Sociedade | 02-11-2025 12:00

Francisco Pinto Balsemão: a grande referência do Portugal democrático

Francisco Pinto Balsemão: a grande referência do Portugal democrático
Francisco Pinto Balsemão esteve duas vezes na região a convite de O MIRANTE e recebeu o Galardão de Personalidade do Ano Nacional em 2016 - foto arquivo O MIRANTE

Francisco Balsemão veio duas vezes à região a convite de O MIRANTE. A primeira vez foi para comemorar o aniversário com a equipa do jornal e, de seguida, a nosso convite, proferir uma conferência na Escola Superior de Tecnologia de Abrantes. Em 2016 atribuímos-lhe o Galardão Personalidade do Ano Nacional, que foi entregue em Almeirim, com a presença do ministro da Cultura, João Soares, que lhe entregou o Galardão.

Francisco Pinto Balsemão é uma das maiores referências do jornalismo em Portugal. A ligação a O MIRANTE começou num congresso de jornalistas em Macau, em 1996, quando ficamos lado a lado na assistência, ouvindo falar sobre a importância das gráficas no futuro da imprensa. Pouco tempo depois recebeu-nos na Duque de Palmela, em Lisboa, sede do Expresso na altura, num gabinete que era do tamanho da nossa redacção em Santarém. Foi lá que ouvimos um dos primeiros grandes elogios ao nosso trabalho: “O MIRANTE está 10 anos avançado em relação à concorrência”. Nessa altura ainda tínhamos concorrência, hoje, infelizmente, mais de 80% dos jornais locais e regionais fecharam.
Um dia fizemos-lhe um convite para se juntar à equipa de O MIRANTE num dos nossos aniversários. Dois dias antes pediu desculpa por não poder comparecer e perguntou se podia ser no ano seguinte. E assim foi. Em 2016 esteve em Santarém a cortar o bolo do nosso aniversário. Convidámo-lo para uma conferência que marcámos na ESTA, em Abrantes, para que a sua deslocação ao Ribatejo não fosse só em nosso proveito, e enchemos uma sala com alunos que o ouviram falar sobre a sua experiência de vida; o ponto alto da sua palestra foi quando convidou os alunos a interessarem-se pela vida local, esquecerem os holofotes das televisões, a não se iludirem com o jornalismo das elites, com a ideia de que todos somos jornalistas para um dia aparecermos na televisão. Já depois da conferência, nos jardins do edifício da ESTA onde ainda se deixava fotografar, alguns jovens estudantes perguntavam-lhe como deviam proceder para integrarem a equipa da SIC, do Expresso ou da revista Visão. Balsemão ria-se e virava as suas atenções para elogiar o fotógrafo de O MIRANTE que se esforçava para o tentar fotografar a cada passo.
Nesse dia O MIRANTE assinou com a direcção da ESTA um protocolo que nunca se cumpriu. Ainda hoje vamos recrutar ao mercado licenciados da ESTA que nunca visitaram a redacção de O MIRANTE. Apesar das boas relações institucionais ainda vivemos numa região onde é difícil derrubar fronteiras.
Do seu discurso na ESTA no dia do nosso aniversário recupero estas palavras: “Balsemão falou da “versão pessimista” dos media, dizendo que a concentração afecta a pluralidade”, que “todos os poderes têm a tentação de controlar os conteúdos”, que os jornalistas “são mal preparados e superficiais”, e que a busca de audiências e a concorrência “prejudicam a qualidade”. “Vejam a tese da conspiração, os poderes a atacarem de todas as maneiras, directa e indirectamente, através das agências de comunicação, os jornalistas mal preparados e a psicose da busca de audiências e da concorrência a prejudicar a qualidade”, referiu. A esta versão, Balsemão contrapôs a “versão optimista”, em que os responsáveis das empresas e os jornalistas se preocupam com os resultados “porque sabem que sem lucros não há independência”. Nesse sentido, referiu a busca de audiências e a concorrência como “positivos”, porque “obrigam a melhorar os produtos” e “aguçam a criatividade”, a concentração como um fenómeno que não é específico do sector, que a macro-media não inviabiliza a micro-media, que a pluralidade está defendida também nas novas tecnologias e que existem jornalistas mal preparados ou superficiais como acontece com profissionais nas outras áreas.

Prémio Personalidade do Ano de O MIRANTE
Em 2016, Francisco Pinto Balsemão veio a Almeirim receber o Galardão de Personalidade do Ano Nacional que O MIRANTE atribuiu, pela primeira vez, numa iniciativa que, nesse ano, já ia na sua 11ª edição. Discursou durante mais de meia hora com a presença do Ministro da Cultura, João Soares, que aceitou o convite de O MIRANTE para lhe entregar o prémio. Sentado ao nosso lado na primeira fila da plateia, João Soares aguentou a cerimónia até ao fim e, antes de subir ao palco, perguntou-nos: “quem é que organiza esta cerimónia e quanto é que vocês investem nesta iniciativa?”. Dissemos-lhe que fazíamos tudo com a prata da casa, que o jornal tinha uma equipa multidisciplinar, habituada a “carregar pianos”, e ele desfez-se em elogios. No palco fez jus ao convite e elogiou a amizade antiga que o ligava a Francisco Pinto Balsemão, assim como realçou o respeito e amizade que sempre existiu entre a família Soares e a família Balsemão.
Nessa altura já O MIRANTE tinha assinado com a Impresa uma parceria que ainda hoje se mantém, tanto ao nível da distribuição de O MIRANTE no Expresso, em todos os concelhos da nossa área de influência, como ao nível da edição online.
Desde há muitos anos que Francisco Pedro Balsemão e Joana Salgado Emídio tomaram contam da parceria, mas a ligação com a redacção do Expresso e com a administração da Impresa nunca deixou de ser acompanhado de perto por quem a iniciou. O Expresso é o maior e mais prestigiado jornal que se publica em Portugal, com uma organização sem paralelo, mas O MIRANTE tem uma equipa de trabalho ao nível da distribuição, das assinaturas e comercial que, algumas vezes, serviu de exemplo para a equipa que trabalha na Impresa. Não somos os melhores em nada do que se faz na imprensa em Portugal, mas somos talvez os que melhor sabemos produzir e vender um jornal que, não sendo de distribuição nacional, é muitas vezes procurado por quem se interessa pela informação em regiões diferentes daquelas onde trabalhamos.

As manchetes do jornal Expresso
Num congresso de jornalistas realizado no Cinema S. Jorge, em 2017, conversámos sobre o futuro da imprensa na varanda do cinema, entre dois cigarros fumados a plenos pulmões. Um “penetra” obrigou Francisco Balsemão a dizer claramente que chegava de conversa, que ele estava também perante o novo CEO do grupo, apontando para Francisco Pedro Balsemão que ouvia a conversa e tentava não intervir. Como é evidente, o “penetra” só tinha mal para dizer e defeitos para apontar.
No III Congresso dos Jornalistas Portugueses na Culturgest, em Lisboa, de 26 de Fevereiro a 1 de Março de 1998, Francisco Balsemão foi provocado por um jornalista sobre o que se passava na redacção do Diário Popular, que na altura ainda era dirigido pela família. O jornalista que interveio ultrapassou todos os limites de uma conversa para um congresso de jornalistas. Depois de falar e interrogar fez-se silêncio na sala. Francisco Pinto Balsemão matou a conversa com uma frase: “a roupa suja lava-se em casa”, e o congresso continuou os trabalhos e nunca mais se ouviu o jornalista.
Num encontro de patrões da comunicação social num hotel à beira Tejo, em Lisboa, estivemos integrados num pequeno grupo de empresários quase meia hora à espera do também já falecido Joaquim Oliveira, que tinha comprado o grupo que detinha o “DN” e o “JN”. Nessa altura também já a Construtora do Lena se fazia representar por ser proprietária do jornal I e de alguns títulos da imprensa regional que foi comprando por todo o país. Os outros grandes patrões da altura (Cofina e Impresa) brincavam com a situação, uma vez que a pontualidade dos novos patrões era tudo menos britânica.
Estamos a gastar papel com algumas memórias que temos dos mais de 30 anos que comparecemos a quase todas as iniciativas onde se discutia o futuro da imprensa em Portugal, com ou sem ministros, na grande maioria das vezes quando vivíamos em tempo de “vacas gordas”. Guardo para o fim aquela que para nós terá sido a maior provocação de Francisco Pinto Balsemão, pouco depois de nos conhecermos e de nos encontrarmos com alguma regularidade nas reuniões que, nos últimos 10 anos, ou deixaram de se realizar ou realizam-se só entre os grandes grupos: “Se quisermos comprar O MIRANTE quanto é que ele vale nesta altura?”. A resposta foi pronta; não está à venda, queremos ser parceiros, mas com autonomia para que cada um de nós faça o melhor que sabe fazer nos seus mercados e com as suas marcas. Percebemos que ficou satisfeito com a resposta, e hoje percebemos ainda melhor o alcance da sua pergunta, que era também uma simpática “rasteira”.
Por último, ou as histórias nunca mais acabam: Francisco Pinto Balsemão é conhecido por nunca interferir no trabalho dos jornalistas do Expresso. Somos testemunhas disso. Falamos algumas vezes de forma crítica sobre as manchetes do jornal, o dele e o nosso, que se dedicavam mais vezes à política que aos assuntos de sociedade. Ele limitava-se a dizer que já tinha gasto toda a sua influência, mas que ainda não tinha desistido de lutar contra essa tendência no Expresso, e nós aproveitávamos para lhe roubar informação e perceber como é que era trabalhar com a equipa do maior e mais influente jornal português.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal