Sociedade | 24-11-2025 14:24

Os efeitos do vinho na saúde voltam a marcar a agenda de notícias

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foto ilustrativa

Um artigo de opinião de um bioquímico português, David Marçal, publicado no Jornal "Público" a 17 de Outubro de 2025, voltou a colocar o consumo de vinho em debate, relacionando o seu consumo a vários tipos de cancro.

Os riscos associados ao consumo de vinho voltaram a gerar polémica após a publicação de um artigo de opinião onde se afirma que “beber vinho é dar cancro a muitos portugueses”. O autor deste ensaio, um reconhecido bioquímico e divulgador de ciência, David Marçal, recorda que a Agência Internacional para a Investigação em Cancro (IARC), da Organização Mundial da Saúde (OMS), categoriza desde 1988 todas as bebidas alcoólicas como carcinogénicos do grupo 1, igualando o álcool ao fumo do tabaco ou à exposição solar.

O bioquímico sublinha que, mesmo em níveis considerados moderados, o consumo de álcool aumenta em grande parte a probabilidade de desenvolver vários tipos de cancro, como cancro da boca, do esófago, do fígado, do cólon, do recto e da mama. Dados partilhados recentemente apontam para que 4,1% dos novos casos de cancro no mundo sejam atribuíveis ao consumo de álcool, num universo de cerca de 741 mil diagnósticos. Segundo a IARC, 32% dos cancros nas mulheres, que são associados ao álcool, resultam de consumos moderados, como um copo por dia, por exemplo.

O artigo critica ainda o benefício fiscal atribuído ao vinho, comparativamente com outras bebidas alcoólicas em Portugal, classificando-o como contraditório na óptica da saúde pública. Defende ainda que políticas como o aumento de impostos, restrições à publicidade e redução de pontos de venda, resultam na diminuição do consumo de álcool.

A publicação gerou forte reacção no sector vitivinícola. A Associação de Vinhos e Espirituosas de Portugal (ACIBEV) em comunicado partilhado no dia 23 de Outubro de 2025, veio contestar o que considera ser uma visão “alarmista” e “descontextualizada” do impacto do vinho na saúde. A ACIBEV defende que o consumo moderado é compatível com um estilo de vida saudável, e recorda que vários estudos epidemiológicos indicam a existência de uma “Curva J”, o que significa que o consumo moderado pode ter efeitos neutros, ou até benéficos, quando comparado à privação total.

A ACIBEV sublinha também que Portugal, apesar de ser um dos maiores consumidores de vinho per capita, não apresenta taxas de incidência de cancro superiores às de países onde o consumo de álcool é baixo ou até proibido. A diretora executiva da ACIBEV, Ana Isabel Alves, reforça que o essencial é a moderação, “Embora as evidências científicas mostrem que o consumo excessivo de bebidas alcoólicas aumenta o risco de cancro, inúmeros estudos também mostram que beber vinho de forma moderada é compatível com um estilo de vida saudável”, afirma.

Ana Isabel Alves lembra ainda que a Organização Mundial de Saúde reconhece a dieta mediterrânica, que inclui o consumo moderado de vinho, como uma das mais saudáveis do mundo e associada à prevenção de várias doenças crónicas. ”O consumo responsável é a chave”, escreveu, destacando o programa Wine in Moderation, que promove práticas de consumo responsável.

O texto que deu origem à polémica teve uma repercussão muito para além do esperado, o que motivou uma nota da direcção editorial do jornal "Público", sublinhando que: "o autor é um reconhecido bioquímico e divulgador de ciência que escreveu sobre um tema que pode ser visto sobre múltiplos ângulos".

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