Presidente do Rancho de Riachos prepara saída do cargo em ruptura com o município

Em rota de colisão com a Câmara de Torres Novas por causa de pedidos de transporte negados, Paulo Pereira anunciou que se prepara para sair de cena acreditando que a sua presença como dirigente do Rancho Folclórico “Os Camponeses” de Riachos prejudica a colectividade. Município rejeita acusações de discriminação.
O presidente do Rancho Folclórico “Os Camponeses” de Riachos, Paulo Sérgio Pereira, foi à última reunião do executivo da Câmara de Torres Novas, realizada a 24 de Setembro, anunciar que no início do próximo ano vai deixar o cargo por considerar que a colectividade está a ser prejudicada pela sua presença na relação institucional com o município. Em causa estão, segundo disse, pedidos de utilização de autocarro e motorista da autarquia para deslocações do rancho que não foram atendidos. Uma situação que não se verificou com outras colectividades, às quais foi cedido o serviço.
“Acho que deve ser por ser eu o presidente e então venho-vos dizer que vai ser o meu último ano à frente do rancho. Vou ser solidário com vocês e vou sair para ver se no próximo mandato os meus colegas têm mais sorte”, afirmou Paulo Pereira. O dirigente considerou que não pode ser coincidência não terem tido em quatro anos resposta positiva a pedidos de transporte, alegando que houve má vontade por parte dos serviços da câmara. Sobre o último e único pedido feito por este rancho no ano corrente, a justificação dada para a resposta negativa foi a falta de motorista.
O dirigente sublinhou que o rancho de Riachos, que actua por vários pontos do país, não está dependente de subsídios para sobreviver, mas lamentou que tenha de despender de verba própria em cada deslocação para participar em eventos, quando está prevista em regulamento a cedência de transporte municipal. Até porque, salientou, trata-se muitas vezes de valores significativos, como os 1.420 euros que pagaram por uma recente deslocação para o Algarve.
“Estar à frente de uma associação sem fins lucrativos não é pêra doce. Fui tomado de ponta (…) não consigo levar mais quatro anos a ser rejeitado”, acrescentou, anunciando que sairá depois da celebração do aniversário da colectividade que este ano terá gasto cerca de cinco mil euros em transportes, sendo que o município de Torres Novas lhe concede um apoio anual na ordem dos 5.400 euros. Valor que, para o dirigente, “ajuda a manter” as contas equilibradas mas não cobre as despesas existentes.
Vereador nega discriminação
O apontar de dedo aos serviços do município não agradou ao vereador João Trindade, que considerou graves as palavras do dirigente. “É grave vir a uma reunião de câmara acusar de discriminação. Não houve nestes quatro anos nenhuma discriminação quanto ao Rancho de Riachos, nem eu admitia que nenhum técnico que trabalhasse comigo [beneficiasse] um grupo em detrimento de outro”, disse, sublinhando que aquela autarquia recebe centenas de pedidos de transporte e que se não conseguiram daquela vez foi devido a factores que nada têm a ver com a entidade que fez o pedido.
João Trindade, responsável pelo pelouro dos transportes, fez saber que está aberto concurso público para a contratação de mais um motorista e lembrou que foi adquirido pelo município um novo autocarro. Aludiu ainda à existência de uma verba para as colectividades que não conseguem luz verde para os seus pedidos de transporte, ressalvando que é limitada e que se esgotou no decorrer do ano corrente.
Perante a justificação, Paulo Pereira disse que nesse caso o rancho que dirige “teve sempre azar”, quer com os pedidos de transporte quer com essa verba de compensação que nunca receberam. “Vocês não gostam é que venham enfrentá-los”, concluiu.
O presidente da Câmara de Torres Novas, Pedro Ferreira, sugeriu ao presidente da direcção do rancho que enviasse uma carta a enumerar os pedidos que foram feitos e não tiveram resposta positiva, para serem analisados e ver se há forma de compensação possível. Também o vereador do PSD, Tiago Ferreira, interveio lembrando que apresentou uma proposta para que houvesse verba disponível para as associações não ficarem dependentes da disponibilidade do autocarro. “Faria todo o sentido que houvesse possibilidade de contratar serviço privado comparticipado pela câmara, regulamentado, para ser justo para todos”, defendeu.