Fernanda Violante transformou garagem num centro de ajuda
Fernanda Violante transformou a garagem de sua casa, em Santarém, num centro de ajuda para pessoas carenciadas. Recebe em média dez por dia e já mobilou mais de 40 casas com bens doados. Nacionalidade, cor ou etnia, nada disso interessa quando a vontade é apenas uma: ajudar.
Foi há três anos, com a chegada da reforma, que Fernanda Violante decidiu abraçar uma missão de vida. Movida pela vontade de ajudar quem mais precisa, arregaçou as mangas e transformou a garagem de sua casa, em Santarém, numa espécie de loja social onde cabem, além de roupas, mobiliário e outros bens, memórias de sorrisos dos que por ali passam. É naquele espaço que diariamente recebe entre oito a dez pessoas carenciadas. Uns procuram botas e agasalhos para o Inverno, outros, enxoval para o bebé que está a caminho ou para o filho mais velho que já não tem o que lhe sirva.
Contrariamente ao que acontece em instituições onde os sacos com as ajudas já vão preparados, ali cada um escolhe o que quer e o que melhor lhe assenta. “Ninguém sai sem experimentar. E depois é ver o ego das pessoas a crescer até à lua. Ou porque o marido a vai achar bonita ou porque vai passar a ir bem vestida para o trabalho”, descreve Fernanda Violante entre as estantes organizadas por tamanhos. Um trabalho que obriga a uma logística imensa e que se faz a poucas mãos. Mas, apesar de ter praticamente todas as tarefas a seu cargo e de o espaço ser curto para tanta doação, não desiste da missão.
Fernanda Violante é alegria e conforto para aqueles que pouco ou nada têm. “Recebo famílias que me dizem que se não fosse esta ajuda não sabem como fariam. Há uma em que o casal é trabalhador e tem três filhos menores, mais os pais dele em casa, e pagam 600 euros de renda, que é praticamente o ordenado de um deles, sei que dou uma grande ajuda. Todos são vestidos em minha casa há três anos”, conta. Algumas histórias de vida impressionam-na e comovem-na pelos infortúnios pelos quais passaram muitos dos que quem vieram para Portugal, em particular para Santarém, à procura de uma vida melhor. “Geralmente os angolanos não trazem nada, são muito carentes, as passagens já são caras e depois chegam aqui e deparam-se com pedidos de caução de duas e três rendas de uma vez. Há muita gente a dormir no chão e a precisar do básico em Santarém, e é preciso que se tenha noção disso”, adverte.
Falta de espaço para guardar doações é a maior dificuldade
Para a voluntária não interessa a nacionalidade a cor ou a etnia de quem lhe bate à porta, por vezes já depois do cair da noite. “Às vezes calha; não gosto, mas recebo as pessoas. Até hoje, em três anos, nunca me aconteceu nada, felizmente”, diz, contando que ainda há poucos dias recebeu três pessoas fora de horas porque iam trabalhar no dia seguinte e não tinham o que vestir. Mas nem só de roupas se faz este trabalho meritório a troco de sorrisos. Fazendo contas de cabeça, Fernanda Violante estima já ter mobilado cerca de 40 casas no concelho de Santarém com mobílias e electrodomésticos doados. “Só este mês foram cinco”, detalha, explicando que a dificuldade não passa pela angariação mas por conseguir espaço para guardar os bens doados.
Na garagem lá de casa, onde carros não entram há três anos, o espaço é curto para tanta doação. Motivo que a levou a ir até uma reunião do executivo da Câmara de Santarém no mandato anterior - “faz agora um ano” - pedir a cedência de espaço para guardar o que recebe, sobretudo mobiliário. Mas a resposta não foi a que esperava, lamenta. Como desistir não estava nem está nos planos teve de encontrar alternativas que obrigam, diga-se, a uma grande ginástica logística. “Tenho uma base de dados, feita por mim, onde ponho todas as carências de cada pessoa, se precisa de cama ou de um sofá... Assim, quando tiver quem dê, já sei onde a pessoa pode ir buscar. Em tempos chegou, ela própria, a tratar do transporte mas com o volume de pedidos deixou de ter meios para o fazer. Dinheiro também já não empresta, mas continua a dar o mais importante: ajuda para melhorar as condições de vida de todos os que batem à porta.


