Sociedade | 26-11-2025 07:00

A solidão e isolamento dos mais velhos não se combatem só com palavras bonitas

A solidão e isolamento dos mais velhos não se combatem só com palavras bonitas
Íris Freitas é directora técnica e Manuel Rito o presidente da direcção da Cáritas Paroquial de Vila Franca de Xira - foto O MIRANTE

Fundada em 1986, a Cáritas Paroquial de Vila Franca de Xira é uma instituição que, discretamente, transforma a vida de dezenas de pessoas, quer entregando cabazes alimentares a quem precisa quer a cuidar dos mais velhos. Uma missão social que o actual presidente da direcção, Manuel Rito, sonha alargar, com a construção de um lar de idosos.

Os dirigentes da Cáritas Paroquial de Vila Franca de Xira deixam o alerta: actualmente são os idosos quem mais necessita de ajuda na cidade, por ser neles que mais se nota a solidão, o desamparo, as fragilidades da saúde e a degradação das condições de vida. E os problemas dos mais velhos não se combatem apenas com palavras bonitas mas sim com acções e trabalho no terreno, referem.
Para quem ali trabalha e quem da Cáritas depende, a missão da instituição é tão urgente como no primeiro dia. Segundo os responsáveis, hoje muitos idosos da freguesia vivem sozinhos e outros têm famílias que não conseguem responder às suas necessidades devido a vidas muito ocupadas, horários exigentes e empregos que não permitem tudo. Há ainda situações de saúde mental, com jovens adultos apoiados pela instituição por falta de respostas nacionais e muitos casos de problemas de habitabilidade.
A instituição é totalmente independente da paróquia em termos financeiros, vivendo do seu próprio esforço, da Segurança Social, do Banco Alimentar, da Câmara de Vila Franca de Xira e de donativos particulares, gerindo um orçamento anual que ronda o meio milhão de euros. É também uma das duas únicas Cáritas da Diocese de Lisboa que funcionam como Instituição Particular de Segurança Social, o que lhes impõe regras, exigências e estrutura própria. “O Estado é um organismo muito vago e por isso muitas vezes são as pessoas, as comunidades, a juntar-se para procurarem resolver uma necessidade. Foi isso que aconteceu com a Cáritas”, defende Manuel Rito.
A Cáritas tem 15 funcionários e duas respostas sociais, o Centro de Dia com capacidade para 30 utentes e o Apoio Domiciliário que dá resposta a 60 pessoas, ambas protocoladas com a Segurança Social. Além disso, mantém também o atendimento social destinado à distribuição de géneros alimentares a 65 famílias carenciadas da freguesia, todas acompanhadas e que passam por uma triagem das técnicas de acção social do município, para que ninguém receba cabazes sem merecer nem duplicar oferta com outras instituições. “Hoje em dia há um grande controlo. Ninguém está livre de vir a poder precisar desta ajuda. Já vi pessoas que andavam de Ferrari e que ficaram sem nada de um momento para o outro”, alerta Manuel Rito. Os dirigentes afirmam preferir enganar-se e dar um cabaz a quem talvez não precise, do que falhar com quem precisa mesmo.

O sonho de construir um lar
O Centro de Dia da instituição é uma importante resposta social que permite a 30 idosos passar os dias na instituição, fazer lá a sua higiene pessoal e até lavar a roupa e levar jantar feito para casa. “Têm também o acompanhamento medicamentoso em parceria com a Farmácia Varela e apoio permanente de uma animadora cultural”, explica Íris Freitas, directora técnica da instituição a O MIRANTE. Já o apoio domiciliário vai a casa de seis dezenas de pessoas da cidade entregar alimentação, ajudar na higiene pessoal, tratamento de roupa, higiene da casa, compras e assistência medicamentosa. “Somos uma visita todos os dias para os nossos utentes. Não somos apenas uma refeição, somos atenção, presença, cuidado. Muitos estão à janela à nossa espera quando chegamos”, contam os dirigentes.
A Cáritas sublinha que o mérito do seu trabalho é dos funcionários. “Todo o carinho e cuidado que têm com os mais velhos é impagável. Se houvesse justiça neste mundo, as pessoas que trabalham neste sector ganhavam aquilo que o Ronaldo e o Messi ganham”, defende Manuel Rito, que trabalha num centro de inspecções de automóveis.
A instituição não vive com grande folga orçamental e por isso cada investimento e cada passo têm de ser bem pensados. Os dirigentes garantem pagar tudo a horas e que a Cáritas não tem dívidas, mas apoios são sempre necessários, nomeadamente para melhorar as instalações que já são antigas. Para o Centro de Dia, por exemplo, um ar condicionado é prioritário. A renovação das janelas de todo o edifício é outra urgência identificada. “A câmara municipal tem sido um excelente exemplo de cooperação e apoio, respondendo a todos os nossos pedidos dentro das suas possibilidades”, elogiam Manuel Rito e Íris Freitas. Quando se pergunta qual é a ambição para daqui a alguns anos, a resposta é clara: construir um lar. Esse passo permitiria acolher quem já não pode regressar a casa.

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