Agrupamentos de Santarém e Mação destacam papel da criatividade na inovação e reinvenção do ensino
Entre dança, arte, projectos de inclusão e estratégias improvisadas, dois agrupamentos de escolas do distrito de Santarém mostram como a criatividade pode mudar vidas dentro e fora da sala de aula.
Num tempo em que a escola precisa de ir além da transmissão de conteúdos, dois agrupamentos — Sá da Bandeira, em Santarém, e Verde Horizonte, em Mação — mostram como a criatividade se tornou essencial para motivar alunos e renovar práticas pedagógicas. Para assinalar o Dia da Criatividade, a 17 de Novembro, o MIRANTE foi conhecer de perto as metodologias que estes estabelecimentos têm vindo a desenvolver.
No Agrupamento Verde Horizonte, a criatividade não é um complemento, é uma linha orientadora, explicando a directora Rufina Costa, 56 anos, e a professora Eva Patrício, 47 anos, que a escola tem construído um modelo onde a imaginação e a expressão artística são pilares para revitalizar aprendizagens. Rufina Costa sublinha que estimular a criatividade é uma prioridade para toda a comunidade escolar e que grande parte desta dinâmica nasce do Plano Cultural de Escola, cujo tema anual é escolhido pelos alunos. A partir do tema, toda a escola desenvolve iniciativas conjuntas, como o sarau de final de ano, dias temáticos e exposições, alinhando-se todos e criando uma rede que abrange do pré-escolar ao secundário. Segundo Eva Patrício, professora de dança e educação física, é esta cultura que faz com que professores vindos de ambientes mais formais ou de longe rapidamente se queiram manter no agrupamento. “Quando cheguei aqui foi como chegar a casa”, admite a professora natural de Abrantes. O agrupamento promove actividades diárias no 1º ciclo, como ioga ou teatro, e disciplinas artísticas onde não se ensinam conteúdos de forma tradicional. Já no 2º e 3º ciclos, a criatividade surge na articulação disciplinar, cruzando dança, matemática ou ciências através de estratégias inesperadas. “Os alunos procuram algo diferente”, destaca Eva Patrício.
Já no Agrupamento Sá da Bandeira, a criatividade parte de uma visão que atravessa arte, inclusão e competências socio-emocionais. A directora Adélia Esteves, 64 anos, e a professora Agostinha Gomes, 52, explicam que procurar formas mais humanas e motivadoras de ensinar se tornou central na escola, ressaltando a directora que a ideia de contratar uma artista residente em 2020 foi uma aposta “fora da caixa” que alterou a forma como o agrupamento passou a melhorar a vertente sociocultural. A criatividade surge ainda nos clubes, como os de Escrita Criativa, Teatro ou Debate e também na sala de aula, considerando Agostinha Gomes que a criatividade faz parte do próprio acto de ensinar, recordando quando explicou os estados físicos da matéria, recorrendo à analogia de um autocarro cheio de alunos. “O professor tem de ser um ser inerentemente criativo para captar os alunos”, afirma, defendendo que a aprendizagem ganha mais sentido quando se liga ao quotidiano.
Desafios que travam o impulso criativo
Promover ambientes criativos não é simples e em ambas escolas surgem obstáculos que exigem adaptação. Numa geração marcada pelo apelo constante do digital, ambos os agrupamentos reconhecem que captar a atenção dos alunos se tornou um desafio, sendo a resposta criar experiências mais envolventes e diferenciadas. No Verde Horizonte, o maior obstáculo é o tempo, em que abrir espaço para projectos artísticos exige “magia”, como diz Eva Patrício. Já os recursos são ultrapassados com criatividade e com o envolvimento de toda a comunidade. Em Santarém, os desafios são semelhantes, com a directora a reconhecer que ensinar implica lidar com uma “atenção fracionada e fugaz”, exigindo que os professores reinventem estratégias constantemente. O tempo e a falta de recursos surgem novamente como obstáculos.
Se há algo em que Santarém e Mação convergem é o facto dos alunos responderem de imediato quando têm espaço para imaginar e experimentar. No Verde Horizonte, duas histórias revelam esse impacto positivo: uma aluna recém-chegada do estrangeiro, que chorava diariamente por não querer ir à escola, mas que encontrou no grupo de dança um espaço de pertença, e um aluno do ensino profissional, que ganhou confiança ao destacar-se na dança, passando a ser reconhecido pelo talento. No Sá da Bandeira, o impacto é igualmente evidente, recordando as docentes uma aluna cega que aprendeu a remar de canoa e uma aluna com trissomia 21 que descobriu na arte uma forma diferente de se expressar.


