombeiros municipais

A greve dos Bombeiros Municipais de Coruche durou quatro dias e foi suspensa depois de acordo que resulta de negociações prolongadas entre o município e o Sindicato Nacional de Bombeiros Profissionais.
A paralisação dos Bombeiros Municipais de Coruche chegou ao fim depois de a câmara municipal assumir compromissos considerados decisivos pelo Sindicato Nacional de Bombeiros Profissionais (SNBP). O anúncio da suspensão da greve, que tinha começado a 15 de Setembro, foi feito após uma reunião nos Paços do Concelho entre a estrutura sindical, o presidente da autarquia, Francisco Oliveira, e o comandante do corpo de bombeiros, Nuno Coroado.
De acordo com o presidente da câmara, o município irá proceder ao pagamento dos retroactivos salariais desde Janeiro de 2025, resultantes da reclassificação da carreira e da aplicação do Decreto-Lei n.º 51/2025, de 27 de Março. “O acréscimo de trabalho foi significativo para os serviços de recursos humanos, mas conseguimos regularizar a situação. Este mês de Setembro todos os retroactivos serão pagos”, assegurou Francisco Oliveira, acrescentando que o processamento será feito já no dia 25.
Outro ponto central das reivindicações dos bombeiros prende-se com a organização do trabalho. O sindicato defendia há muito a implementação dos turnos de 12 horas, em substituição do sistema de 8 horas, que considerava desajustado à realidade operacional. A 18 de Setembro foi publicado despacho municipal que regulamenta este novo regime, a aplicar a partir de 6 de Outubro.
“O direito à greve é legítimo, mas também foi importante termos um processo de diálogo com postura positiva e proactiva de ambas as partes. Produzimos o horário de 12 horas em consonância com a vontade dos bombeiros”, disse o presidente da autarquia, convicto de que “cumpridos estes desideratos houve lugar à suspensão definitiva da greve”. Apesar da paralisação, Francisco Oliveira garantiu que os serviços mínimos foram sempre assegurados. “O socorro às populações não esteve em causa. Em emergências, acidentes ou outros cenários, os bombeiros de Coruche continuaram a demonstrar o seu profissionalismo e competência”.
O presidente do SNBP, Sérgio Carvalho, confirmou a decisão, realçando que o compromisso da câmara em implementar os turnos de 12 horas e regularizar os salários permitiu encerrar esta fase de luta. “Sempre defendemos este modelo de organização por se adequar melhor às exigências do serviço”, vincou.
Estrangulamentos legais e distância geográfica colocam mais pressão
O presidente da câmara, em declarações a O MIRANTE, chamou ainda a atenção para problemas de fundo que afectam os corpos de bombeiros municipais. O estatuto da carreira, segundo Francisco Oliveira, “aguarda revisão há mais de dez anos” e mantém regras que dificultam o recrutamento. Um dos entraves mais evidentes é o limite de idade de 25 anos para ingresso. “Abrimos concurso para quatro vagas, concorreram sete candidatos, entraram três, e nenhum deles é de Coruche”, exemplificou, defendendo alterações legislativas que permitam maior flexibilidade e rapidez nos processos de admissão.
A situação é agravada pela distância dos principais serviços hospitalares. Coruche encontra-se a 40 quilómetros do Hospital Distrital de Santarém, mas em freguesias como Couço a distância chega aos 60 quilómetros. “Isto representa mais desgaste, mais horas de empenho e maior pressão sobre as nossas corporações. Só seria mitigado se tivéssemos em Coruche um serviço de urgência básica com médicos e equipamentos”, defendeu o autarca, lembrando que a sul do distrito de Santarém, em concelhos como Coruche, Benavente e Salvaterra de Magos, não existem unidades de saúde hospitalar de proximidade.