Domingos Chambel torna oficial que é “dono” da Nersant
Domingos Chambel acaba de dar posse a Rui Serrano como presidente da Nersant depois da demissão de António Pedroso Leal. Rui Serrano foi eleito nesta direcção como presidente do núcleo de Abrantes, a meio foi promovido a vice-presidente da direcção, e finalmente assume a presidência da direcção, que acumula com a presidência do núcleo.
António Pedroso Leal abandonou a liderança da Nersant a poucos dias do final do seu mandato. A sua lista, eleita a 21 de Agosto de 2023 para o triénio de 2023-2025, tinha a participação de 67 empresas. Na assembleia-geral onde foi eleita votaram apenas 83 empresas, ou seja, apenas 16 empresas que não pertenciam à lista. A Nersant anuncia na sua página oficial ter cerca de três mil associados.
A poucos dias do final do seu mandato, António Pedroso Leal pediu a demissão do cargo justificando-se com problemas familiares. Domingos Chambel, o presidente da assembleia-geral, que escolheu António Pedroso Leal para lhe suceder no final do único mandato que governou como presidente da direcção, acaba de anunciar que deu posse como presidente da direcção a Rui Serrano, que fazia parte da lista de Pedroso Leal como presidente do núcleo de Abrantes, e a meio do mandato apareceu como vice-presidente para o lugar do empresário Filipe Martins, que pediu a demissão. No dia a seguir à sua tomada de posse (27 de Novembro), Rui Serrano já comunicava com os associados na sua nova condição. Em texto enviado do departamento de comunicação da associação pode ler-se que o novo líder esteve presente, a 28 de Novembro, na apresentação do “Roadshow Ribatejo Invest 2030”, junto dos parceiros do projecto, prometendo “reforçar a proximidade com as empresas e entidades regionais”, anunciando ainda que com a nova dinâmica “a Nersant inicia o seu mandato com uma mensagem positiva e mobilizadora, focada na cooperação institucional e no apoio próximo ao tecido empresarial da região”.
A comunicação da direcção da Nersant com os seus associados, através do departamento de comunicação, não deixa dúvidas: Rui Serrano já era uma presença conhecida no desempenho do seu lugar na direcção, como vice-presidente, e esta saída de António Pedroso Leal, a poucos dias de terminar o seu mandato, só pode ser explicada por divergências na gestão da associação. O facto da actual direcção estar em final de mandato não merece qualquer referência nos comunicados de imprensa da Nersant, como se Rui Serrano estivesse agora a chegar à direcção e todo o mandato de Pedroso Leal tivesse sido uma farsa ou nem sequer tenha existido.
Uma associação sem rumo com liderança de Domingos Chambel
A Nersant facturou em 2024 um milhão e cem mil euros, receitas que baixaram em relação aos anos anteriores cerca de 70%. Comparando os números desde 2018 até 2024, a Nersant perdeu 50% dos seus recursos humanos, e em todas as áreas da gestão os resultados diminuíram significativamente, mais de 60%, excepto no pagamento de juros, em que as contas aumentaram quase 70%.
Numa consulta às candidaturas do Quadro Comunitário de Apoio Portugal 2030, há cerca de 16.898 candidaturas a nível nacional e só três são da Nersant; os valores das candidaturas são no total de 1,3 milhões de euros destinados a formação, promoção de imagem e incentivos à internacionalização.
Domingos Chambel contra tudo e contra todos
Domingos Chambel não é o único culpado da actual situação da Nersant, mas foi o que mais contribuiu para a decadência da associação e para o rumo incerto que alguns associados vão começando a vislumbrar. A maioria dos associados com quem O MIRANTE falou do actual estado da associação não querem dar a cara porque devem a Domingos Chambel atenções por terem sido convidados para os órgãos sociais, embora a grande maioria tenha mostrado indisponibilidade. Mesmo assim, dizem que não querem aparecer para não serem apontados como elementos de instabilidade. A maioria acredita que a associação já não tem retorno no caminho que Domingos Chambel resolveu iniciar, tentando fazer frente ao que foram os mandatos das últimas três décadas, de José Eduardo Carvalho a Salomé Rafael, com António Campos na maior parte dos mandatos assumindo o cargo de director executivo. Embora Chambel sempre tenha feito parte dos órgãos sociais da Nersant nos mandatos de Eduardo Carvalho e Salomé Rafael, é conhecida a sua oposição interna, principalmente porque criou expectativas de vir a ser presidente da direcção em mandatos de que Salomé Rafael não abriu mão.
As entrevistas e posições públicas que Domingos Chambel assumiu durante o seu mandato, e o conflito com o director executivo António Campos, que acabou em tribunal e ainda não está resolvido, duraram todo o seu governo como presidente da direcção, e tiveram consequências que agora começam a ser mais visíveis, nomeadamente na falta de receitas e de candidaturas a projectos, assim como no apoio aos associados junto das entidades públicas. Nesta altura a Nersant não tem a confiança da banca, está a vender património para poder sobreviver, e em cinco anos teve tantos líderes como nas últimas três décadas.
Mais uma curiosidade para a história da Nersant
Rui Serrano foi eleito na lista de António Pedroso Leal como presidente do núcleo da Nersant de Abrantes, e a meio, com a saída do empresário Filipe Martins, assumiu a vice-presidência da direcção. Agora acaba de ser promovido a presidente da direcção com a demissão de António Pedroso Leal, que não quis esperar mais umas dezenas de dias para acabar o mandato. Nos comunicados de imprensa da Nersant, Rui Serrano aparece como o líder que finalmente vai “trabalhar para aproximar empresas, jovens e instituições, fortalecendo a nossa região”. Na página oficial da Nersant, Rui Serrano aparece ainda como presidente do núcleo de Abrantes, o que faz dele um dirigente com dois cargos bem distintos mas, provavelmente, incompatíveis.
À margem
Todos perdemos com uma região sem associativismo empresarial
O Ribatejo é uma das regiões mais ricas do país. A nossa economia vai da agricultura às pescas, dos serviços às indústrias. Não há no país uma região como a nossa, que tenha ainda um tão grande potencial de desenvolvimento, embora sejamos já uma das mais ricas do país. A proximidade com a capital, os melhores terrenos agrícolas e de charneca, o rio Tejo, fazem da região um território rico e, talvez por isso, ainda não massificado e explorado, ou empobrecido e desertificado como aconteceu com outras regiões. Mesmo com a falta de investimento público, que deixa muito a desejar tendo em conta a proximidade com a capital do país, os empresários, os políticos e o movimento associativo têm feito o mínimo. Falta dar o salto. Trazer para este lado do Tejo as pessoas que vão viver para o concelho de Sintra, de Almada e do Barreiro, onde a qualidade de vida e de território não tem comparação com quem escolhe viver em Santarém ou na região. Se a Nersant cair no buraco e for desprezada por quem tem a obrigação de voltar a dar-lhe estatuto e dinamismo temos todos a perder. Os empresários não são políticos, têm mais que fazer que envolver-se em guerras de alecrim e manjerona, mas também não podem virar as costas e entregar o ouro ao bandido. E tem sido isso que tem atrasado a falta de competitividade das nossas cidades, vila e aldeias, em comparação com outras que beneficiam do activismo político e associativo bem mais combativo junto dos governos.


