Sociedade | 30-11-2025 10:00

Café Paraíso é um negócio de família em Tomar com 114 anos

Café Paraíso é um negócio de família em Tomar com 114 anos
Alexandra Vasconcelos e Madalena Santos - foto O MIRANTE

Aberto desde 1911, o emblemático Café Paraíso é uma referência em Tomar. Começou por ser um café de elite e hoje é um espaço onde todos são bem-vindos. Tratando-se de um negócio de família, já vai na quarta geração, sendo que a quinta também já trabalha no estabelecimento. O MIRANTE sentou-se à mesa e conversou com a gerente, Alexandra Vasconcelos.

Uma referência em Tomar com 114 anos, assim é o Café Paraíso. Aberto desde 1911, o negócio de família tem passado de geração em geração, estando actualmente na quarta. Também a quinta geração já trabalha no estabelecimento, preparando-se para assumir a gerência no futuro. Começou por ser um café de elite e hoje é um café para todos, independentemente da classe social. Local de encontros, convívios e tertúlias, o Café Paraíso distingue-se por nunca ter mudado a sua decoração, preservando a história. O MIRANTE esteve no estabelecimento, que está localizado na Rua Serpa Pinto, mais conhecida por Corredoura, e conversou com Alexandra Vasconcelos, gerente há 33 anos.
Sentada numa das mesas do café, Alexandra Vasconcelos, 57 anos, recorda que o estabelecimento foi aberto por cinco sócios, sendo um deles o seu tio bisavô. Refere que passado pouco tempo, o seu tio bisavô decidiu comprar a parte dos sócios, ficando como único gerente do espaço. O estabelecimento foi depois passando de geração em geração, para o seu avô, para a sua avó, para a sua mãe, até chegar a sua vez.
Alexandra Vasconcelos conta que foi trabalhar para o Café Paraíso porque a sua avó estava com Alzheimer. Antes, esteve a estudar numa escola agrícola, mas não terminou o curso. O seu sonho em criança era tirar um curso de teatro no conservatório, gostava de ser cenógrafa ou actriz. Sobre o Paraíso, afirma que o café tem tido altos e baixos, chegando mesmo a estar para trespasse quando o avô morreu. O espaço tem-se mantido sem grandes alterações, apenas com obras de restauro. “Nunca pensámos modernizar o espaço porque ia estragar. Isto é bonito, é assim, tem valor por ser assim e por se manter”, diz a gerente. As cadeiras e mesas do café vieram da Alemanha, as colunas foram revestidas por um artista italiano, os espelhos vieram de Veneza e as ventoinhas ainda são do tempo da 1ª Guerra Mundial.

A quinta geração está a postos
O MIRANTE conversou ainda com Madalena Santos, 28 anos, filha de Alexandra Vasconcelos. A jovem já trabalha no estabelecimento e prepara-se para assumir a sua gerência no futuro. É a quinta geração no negócio de família. Casada, mas ainda sem filhos, Madalena Santos afirma ter memórias do café desde criança. “Lembro-me de dormir a sesta em cima da mesa de bilhar. Passava muito tempo aqui, brincava, arranjava com que me entreter”, recorda sorridente. Primeiro começou por ajudar a lavar a loiça e com 21 anos, quando andava na faculdade, passou a trabalhar mais a sério no estabelecimento.
Actualmente trabalha num laboratório de próteses dentárias em Alpiarça e no café, conciliando os dois trabalhos. Para o futuro do Café Paraíso, afirma que não vai fazer grandes alterações no espaço. “No geral acho que uma boa parte do encanto do café é, efectivamente, ele ter-se mantido praticamente igual desde sempre. Em termos estéticos garanto que será sempre assim”, afirma. Admite, no entanto, que gostava de alargar a cozinha, aumentando as refeições. Para além de Madalena Santos, também o seu pai e marido de Alexandra Vasconcelos trabalha no estabelecimento, fazendo as noites.

Alexandra Vasconcelos com funcionários do Café Paraíso - foto O MIRANTE

Umberto Eco entre os clientes ilustres

O Café Paraíso já passou por fases marcantes da história mundial. Atravessou a Iª e IIª Guerra Mundial, a Gripe Espanhola e o 25 de Abril, entre outros momentos. Ao longo dos anos, muitas foram as personalidades famosas que entraram no estabelecimento. Alexandra Vasconcelos recorda algumas, como Nini Ferreira, personalidade muito reconhecida de Tomar que passava as manhãs no café em tertúlias com intelectuais da terra; o compositor Lopes-Graça também era presença assídua, ou o italiano Umberto Eco, que escreveu o romance “O Pêndulo de Foucault” numa mesa do café enquanto fumava cachimbo. Hoje, o estabelecimento vai tendo muitos clientes ao longo de todo o ano, portugueses e estrangeiros. As noites de fim-de-semana são de grande animação, com muitos jovens reunidos.

Dificuldades na realização da entrevista

Tratando-se de um estabelecimento de referência em Tomar, com uma longa história, O MIRANTE ansiava pela realização desta entrevista, no entanto, teve de esperar três meses para a sua concretização. Numa primeira abordagem, em Agosto, o estabelecimento recusou a entrevista, justificando-se com os “muitos emigrantes” que estavam na cidade. Em Setembro, a justificação para a recusa foram as férias e, em Outubro, as eleições autárquicas. Só em Novembro foi possível realizar o trabalho. Esta resistência por parte do café em conceder uma entrevista acaba por ser surpreendente. Mas, como diz o ditado, “quem espera sempre alcança”.

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