Diabetes tem vindo a crescer entre as crianças e adolescentes
No concelho de Alenquer estão identificadas duas dezenas de crianças com diabetes tipo 1, todas acompanhadas pela equipa de saúde escolar e pela Associação de Diabéticos do Concelho de Alenquer. A prevalência da doença tem vindo a aumentar, acompanhando a tendência nacional e internacional. A associação reforçou recentemente o apoio clínico e prepara novas acções de sensibilização para combater mitos e promover a prevenção.
No concelho de Alenquer estão identificadas duas dezenas de crianças com diabetes tipo 1, ou seja, insulino-dependentes. Todas são acompanhadas pela equipa de saúde escolar, com plano de saúde individual actualizado, sendo ministrada formação macro e micro a docentes, não docentes e às equipas que acompanham estas crianças.
Trata-se de um trabalho acompanhado de perto pela Associação de Diabéticos do Concelho de Alenquer (ADCA), que este ano vai proceder a um levantamento do número de crianças da comunidade escolar com maior probabilidade de desenvolver a doença, à semelhança do projecto “Um Dedo que Adivinha” da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, cujo objectivo é detectar precocemente a diabetes.
“Infelizmente há cada vez mais crianças com diabetes. Por exemplo, nos Estados Unidos existem 352 mil crianças e adolescentes com menos de 20 anos que têm diabetes tipo 1. Em Portugal, em 2023, estavam registadas 38 mil pessoas com diabetes tipo 1. Na faixa etária infantil, entre 3 mil e 4 mil crianças menores de 15 anos tinham já um diagnóstico de diabetes tipo 1. Estimamos que cerca de 10% da população portuguesa tenha diabetes, sendo que, nas crianças, a tendência é para o aumento do número de casos, perto de 2% ao ano”, explicou a O MIRANTE o presidente da ADCA, José Lança.
Infecções e factores ambientais entre as causas da diabetes infantil
A Direcção-Geral da Saúde (DGS) afirmou, em 2024, que estava a avaliar um projecto-piloto para rastrear a diabetes tipo 1 nas crianças no momento da vacinação, por volta dos cinco anos, uma vez que actualmente já é possível, através da detecção de anticorpos, perceber se existe ou não probabilidade de desenvolver a doença. De acordo com José Lança, este projecto ainda não avançou. “Nem sempre as escolas se apercebem da importância que devem dar a este assunto. Temos de envolver os directores das escolas e os próprios professores com os alunos, para explicarem o que é a doença. É complicado para as crianças verem que outra usa uma seringa e, por isso, é essencial que o aluno em causa tenha também apoio psicológico para a sua integração”, sublinha.
Quanto ao facto de algumas crianças padecerem de diabetes tipo 1 sem factores hereditários, tal poderá dever-se a processos infecciosos. Ou seja, a doença pode surgir após uma gripe ou outras doenças. Os factores genéticos, auto-imunes e até ambientais podem contribuir para o aumento dos casos na infância. “Existem suspeitas de que a exposição precoce a certos alimentos, como cereais, antes dos quatro meses, complicações neonatais, icterícia e infecções virais na infância possam desencadear o processo auto-imune. E depois há o estilo de vida, o crescimento rápido e o excesso de peso”, explica o presidente da associação.
Associação aumenta capacidade de resposta aos doentes
A Associação de Diabéticos do Concelho de Alenquer (ADCA) é parceira da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal e, desde Setembro, passou a realizar nas suas instalações, em Alenquer, tratamentos ao pé diabético. Até ao momento já foram efectuados mais de três dezenas de tratamentos a sócios, evitando que estes tenham de se deslocar a Lisboa.
Os tratamentos decorrem, por agora, uma vez por mês, podendo a sua periodicidade aumentar consoante a procura. Os utentes que recorrem a este serviço são, sobretudo, dos concelhos de Alenquer, Vila Franca de Xira e Torres Vedras, tendo em conta que, desde as Caldas da Rainha até Lisboa, não existe nenhuma associação com estas valências. Em breve, a ADCA poderá também vir a realizar consultas de medicina geral e familiar direccionadas para doentes diabéticos em situações mais críticas, uma vez que, devido à falta de médicos no Serviço Nacional de Saúde, muitas vezes não há resposta atempada para estes casos.
Persistem ainda mitos associados à doença, como a ideia de que apenas fica com diabetes quem consome muitos doces — o que não corresponde à verdade. O pão, as batatas e o álcool elevam rapidamente os níveis de glicemia, podendo também desencadear a doença. Para combater a desinformação e promover uma maior literacia em saúde, a associação prevê realizar, em 2026, mais palestras e iniciativas que ajudem a esclarecer a população sobre a diabetes e a sua prevenção.
Só algumas especialidades podem prescrever sensores e injectáveis
Desde Agosto apenas algumas especialidades médicas (endocrinologia, nutrição, medicina interna, pediatria e medicina geral e familiar) podem prescrever injectáveis e sensores de glicose. A medida surgiu após o uso indevido de medicamentos por pessoas não diabéticas, o que levou à escassez de fármacos como o Ozempic, muito procurado por quem pretende perder peso.
Os medicamentos da classe GLP-1 são comparticipados pelo Estado em 90%, enquanto a comparticipação dos sensores pode atingir os 85%. No caso das bombas de insulina, apenas são comparticipadas para crianças, uma vez que os equipamentos de nova geração representam um custo elevado, de vários milhares de euros.


