Assalto ao Museu do Louvre faz recordar roubo da Casa dos Patudos em Alpiarça
O espectacular assalto ao Museu do Louvre, de onde foram roubadas jóias de ourivesaria de valor incalculável, só tem paralelo em Portugal com o assalto à casa Museu dos Patudos, em Alpiarça, em 1998. Na altura o museu com 80 mil peças coleccionadas por José Relvas, das mais valiosas do país, estava, como agora, sem conservador, e na noite do assalto o guarda também não foi trabalhar o que facilitou a vida dos gatunos. Apesar de relógios e faianças roubadas nunca terem aparecido, os quadros foram recuperados oito anos depois em Itália.
Quando a Casa dos Patudos Casa-Museu dos Patudos, em Alpiarça, foi assaltada há 37 anos, não havia um conservador a gerir aquela que constituía a segunda maior colecção de arte do país, a seguir à Gulbenkian. A agora designada Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça está outra vez sem conservador depois da saída de Nuno Prates, responsável pelo espaço desde 2011, que esteve de baixa médica antes de terminar funções. Para a saída contribuiu a falta de interesse do executivo socialista que ganhou a câmara em 2021 no profissional que vinha do tempo da gestão CDU. A actual autarca Sónia Sanfona optou por fazer um protocolo de voluntariado com Fernando Batista Pereira, professor doutor da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, que se aposentou do ensino há dois anos, com 70 anos de idade, e que tem como missão “preparar o museu para as exigências dos públicos do Século XXI”.
O protocolo com o catedrático foi assinado em Julho no âmbito do designado programa de voluntariado cultural, criado para que “personalidades de reconhecido mérito, sem qualquer contrapartida financeira, colaborem com o município na designação da estratégia do património cultural municipal. Com um papel de consultor, a autarquia atribuiu também ao professor funções de coordenação científica, com vários objectivos, como o de “tornar explícita, ao nível da exposição permanente, a personalidade do fundador, magnata da agricultura, político republicano, diplomata e coleccionador José Relvas em todas as dimensões. Outra função é, ao nível da exposição permanente, dar enfoque à importância da obra do arquitecto Raul Lino na realização da própria Casa dos Patudos, além de, num vasto leque de tarefas, ser responsável também por dar formação aos funcionários.
Alguns dos mais de 12 mil visitantes anuais da casa, ainda se lembram do maior roubo de obras de arte em Portugal e que teve um desfecho surpreendente e fora do habitual. Na madrugada de 21 de Fevereiro de 1988 foram roubadas cerca de seis dezenas de peças, num valor estimado, nos dias de hoje, de aproximadamente quatro milhões de euros. O assalto à Casa-Museu dos Patudos ocorreu durante a noite em condições estranhas e que ficaram sempre por esclarecer. Os assaltantes entraram por uma porta do rés-do-chão, que estava mal fechada, numa noite em que o guarda-nocturno, ao contrário do que era habitual, não pernoitou no local. Os ladrões tiveram tempo para tudo, utilizando durante o assalto ferramentas que se encontravam no museu.
As obras roubadas pareceram ter sido escolhidas a dedo, o que leva a crer que o roubo terá sido devidamente preparado por profissionais que conheciam os cantos à casa e sabiam o que procuravam. Na altura em que a Casa-Museu foi assaltada não possuía conservador - desde 1962 - e o inventário das cerca de 80 mil peças que constituem o importante espólio estava desactualizado, não existiam fotografias das peças e não estavam divididas por temas nem havia relação das medidas de cada uma delas. Apesar destas contrariedades, e ao contrário do que é habitual nestes casos, os quadros roubados acabaram por aparecer ao fim de oito anos.
O estudo de Delacroix para quadro exposto no Louvre tinha sido roubado em Alpiarça
O desfecho pouco provável só foi possível graças ao trabalho de José António Falcão, indigitado conservador do museu em 1993, com a ajuda de um fotógrafo escalabitano, da Foto-Gomes, que possuía fotografias dos quadros. Com essas fotos conseguiram ampliar as imagens que entregaram posteriormente à polícia. Do conjunto de relógios não havia fotografias, o que tornou impossível recuperá-los, assim como as peças de faiança (cerâmica). Entre as peças roubadas e que foi recuperada estava um estudo de Delacroix para o quadro “A morte de Sardanáplo” - existente no Museu do Louvre, em Paris -, considerada uma das peças mais valiosas do museu e cujo valor no mercado poderá rondar os 250 mil euros.
Os quadros, entre eles uma pintura de Rembrandt, considerada uma das mais importantes da Casa dos Patudos, foram encontrados em 1995 pela polícia italiana perto de uma igreja na cidade de Milão. Os quadros hoje estão em exposição na Casa dos Patudos, mas o processo de recuperação foi moroso. Depois de informados pela polícia italiana (Carabinieri) que os quadros tinham sido encontrados, o presidente da Câmara de Alpiarça da altura, Raúl Figueiredo, decidiu que seria uma funcionária da autarquia a ir a Itália reconhecer as obras. A funcionária teve dificuldade em reconhecer os quadros, o que dificultou a situação. Apesar do trabalho árduo do fotógrafo e do conservador da casa da época acabou por ser o Instituto Português de Museus a ficar com os louros da recuperação dos quadros roubados.
Circuito museológico “José Relvas entre os seus”
Em 2011 abriu um novo circuito museológico intitulado “José Relvas entre os seus”, em que os visitantes podem, desde essa altura, visitar os espaços privados da casa, como os quartos, que não estavam abertos ao público. A visita é sempre guiada e pode ser feita em várias línguas, nomeadamente inglês, francês, alemão e espanhol. Os meses de Verão são aqueles em que têm mais visitantes individuais e estrangeiros. O museu recebeu uma menção honrosa do Projecto SOS Azulejos pelo trabalho de conservação e restauro do azulejo que se encontra à entrada da casa-museu e que retrata cenas agrícolas. Recebeu também outra menção honrosa da Associação Portuguesa de Museologia por um projecto internacional desenvolvido em parceria com o Agrupamento de Escolas José Relvas, no âmbito do Programa Comenius.


