Onda de solidariedade para ajudar Vítor Henriques a ter uma casa digna
Vítor Henriques vive numa casa sem água, electricidade, janelas e praticamente sem mobiliário. De Alverca do Ribatejo a Vila Chã de Ourique, a sociedade civil respondeu ao apelo com uma onda de solidariedade.
A viver numa casa sem as mínimas condições de higiene e habitabilidade, em Santarém, Vítor Henriques começou a receber ajuda da população para melhorar as suas condições de vida. Após o seu caso ter sido noticiado em O MIRANTE, desencadeou-se uma onda de solidariedade vinda de pessoas de vários concelhos da região que estão dispostas a ajudar o homem de 64 anos com materiais de construção, janelas, fogão, mobiliário, roupas, alimentação, entre outros bens.
Se Vítor Henriques tinha poucas ou nenhumas esperanças de conseguir melhorar a sua condição de vida, esboça agora um sorriso - ainda que tímido - quando recebe, na manhã de 4 de Novembro, das mãos de Fernanda Violante, casacos e camisolas quentes para fazer frente ao Inverno. Um gesto simples que é encarado como ponto de partida para um recomeço.
Ana Oliveira, administradora do grupo Dou-te se Vieres Buscar – Santarém, refere ao nosso jornal que assim que a notícia foi partilhada alguns membros começaram a mostrar interesse em ajudar. “Temos de tudo para a casa do senhor Vítor. Ele vai ter tudo! Janelas, móveis, tinta, cimento, roupa se for preciso. Há também quem queira ajudar com alimentação”, afirma.
Através deste grupo, que conta com mais de 14 mil pessoas, Ana Oliveira diz que têm conseguido mobilar casas de pessoas carenciadas e que aquela onde Vítor Henriques reside será a próxima. Também através do grupo Scalabitanas, composto exclusivamente por mulheres, irá chegar ajuda, assim como de outros particulares e de um empresário de Alverca do Ribatejo que estão a oferecer mobiliário e materiais de construção. Uma vez que Vítor Henriques não tem telemóvel, O MIRANTE está a mediar, na medida dos possíveis, a comunicação entre Vítor Henriques e aqueles que o querem ajudar.
Viver sem água nem luz
Vítor Henriques, natural de Santarém, vive na casa que era do seu avô, na qual cresceu, desde que regressou a Portugal após ter estado vários anos emigrado. A casa, que segundo diz foi ocupada ilegalmente por uma família durante o tempo em que esteve fora do país, foi alvo de um incêndio e de vários furtos. Além de não ter electricidade ou água canalizada, não tem janelas, fogão e praticamente nenhuma mobília.
A ser ajudado pela Santa Casa da Misericórdia de Santarém e pela Cruz Vermelha Portuguesa, no que respeita a banhos, roupa e alimentação, diz que já contactou o Serviço de Acção Social da Câmara de Santarém, na tentativa de receber ajuda para melhorar as condições da casa. Mas o facto de o imóvel não estar registado em seu nome, mas no nome do seu avô, tem sido um entrave ao processo até porque, alega, não tem meios financeiros para tratar dessa burocracia. O MIRANTE questionou a Câmara de Santarém mas não obteve resposta até ao fecho desta edição.
À margem
Solidariedade digna de ser notícia
Num país onde se fala do aumento do discurso do ódio e onde cada ser humano parece olhar apenas para o seu umbigo, ignorando desgraças alheias, há sempre uma luz ao fundo do túnel. Quem transporta essa tocha que ilumina o caminho da solidariedade são pessoas como aquelas que fizeram tocar os telefones da redacção de O MIRANTE a disponibilizarem-se para ajudar Vítor Henriques a melhorar as condições em que vive. Sem água, sem luz e sem praticamente nenhum mobiliário em casa, está, aos 64 anos, a sobreviver com o apoio de duas instituições que lhe garantem alimentação e lhe permitem manter-se asseado, deixando-o tomar banho. Aos poucos, com a ajuda da sociedade civil, munida de uma solidariedade - esse valor tão importante - digna de ser notícia, Vítor Henriques vai conseguir tornar habitável a casa onde vive.
Joana Gradíssimo


