Sociedade | 15-11-2025 12:00

Associação que apoia doentes de Alzheimer em Almeirim com menos capacidade de resposta

Associação que apoia doentes de Alzheimer em Almeirim com menos capacidade de resposta
Filipa Gomes (segunda à direita) acompanhada por membros do Núcleo e ladeada da presidente da Alzheimer Portugal, Maria do Rosário Zincke dos Reis - foto arquivo O MIRANTE

Núcleo do Ribatejo da Associação Alzheimer Portugal, sediado em Almeirim, está no limite da capacidade de resposta devido ao aumento de pedidos de apoio de pessoas com demência e respectivas famílias em todo o distrito de Santarém. Directora técnica, Filipa Gomes, alerta para falta de recursos, entre outras preocupações.

O Núcleo do Ribatejo da Associação Alzheimer Portugal diz estar “no limite da capacidade”, numa altura em que regista um aumento de pedidos de ajuda e que planeava expandir o apoio. “Estamos sobrecarregados. Para além do acompanhamento directo a pessoas com demência e cuidadores, damos formação a instituições e desenvolvemos projectos de investigação e intervenção”, disse a psicóloga clínica responsável pelo núcleo, Filipa Gomes.
Em declarações à Lusa, a responsável sublinhou a necessidade de o núcleo integrar áreas como fisioterapia ou aconselhamento jurídico, “mas não tem meios para isso”. “O que fazemos é tentar colmatar, mas precisamos de mais recursos e de uma resposta pública estruturada. A demência vai aumentar e não podemos continuar a reagir apenas quando os casos já estão em fase avançada”, acrescentou.
Criado em 2004, em Almeirim, o Núcleo do Ribatejo dispõe actualmente de vários gabinetes de proximidade em parceria com municípios como Santarém, Entroncamento, Rio Maior, Mação e Salvaterra de Magos. Essa resposta, explicou Filipa Gomes, surgiu da constatação de que “a maioria das pessoas com demência são idosas, muitas já não conduzem e os transportes públicos são escassos”, pelo que era necessário “levar os serviços às populações”. No último ano e meio, a direcção do Núcleo do Ribatejo registou um “aumento substancial” de pedidos de apoio de pessoas com demência, situação que atribui a diagnósticos mais precoces e ao combate ao estigma associado à doença.
A procura “tem crescido em todos os concelhos do distrito de Santarém”, disse a psicóloga clínica, salientando que os gabinetes de apoio existentes “estão já todos preenchidos”. Apesar de não existirem dados estatísticos oficiais que quantifiquem o aumento de pedidos de apoio, a psicóloga sublinha que essa realidade é evidente para quem trabalha directamente com as populações. “É a nossa percepção, baseada na experiência acumulada de mais de 20 anos no distrito. O número de pessoas que nos procura tem crescido de forma transversal em todos os concelhos e os gabinetes de apoio estão actualmente todos preenchidos”, afirmou.
A ausência de dados formais é, aliás, uma das lacunas que a responsável identifica na resposta pública à demência. “Muitas pessoas com sinais evidentes da doença não têm diagnóstico formal, porque os especialistas são escassos e os tempos de espera no SNS são longos. Isso impede que se conheça a real dimensão do problema”, explicou, defendendo que os médicos de família deveriam poder realizar diagnósticos, como previsto na Estratégia Nacional para a Saúde das Pessoas com Demência, cuja implementação no terreno continua limitada.
Uma maior sensibilização dos médicos para sinais precoces de demência, a crescente cobertura mediática do tema e a diminuição do estigma social são factores que, para Filipa Gomes, explicam o aumento da procura de apoio. “As pessoas sentem-se hoje mais à vontade para pedir ajuda, quando antes havia vergonha ou receio do que os vizinhos pudessem pensar”, afirmou. Embora exista uma Estratégia Nacional para a Saúde das Pessoas com Demência, a responsável considera que “no terreno a sua implementação tem algumas lacunas”, pelo que defende a criação de um plano nacional para as demências, que integre saúde, apoio social e enquadramento jurídico.
Entre os projectos actualmente em curso no Núcleo do Ribatejo da Associação Alzheimer Portugal, destaca-se o trabalho sobre contenções físicas e químicas, prática ainda comum em algumas instituições. “Durante anos foi normal amarrar pessoas com demência a cadeiras ou administrar medicação para as manter sedadas. Nós defendemos alternativas centradas na dignidade e nos direitos da pessoa”, explicou a psicóloga.
O núcleo acompanha semanalmente pessoas com diagnóstico confirmado, através de estimulação cognitiva e apoio psicológico, e presta apoio social imediato às famílias, nomeadamente no acesso ao estatuto de cuidador informal ou ao processo legal de acompanhamento. A nível nacional, a Alzheimer Portugal conta com cerca de 150 colaboradores, delegações no Norte, Centro, Lisboa e Madeira, além de estruturas residenciais e centros de dia especializados.

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