Sociedade | 24-11-2025 15:00

Espólio de Gonçalo Ribeiro Telles está a ser disputado por várias instituições

Espólio de Gonçalo Ribeiro Telles está a ser disputado por várias instituições
Gonçalo Ribeiro Telles assumiu sempre um carinho especial por Coruche, terra de suas raízes - foto arquivo O MIRANTE

A localização do espólio documental do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles aqueceu o debate na reunião de câmara de Coruche. Um vereador da oposição acusou o executivo de inércia perante um processo que decorre há mais de dois anos, enquanto a vereadora da cultura garantiu que o município continua a procurar soluções para acolher uma colecção que ocupa muitos metros quadrados de espaço.

O futuro do espólio documental de Gonçalo Ribeiro Telles, composto por cerca de 200 metros lineares de livros, projectos e documentos de investigação acumulados ao longo de décadas, permanece num impasse que pode custar a Coruche a instalação daquele que seria um dos mais relevantes arquivos do país na área do ambiente. A família do arquitecto mantém, desde o início do processo, o desejo de ver a biblioteca instalada na vila, onde Ribeiro Telles tem raízes profundas, mas o município ainda não apresentou um espaço capaz de acolher a totalidade do acervo.
Os contactos entre a família e o município de Coruche começaram em 2023. À partida, em cima da mesa, pelo menos três destinos possíveis para o espólio foram equacionados: Coruche; a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa; e a Universidade de Évora. Para a família, e para o próprio arquitecto, Coruche é o local desejado. Contudo, a falta de condições físicas tem sido um obstáculo no processo de decisão.
A vereadora Susana Cruz, que transita do anterior executivo socialista para o actual, confirma que a câmara continua a procurar soluções técnicas e de espaço para receber o arquivo. “Tem existido contacto com a família e há muito interesse em acolher o espólio, mas precisamos de um espaço à altura da sua grandiosidade”, afirma, lembrando que as hipóteses, como o Observatório da Cortiça ou o Centro Local de Aprendizagem se revelaram demasiado pequenas. A autarquia chegou a ponderar acolher apenas a parte do espólio relacionada com Coruche, mas não passou de uma hipótese que não vingou. “Queremos receber o espólio completo”, reforça a vereadora.
Apesar dessas tentativas, outras instituições continuam a manifestar interesse em albergar o espólio do arquitecto. A Universidade de Évora tem já marcada uma reunião da equipa reitoral para definir onde instalar o acervo, sinal de que o processo pode ganhar novos contornos em breve.
Dionísio Mendes, vereador sem pelouros eleito pelo movimento Volta Coruche, teme que a demora resulte na perda definitiva do espólio para Évora e critica a falta de resposta municipal. Considera que a família “não tem a sensação de que a câmara tenha uma solução credível” e alerta que a fragmentação do arquivo “não faz sentido nenhum”, especialmente quando está em causa um património de relevância nacional. Para o vereador na oposição e antigo presidente da autarquia entre 2001 e 2013, a instalação da biblioteca de Ribeiro Telles poderia assumir-se como um “projecto âncora” para o concelho, capaz de reforçar a ligação à investigação científica nas áreas do montado, do sobreiro e da cortiça.

Ribeiro Telles: a obra, a memória e a ligação a Coruche

Foi a 11 de Novembro de 1975 que abriu o bacharelato em Planeamento Biofísico e Paisagístico na Universidade de Évora, criado por iniciativa do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, formação que viria a evoluir para licenciatura em 1980. Professor catedrático jubilado da Universidade de Évora e fundador da licenciatura em Arquitectura Paisagista da mesma instituição, dirigiu o Departamento de Planeamento Biofísico e Paisagístico e orientou inúmeras dissertações de Licenciatura, Mestrado e Doutoramento.
Figura pioneira da arquitectura paisagista em Portugal, Gonçalo Ribeiro Telles morreu em casa, em Lisboa, a 11 de Novembro de 2020, com 98 anos. Nascido a 25 de Maio de 1922, também em Lisboa, assinou projectos estruturantes da capital, como os Corredores Verdes e os jardins da Fundação Calouste Gulbenkian. A ligação a Coruche foi sempre uma marca da sua vida. Em Agosto de 2009, em entrevista a O MIRANTE, recordou como a infância passada na vila moldou a sua relação com a paisagem rural. Explicava que as memórias dos campos do Sorraia, das margens do rio e da força agrícola da região o acompanharam sempre.

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