Sociedade | 14-11-2025 15:46

Morreu Bertino Coelho Martins, músico apaixonado pela etnografia e tradições ribatejanas

Morreu Bertino Coelho Martins, músico apaixonado pela etnografia e tradições ribatejanas

Natural de Lapas, Torres Novas, Bertino Coelho Martins fez grande parte da sua vida em Santarém, onde, entre outros cargos e missões, foi responsável pela biblioteca municipal e presidente da Junta de Freguesia de Marvila, no final do século XX.

Bertino Coelho Martins, figura incontornável da cultura ribatejana, morreu esta sexta-feira, 14 de Novembro, um dia antes de completar 98 anos. Natural de Lapas, Torres Novas, fez grande parte da sua vida em Santarém, onde, entre outros cargos e afazeres, foi responsável pela biblioteca municipal e também presidente da Junta de Freguesia de Marvila, no final do século XX.
Personagem multifacetada e figura respeitada no mundo da música e das danças e cantares tradicionais, viu o percurso reconhecido com a atribuição do seu nome a uma rua de Santarém quando cumpriu o 80º aniversário. Bertino Coelho Martins nasceu numa família pobre. Aos 9 anos deixou a escola e foi trabalhar como aprendiz de ferreiro, estabelecendo-se mais tarde por conta própria em Ribeira Ruiva. Nessa altura já a música lhe ocupava boa parte do tempo como instrumentista e regente de filarmónicas, após o curso tirado no Conservatório em Lisboa e de mais alguns tirados por correspondência.
O gosto pela música podia ser explicado por razões genéticas. O pai, operário fabril tal como a mãe, “era um homem bom e um músico excelente”, culturalmente acima da média, disse-nos em entrevista publicada em O MIRANTE em Novembro de 2007. O “vírus” estendeu-se ainda à esposa, que com ele aprendeu música e que o acompanhou também a cantar por festas e bailaricos por esse país fora. Tocava em bailes desde Vila Franca de Xira até Penela.
A sua fama como músico e regente chegou até Santarém, de onde em 1958 veio um convite que considerou irrecusável. Ofereceram-lhe a direcção da Banda dos Bombeiros, onde também tocava e ensinava crianças, e um emprego na câmara municipal. O seu destino era a biblioteca. Uma decisão que lhe influenciou decisivamente a vida. Ali esteve até 1993, altura em que se aposentou após vinte anos como principal responsável. Curiosamente, até aí nunca fora uma pessoa muito interessada por literatura. Tinha apenas a quarta classe (entretanto fez o antigo quinto ano). Mas o hábito faz o monge e a proximidade a tanto livro fez com que ganhasse interesse pelas coisas da cultura e sobretudo pela investigação das nossas raízes e tradições.
Foi assim que chegou a ligação ao folclore, actividade que “detestava” quando rumou a Santarém. Quanto mais vasculhava mais descobria o mar de equívocos em que vogavam muitos dos grupos etnográficos da região. Sobretudo no que toca à autenticidade do material apresentado, quer ao nível do traje quer das danças e cantares. O seu conceito de folclore era definitivamente outro. “Há grupos que tinha de criticar porque aquilo não era folclore”, explicava Bertino Coelho, defensor da autenticidade.

A entrevista que lhe fizemos em Novembro de 2007 pode ser lida aqui: https://omirante.pt/semanario/2007-11-08/entrevista/2007-11-07-um-musico-que-detestava-folclore.

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