Sociedade | 16-11-2025 07:00

Villa Romana de Rio Maior continua a revelar segredos sobre a cidade

Villa Romana de Rio Maior continua a revelar segredos sobre a cidade
Arqueólogo Carlos Pereira e o vereador Miguel Santos - foto O MIRANTE

Descoberta em 1983, a antiga Villa Romana de Rio Maior continua a revelar segredos sobre a origem da cidade, apostando a câmara municipal na valorização do espaço integrado nos pontos de interesse de turismo local.

A Villa Romana de Rio Maior, descoberta em 1983, é um dos mais importantes vestígios da presença romana no Ribatejo e continua a ser alvo de estudos e escavações. Para o arqueólogo Carlos Pereira, técnico da câmara municipal e um dos responsáveis pela investigação desde o início, o local “é, de certa forma, a certidão de nascimento de Rio Maior”.
Natural de Ribeira de São João e com 69 anos, Carlos Pereira foi um dos que participou na descoberta do espaço arqueológico, no âmbito do levantamento da Carta Arqueológica de 1983. O técnico explica a O MIRANTE que a villa, edificada no século I, foi sendo remodelada ao longo dos séculos, passando de uma casa simples a uma residência luxuosa. Entre 1992 e 1999 realizaram-se vários trabalhos arqueológicos que permitiram abrir ao público a área actualmente musealizada, correspondente apenas uma pequena parte do conjunto original, dado que hoje estão identificadas oito a nove divisões, mas estima-se que a villa tivesse entre 30 a 40 compartimentos. Entre os achados mais notáveis destacam-se fragmentos de cinco estátuas, incluindo a Ninfa Fontenária, praticamente intacta e considerada uma das peças mais valiosas do espólio arqueológico local. “É o achado mais emblemático, tanto que 15 dias depois de ser encontrada, seguiu para uma exposição no Museu Nacional da Ajuda”, recorda o arqueólogo.
A ocupação da zona é, no entanto, muito mais antiga. “Houve aqui presença paleolítica e neolítica, campos agrícolas e até uma casa da Idade do Ferro. A vida e a história não são estáticas, e este lugar foi usado e reutilizado ao longo dos séculos”, sublinha Carlos Pereira, acrescentando que parte das construções romanas encontram-se sob o cemitério municipal e que há outras zonas da cidade com vestígios romanos. Actualmente, os estudos continuam, pretendendo a câmara municipal recorrer a tecnologias não invasivas, como o georadar e o magnetómetro, para tentar perceber o que ainda existe debaixo da terra, especialmente no terreno do cemitério. “Sabemos que há muito mais por descobrir. Queremos identificar as áreas que faltam, como as cozinhas, os alojamentos, os depósitos. O objectivo é preservar, mas só se deve escavar quando houver condições para conservar”, ressalta o técnico. O município planeia também reforçar a cooperação científica e técnica com instituições como o Museu Nacional de Conímbriga, sobretudo na área do restauro de mosaicos e da formação de novos profissionais. “Há uma grande lacuna na formação nesta área em Portugal. Precisamos de técnicos especializados e, por isso, as parcerias são essenciais”, acrescenta Carlos Pereira.

De espaço arqueológico a pólo turístico
Para o vereador do Turismo, Miguel Santos, a Villa Romana é hoje “a joia da coroa” do património histórico do concelho. Desde que abriu ao público, em 2020, já recebeu cerca de 50 mil visitantes, e o objectivo é continuar a crescer. “Entre 2019 e 2024, o número de dormidas em Rio Maior aumentou mais de 95%. Isso mostra que estamos no caminho certo, e a Villa Romana tem sido um dos principais motores para atrair visitantes e prolongar a estadia no concelho”, destaca o autarca, acrescentando que o desafio agora passa por atrair outros públicos, desde famílias a turistas estrangeiros, aproveitando a localização de Rio Maior junto aos grandes fluxos turísticos do Oeste.
Além da promoção turística, a câmara pretende integrar o espaço numa rota ibérica e criar, no edifício da antiga Moagem Maria Celeste, um centro de arqueologia e restauro destinado a estudar e conservar os achados locais. “Estamos a tentar dinamizar um complexo turístico integrado, com a villa como elemento central. Poucos territórios têm um espaço como este, e acreditamos que pode ser um forte factor de diferenciação”, acrescenta. Mais do que um custo, a Câmara vê a preservação e a promoção da Villa Romana como um investimento com forte retorno cultural e económico, estando o vereador convicto de que o espaço contribui directamente para a economia local. “Preservar o património não é um gasto, é uma forma de valorizar a nossa identidade e, ao mesmo tempo, criar nova oferta turística”, refere. Enquanto isso, as equipas continuam a cuidar do que já foi revelado, afirmando Carlos Pereira que “é um privilégio estar a contribuir para a descoberta da nossa própria história há mais de 40 anos”.

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