Sociedade | 12-12-2025 18:00

O Natal diferente de quem deixou de ser presidente

O Natal diferente de quem deixou de ser presidente

Vai ser certamente um Natal diferente e com menos agenda para os presidentes de câmara que recentemente deixaram de ter responsabilidades na gestão dos seus municípios. Devolvidos às suas profissões por força dos resultados eleitorais ou da lei de limitação de mandatos, estão a adaptar-se a um novo quotidiano, com menos pressão e menos solicitações, mas também com menos poder para fazer acontecer.

Pedro Ribeiro reencontra a rotina profissional na Autoridade Tributária - foto arquivo O MIRANTE

Pedro Ribeiro: “agora os convites são menos”

Habituado a inúmeras solicitações e convites durante a época natalícia nos três mandatos em que exerceu as funções de presidente da Câmara de Almeirim, o socialista Pedro Ribeiro reconhece que este ano vai ter uma quadra provavelmente menos agitada. O agora vereador da oposição na Câmara de Santarém lembra os tempos em que vivia num corrupio para poder corresponder aos convites para estar presente em almoços, jantares e outras festas de Natal organizados por colectividades e instituições do concelho onde era autarca.
“Neste momento os convites são menos e eu giro essas presenças de acordo não com a necessidade mas com o gosto e vontade de estar. Por exemplo, sempre acompanhei as actividades desportivas e continuo a fazê-lo, não por obrigação mas por gosto. Vai havendo muita coisa, não é com a intensidade que era, mas vou ocupando o tempo com regularidade, como se pode ver nas redes sociais”, diz Pedro Ribeiro.
Após mais de duas décadas como autarca em Almeirim - primeiro vereador e depois presidente do município -, Pedro Ribeiro regressou agora à sua profissão como funcionário da Autoridade Tributária, estando colocado na Direcção Distrital de Finanças, em Santarém. Confessa que a transição foi pacífica e que está a retomar a sua actividade profissional e a adaptar-se às novas funções. “É outra fase da vida”, diz.
Pedro Ribeiro considera que as funções de presidente de câmara são, do ponto de vista político, das mais gratificantes que existem. Tanto que, após a lei de limitação de mandatos o ter impedido de se recandidatar em Almeirim, tentou a sua sorte em Santarém. Mas foi mal sucedido nas urnas. “Nós podemos, efectivamente, fazer acontecer”, vinca, referindo-se aos autarcas com funções executivas e reconhecendo que estar na oposição e sem pelouros limita a capacidade de intervenção a esse nível.
“Nas funções que agora desempenho, tenho vindo a receber pessoas que colocam casos que eu, como presidente ou vereador em funções executivas, poderia resolver. Agora só posso encaminhar, dar sugestões, mas não posso resolver directamente. E essa é, claramente, a maior diferença. Continuo a ser autarca, mas sem responsabilidades executivas”, afirma.
Questionado sobre se houve algum momento marcante que recorde do Natal enquanto foi presidente de câmara, Pedro Ribeiro diz que não tem grandes histórias para contar. “Nunca foi tempo de acontecerem coisas fora do normal. Sempre tivemos muita actividade até perto do dia de Natal, como jantares de associações até ao dia 23. Mas não tenho memória de nada assim de muito marcante, que necessitasse da minha intervenção ou que me tenha acontecido”, diz.
Este ano, embora com menos azáfama, o Natal vai ser passado em casa, com a família, como habitualmente. E mais uma vez vai englobar uma viagem ao sul do país. “Como o meu filho passa o Natal um ano comigo e outro ano com a mãe, alternadamente, há sempre uma viagem ao Algarve ou para o trazer ou para o levar”, revela.
E que prenda gostaria de receber este Natal? Pedro Ribeiro admite que a resposta que lhe ocorre é “politicamente correcta”, mas o que gostava mesmo, “o que fazia mais sentido”, defende, era que “quem nos governa a nível internacional ganhasse juízo”. E reforça: “Vivemos uma época em que quem nos governa, a nível internacional, tem muito pouco juízo e anda a brincar com coisas com que não se deve brincar. Era pôr na cabeça dessa rapaziada algum bom senso e que eles olhassem para o espírito da época e para os ensinamentos do tempo e, na prática, ganhassem juízo”.

Miguel Borges diz que recuperou tempo para a família, para a leitura e para a música, depois de deixar a presidência da Câmara do Sardoal - foto arquivo O MIRANTE

“Depois de estar às portas da morte, renasci”

O ex-presidente da Câmara Municipal do Sardoal, Miguel Borges, diz que não podia sentir-se mais realizado com a vida que leva depois de deixar a vida autárquica. Tem aproveitado o tempo livre para colocar a leitura em dia, tocar piano e estar com a família e os amigos. No dia da conversa com O MIRANTE tinha acabado de tomar café no Centro Social dos Funcionários do Município do Sardoal. “Continuo a estar próximo da população. É a minha forma de estar na vida. Gosto de estar com pessoas e de aprender com elas”, partilha.
Miguel Borges, que neste momento se encontra de férias, tem tudo preparado para regressar ao ensino, como professor na escola do Sardoal. Entretanto, vai colocando a leitura e a escrita em dia. “Estou a escrever, a ler muito e a viver experiências com a família. Recentemente estive com a minha Ana (esposa) cinco dias em Roma, uma viagem que andávamos a adiar há muito tempo. Visitámos a cidade de uma ponta a outra”, afirma, acrescentando que à sua cabeceira tem um livro de Afonso Reis Cabral, que está a terminar de ler.
A sua vida mudou nos últimos dois meses, mas Miguel Borges confessa que está à espera de uma transição mais difícil. “Tem sido mais fácil do que pensava. Tem sido uma adaptação muito tranquila. É claro que tenho saudades, principalmente das pessoas. Mas o Sardoal é uma terra tão pequena que arranjamos sempre forma de nos vermos. Quando entrei para a câmara já sabia que este dia chegaria”, refere. O ex-autarca admite que muitas vezes sente que deixou muitas coisas por fazer. “Não é que sinta saudades de fazer acontecer. Muitas vezes penso é que havia mais coisas que se podia ter feito. Mas tenho toda a certeza que o actual presidente Pedro Rosa saberá aproveitar todas as oportunidades para desenvolver o concelho do Sardoal”, vinca, referindo que sempre implementou uma dinâmica muita activa. “Entrava na câmara todos os dias por volta das 07h00 e saía às 19h00. Julguei que a minha saída iria criar um vazio maior, mas não criou”, adianta.
O Natal de Miguel Borges vai ser igual ao de outros anos. “Na minha vida fui 15% presidente de câmara e o resto fui pai, marido, amigo, músico, etc. Sou o Miguel Borges e continuarei a ser. Se nós vamos para uma função autárquica e perdermos a noção da realidade e de presença, não somos bons políticos. Tentei sempre que uma coisa não ofuscasse a outra”, afirma. Miguel Borges partilha com o nosso jornal a história mais marcante nesta época natalícia que viveu enquanto presidente da câmara. “Estive internado no hospital com Covid-19 e era quase certo que não ia passar o Natal em casa com a família. Foi muito duro. Estive em risco de vida, às portas da morte, mas depois renasci. Não foi só o nascimento do menino Jesus, foi o meu também. Depois de passar pelo que passei, sinto que tenho mais uma oportunidade para viver”, afirma o autarca que esteve quase um mês internado durante a pandemia.
Miguel Borges refere que não tem nenhuma prenda em específico que gostasse de receber no Natal, mas admite que “um livro é sempre bem-vindo” e que tem um fascínio particular por canetas de tinta permanente. “Vou coleccionando algumas. Mas devo confessar que sobretudo gosto muito do prazer de dar e de surpreender”, conclui.

Hugo Cristóvão, que deixou de ser o presidente da Câmara de Tomar, ambiciona voltar ao ensino no próximo ano lectivo - foto arquivo O MIRANTE

“Comprei o passe verde da CP para viajar entre Tomar e Vila Franca de Xira”

Uma das primeiras medidas que Hugo Cristóvão adoptou poucas semanas depois de deixar de ser presidente da Câmara de Tomar foi comprar o Passe Ferroviário Verde da CP para poder viajar de comboio para dar aulas de Educação Visual no Agrupamento de Escolas Professor Reynaldo dos Santos, em Vila Franca de Xira. O autarca, que continua no executivo municipal nabantino, embora agora como líder da oposição, confessa que este novo estilo de vida não é o ideal, uma vez que vai perder muito tempo em viagens e ser obrigado a lidar com as enchentes e os constantes atrasos nos comboios. “Não é muito confortável, mas é a vida. Vou voltar a dar aulas, uma actividade que gosto de fazer. Já me disseram que os alunos hoje em dia são mais exigentes, mas estou aqui para abraçar o desafio”, garante a O MIRANTE, afirmando que espera para o próximo ano lectivo estar a leccionar no concelho de Tomar ou num dos concelhos vizinhos. “Estou motivado para transitar de capítulo. É a minha forma de estar na vida, acrescenta.
Hugo Cristóvão não hesita em afirmar que a transição tem sido “perfeitamente pacífica”. Não fiquei agarrado ao poder, nem guardo qualquer rancor. A democracia funciona assim. Tenho aproveitado para estar com amigos, para fazer umas petiscadas, etc. Tem sido bom. Tenho tido férias em família como há muitos anos não tinha”, revela. O vereador reconhece que uma das coisas de que mais sente saudades é de poder tomar decisões para melhorar a qualidade de vida da população do concelho de Tomar. “A única parte que lamento é de não conseguir fazer acontecer como o fazia. Houve projectos que ficaram a meio e que gostava de ter concluído. Espero que o actual executivo possa pegar nestas pastas e dar-lhes seguimento. Que não haja uma atitude de meter na gaveta só porque era de outra governação ou de outro partido”, afirma.
O Natal de Hugo Cristóvão vai ter muito menos responsabilidades institucionais e por isso vai aproveitar para passar mais tempo com a família. “Não quer dizer que não vá a um ou outro evento. Continuo a receber convites, mas vou estar principalmente com o meu círculo mais próximo”, adianta, referindo que as épocas natalícias durante a pandemia foram os momentos que mais o marcaram nos últimos anos. “Foi estranho ter que reinventar muita coisa. Mas ao mesmo tempo foi uma época de verdadeira solidariedade social. Ajudámos muitas famílias e criámos estratégias para lidar com o isolamento dessas pessoas”, vinca.
Hugo Cristóvão diz que não é uma pessoa materialista e que não tem nenhum presente que gostasse de receber neste Natal. O autarca afirma que a melhor prenda é estar com o seu filho de quatro anos. “Aquela sensação de criança de gostar de receber prendas já lá vai. Desde que fui pai que olho para o Natal de forma diferente. Vivo esta época em função do meu filho e sobrinhos”, conclui.

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