Amantes envolvidos em morte numa garagem de Alverca vão a julgamento por homicídio
Homem que ia visitar os filhos acabou morto com trinta facadas e deixado a esvair-se em sangue no chão da garagem de um prédio. Mulher da vítima e o amante alegam auto-defesa no crime que chocou a comunidade em Fevereiro de 2023 na Quinta da Ómnia, em Alverca.
Mais de dois anos depois do crime macabro que chocou Alverca, vai chegar a tribunal o caso da mulher de Alverca, de 45 anos, e do amante, de 25 anos, envolvidos na morte de Filipe Jorge, de 43 anos, assassinado brutalmente na garagem de um prédio na Quinta da Ómnia com trinta facadas e deixado a esvair-se em sangue.
O Ministério Público pede na acusação que os amantes, Sílvia e Bas - natural dos Países Baixos - sejam julgados por um crime de homicídio qualificado e arriscam pena máxima. Segundo o MP, o caso aconteceu quando Filipe se deslocou à sua antiga casa, onde viveu com a família durante 16 anos, para visitar os seus dois filhos, de 15 e 13 anos. Segundo a acusação, o casamento do casal foi marcado por episódios de violência, até se separarem pouco tempo antes do homicídio, quando a vítima descobriu que andava a ser traída por um homem 20 anos mais novo que ele. O crime terá acontecido numa das vindas do amante a Portugal.
Segundo o MP, o crime terá resultado de um plano traçado pelos arguidos, já que quando a vítima chegou à garagem foi confrontada pelos arguidos, seguindo-se uma discussão que levou ao desfecho fatal. Sílvia jura inocência e nega ter planeado o crime. Já Bas nega ter estado de faca apontada, como refere o Ministério Público, e numa entrevista à SIC deu uma versão diferente dos factos, garantindo que foi a vítima a primeira a ser agressiva e garante ter agido em legítima defesa. Não soube, contudo, precisar porque estava uma faca de cozinha na garagem e admitiu não ter tido noção que o número de facadas desferidas no rival era tão elevado. Os amantes estão a aguardar julgamento com termo de identidade e residência porque o tribunal foi obrigado a libertá-los após o termo dos seis meses de prisão preventiva. O advogado do arguido já negou a tese do MP de existir um plano para assassinar Filipe Jorge. O caso vai ser julgado no Tribunal de Loures.
Vizinhos deram o alerta
Depois de ter sido esfaqueado e deixado num mar de sangue, foram os vizinhos que deram o alerta às autoridades pouco depois da hora de almoço, após ouvirem gritos e barulhos junto ao portão da garagem do prédio situado na Rua dos Lavadouros. A vítima foi encontrada de barriga para baixo e com sinais de esfaqueamento na garganta, num cenário que vários moradores descreveram como “dantesco”. A maioria dos vizinhos disse na altura ao nosso jornal não conhecer o casal. Não frequentavam os cafés do bairro e raramente eram vistos. O que, para muitos, não é de estranhar, já que se trata de um condomínio com mais de 80 famílias a residir e onde a maioria sai das garagens para os elevadores e daí para cada um dos apartamentos sem se cruzar com o exterior.
O tribunal vai também analisar se não houve excesso de legítima defesa no caso. A defesa da mulher já pediu uma reconstituição do crime com a presença das testemunhas. Os amantes quando foram detidos estavam ensanguentados e feridos. A defesa de Bas aposta na tese da legítima defesa e requer perícias psiquiátricas ao arguido, por entender que terá agido num cenário de imputabilidade reduzida por ter problemas psiquiátricos desde a infância. Já o advogado da mulher pediu o acesso integral ao telemóvel da arguida, para mostrar que das comunicações havidas não haverá evidências de intenção criminosa no caso.


