Família de Santarém vive em casa degradada e teme ficar sem tecto
Sónia Pires vive há 16 anos com os dois filhos numa subcave da Rua General Humberto Delgado, em Santarém, onde exigências da senhoria, obras intermináveis e a falta de respostas tornaram a sua vida num pesadelo.
Sónia Pires tem 51 anos, é natural de Santarém e vive há 16 anos numa subcave na Rua General Humberto Delgado. No início deste ano recebeu uma carta da senhoria a informar que o contrato de arrendamento termina em Março de 2026 sem opção de renovação, tendo de sair até lá. Contudo, a mãe solteira confessa a O MIRANTE que não tem para onde ir e teme ficar sem um tecto para si e para os filhos.
Reformada por invalidez de 125%, vive com uma pequena pensão e com os dois filhos — Gonçalo, de 25 anos, invisual e com asma grave, e Guilherme, de 16, com 80% de incapacidade e a frequentar a escola da A.P.P.A.C.D.M. no Vale de Santarém. Paga 200 euros de renda e diz que já pediu ajuda à Câmara de Santarém, Segurança Social e à Cruz Vermelha para a ajudarem, mas até agora nenhuma entidade conseguiu dar-lhe uma resposta. “Disseram-me para procurar casas particulares, porque a câmara não tem soluções neste momento, mas como é que junto dinheiro para outra casa se continuo a pagar renda? Com os preços caros de hoje em dia e com todas as despesas que tenho com a minha saúde e com a dos meus filhos, tem sido impossível encontrar algo”, desabafa.
A situação é agravada pelo facto de, em Fevereiro deste ano, terem iniciado obras na casa onde vive, sem aviso prévio, afirmando a moradora que foi o pedreiro quem a avisou de que os trabalhos iam começar, tendo desde então vivido num autêntico estaleiro. “As obras nunca mais acabam. Há pó, barulho até às dez da noite, e muitas vezes nem conseguimos cozinhar ou tomar banho com privacidade. Já cheguei a tomar banho no quintal com um alguidar”, conta, acrescentando que ela e os filhos já chegaram a dormir no chão e rodeados por móveis e roupas empilhadas.
Sónia Pires diz que compreende a necessidade das obras, porque algumas zonas da casa já estavam em mau estado, mas critica a forma como tudo tem sido feito, sublinhando que o filho mais velho tem asma e sofre imenso com o pó. A família tem que passar o dia fora de casa para conseguir respirar e fugir dos barulhos.
Enquanto tenta perceber o que pode fazer, Sónia Pires afirma que se tem mantido forte graças à ajuda e simpatia de um café do bairro que lhe tem fornecido refeições e apoio emocional ao longo dos últimos dez meses, dizendo comovida que “as pessoas desse café têm sido como uma família para nós”. Contudo, sem condições, sem alternativas e com filhos dependentes de cuidados especiais, Sónia Pires teme o que acontecerá daqui a poucos meses. “Só quero viver com dignidade. Já perdi muita coisa na vida e não sei como vou aguentar mais isto se o pior acontecer a não conseguir arranjar um espaço para viver”, confessa transtornada.


