Sociedade | 30-11-2025 07:00

Carlos Andrade Costa renunciou e Nuno Gonçalves Cardoso regressa à gestão do Hospital Vila Franca de Xira

Carlos Andrade Costa renunciou e Nuno Gonçalves Cardoso regressa à gestão do Hospital Vila Franca de Xira
Governo foi à CUF buscar gestor que, agora, vai voltar a liderar o Hospital Vila Franca de Xira e os centros de saúde da ULS Estuário do Tejo - foto arquivo O MIRANTE

Nuno Luís Gonçalves Cardoso assume novamente a gestão do Hospital Vila Franca de Xira, como presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde Estuário do Tejo, sucedendo ao muito contestado Carlos Andrade Costa, que apresentou renúncia ao cargo. A nova equipa executiva foi designada pelo Conselho de Ministros para um mandato de três anos.

Nuno Luís Gonçalves Cardoso foi nomeado presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde (ULS) Estuário do Tejo, substituindo o muito contestado Carlos Andrade Costa, que apresentou a renúncia ao cargo, juntamente com a vogal executiva.
A decisão foi tomada pelo Conselho de Ministros, no âmbito da necessidade de reforçar a capacidade de gestão e melhorar a prestação de cuidados de saúde no Serviço Nacional de Saúde, garantindo acesso equitativo e de qualidade a todos os utentes do Hospital Vila Franca de Xira e centros de saúde dos concelhos de Alenquer, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Benavente e Vila Franca de Xira.
O novo conselho de administração será composto, além do presidente, pelas vogais executivas Ana Cristina Gomes Azevedo (directora clínica para a área dos cuidados hospitalares), Sérgio Miguel Ribeiro Morais Medina do Rosário (director clínico para cuidados primários), Catarina Isabel Garcia Paulino e Maria Helena Valentim Abrantes (enfermeira directora).
Catarina Paulino terá ainda o pelouro financeiro. Ana Cristina Azevedo, Catarina Paulino e Maria Helena Abrantes estão autorizadas a exercer actividade de docência em ensino superior público ou de interesse público. O Conselho de Ministros destaca que a nomeação visa imprimir uma nova dinâmica à administração, assegurando uma gestão sólida, cooperante e capaz de operacionalizar medidas estratégicas, em linha com o novo desenho integrado de cuidados de saúde. O mandato da nova equipa será de três anos, renovável até três vezes consecutivas.
Nuno Luís Gonçalves Cardoso é licenciado em Organização e Gestão de Empresas (ISCTE), com formação avançada em liderança e gestão hospitalar. Tem experiência como director de auditoria interna na CUF e como administrador do Hospital Vila Franca de Xira entre 2018 e 2021. É docente em programas pós-graduados de liderança médica e curador da Fundação Manuel Cargaleiro.

Gestão atribulada
A gestão do anterior administrador da ULS Estuário do Tejo, Carlos Andrade Costa, ficou marcada pela contestação de utentes, autarcas e profissionais de saúde. Ocorreram várias greves de enfermeiros e protestos das comissões de utentes dos concelhos abrangidos pela ULS. Fecho das urgências de pediatria e obstetrícia, queixas de negligência e longos tempos de espera nas urgências e consultas marcaram o dia a dia no hospital desde 2021, altura em que a unidade passou de uma referência no modelo de gestão de parceria público-privada (PPP) para uma gestão em regime de Entidade Pública Empresarial (EPE).
Ainda antes de sair do cargo, conforme o jornal noticiou a semana passada, Carlos Andrade Costa, enquanto responsável da ULS, apresentou queixa na justiça contra a Comissão de Utentes de Castanheira do Ribatejo, na sequência de um abaixo-assinado entregue por esse movimento, em Janeiro de 2025, onde criticava o funcionamento dos centros de saúde e pedia a colocação de mais médicos para servir a comunidade. Isso numa altura em que também se ouviam várias queixas da comunidade, incluindo de autarcas, sobre o mau funcionamento dos centros de saúde e do hospital.
Em Setembro, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, disse estar “muito preocupada” com a gestão da ULS Estuário do Tejo e, na ocasião, avançou que o regresso da PPP estava em cima da mesa. “O contrato da PPP terminou em 2021 e foi dito na altura que o hospital seria o mesmo, que a ideia era melhorar ou aumentar a qualidade. Assim não aconteceu e os resultados estão à vista: as consultas diminuíram 10,3% e as cirurgias 3,5%. Apesar de ligeiros aumentos em 2023 e 2024 estamos longe dos níveis da PPP”, criticou, na ocasião, Ana Paula Martins.

À margem

Luz ao fundo do túnel

O regresso de Nuno Luís Gonçalves Cardoso à liderança do Hospital Vila Franca de Xira não é apenas uma mudança de cadeiras no conselho de administração da Unidade Local de Saúde Estuário do Tejo. É um sinal inequívoco de que algo correu mal nos últimos anos. Desde 2021, os utentes, os profissionais de saúde e até os autarcas sentiram na pele o que significa um hospital a funcionar abaixo das expectativas mínimas: fecho de urgências de pediatria e obstetrícia, longos tempos de espera, greves e protestos e um sentimento crescente de abandono da população.
Preocupante foi ainda a decisão de recorrer ao tribunal contra a Comissão de Utentes da Castanheira do Ribatejo. É difícil não ver neste gesto um exemplo da distância entre a administração e os cidadãos que deviam servir. Sabemos que a falta de médicos e enfermeiros e os problemas na saúde não são exclusivos do Hospital VFX e que são transversais a outros hospitais do país, mas mesmo assim era possível fazer melhor.
Entra agora um gestor que já tinha estado no hospital, mas com um desafio enorme. Não basta manter as contas equilibradas ou cumprir metas burocráticas. É preciso recuperar a confiança das populações, ouvir os profissionais e os utentes, e mostrar que a ULS Estuário do Tejo é, de facto, um serviço público que funciona para todos.
Marta Carvalhal

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