Histórias de integração de imigrantes que vieram para FICAr
Fessy e Vítor contam a partir de Ourém, concelho onde vivem e trabalham, as suas histórias de perseverança e integração bem-sucedida, a que se juntam páginas de um passado de dificuldades. Naturais de Luanda, ambos integram o FICA, um projecto do Centro Distrital da Segurança Social de Santarém que já conseguiu integrar na região 264 pessoas migrantes de 29 nacionalidades.
Fessy Bernardo, 41 anos, natural de Luanda, Angola, está há um ano em Portugal, mas para falar do seu trajecto migratório é preciso recuar e viajar até à Alemanha. Foi para lá que seguiu sozinha, grávida da terceira filha, cheia de medos e esperanças em igual medida. Para trás deixava uma vida dura, num país de poucas oportunidades onde, depois de ficar desempregada, tentava sobreviver a vender carvão e farinha de mandioca. “Fui-me virando aos poucos, mas não dava mais”, conta. Outro dos motivos que a fez sair de Luanda foi a delinquência juvenil e o medo que sentia por “criar as filhas naquele ambiente”. Deixá-las foi o mais difícil. “Mas sempre falo às minhas filhas que a vida é uma experiência. Então eu fui, também por elas. Decidida a fazer de tudo para lhes poder dar uma vida melhor”.
Após um ano na Alemanha, sem conseguir trabalho e com uma filha bebé, Fessy decidiu-se novamente pela mudança. Desta vez ia seguir a sua intuição: “Portugal, o meu objectivo sempre foi Portugal. Aqui senti-me em casa. Primeiro porque falamos a mesma língua; e depois porque fui bem recebida”. E foi aqui, mais precisamente em Ourém, que conseguiu o mais importante: “unir a família”. É na cidade de Ourém, do distrito de Santarém, que encontramos Fessy e nos sentamos com ela à mesa no átrio da Fundação Dr. Agostinho Albano de Almeida, onde trabalha como ajudante de cozinha, há cerca de meio ano, e é muito acarinhada por todos.
Fessy está em Portugal desde Janeiro de 2025 e no concelho de Ourém desde Março. A vontade de vingar neste trabalho era tanta que fazia a pé o percurso entre o quarto onde morava, nas instalações da APDAF, no Alqueidão, e a Fundação, que levava cerca de uma hora e meia. “Vinha a pé e voltava a pé. Se valeu a pena? Valeu, foi um esforço que fiz pela minha família”, afirma. E embora tenha começado em Ourém sozinha - com as três filhas e o marido a viver em Lisboa - foi nesta cidade que conseguiu trabalho, casa, e a tão desejada reunião familiar que aconteceu em Agosto passado.
“Foi uma emoção, porque era o que todos queríamos. Quando fizemos o contrato da casa, o senhor deu-nos a chave e ninguém mais queria esperar. Eles vieram e entrámos na casa sem água e sem luz, só queríamos estar todos juntos”, recorda emocionada. Com casa, trabalho para os dois e escolas e creche para as filhas, Fessy não tem dúvidas de que veio para ficar. “Está tudo encaminhado, vou ficar aqui”, diz.
FICA: um projecto pioneiro que nasceu no distrito
É desta convicção e desta vontade que é feito o Projecto FICA - Frente para a Integração das Comunidades Apoiadas, que permitiu a Fessy e à sua família integração e autonomia. Esta é uma iniciativa-piloto da Segurança Social, lançada pelo Centro Distrital de Santarém para acelerar a integração de cidadãos migrantes na região. Um projecto que nas palavras da directora, Paula Carloto, “nasceu de uma inquietação” após uma visita à estrutura de acolhimento em Fátima, onde imigrantes estavam “sem qualquer projecto de vida, parados no tempo”. A maioria sem poder provar que tinha algum tipo de formação, alguns sem documentação, outros a falar mal português. E apesar de receberem cartas do Instituto de Emprego, “não respondiam porque não podiam provar as habilitações que tinham”.
Vítor Mavinduanja, 26 anos, foi um dos que passou pela casa de acolhimento em Fátima, depois de várias tentativas de integração fracassadas, inclusive em França, onde lhe “prometeram” trabalho na construção civil. É neste sector que trabalha há cerca de dez meses, numa grande empresa de Ourém, parceira do projecto FICA. “Graças a Deus, está a correr bem. Eles elogiam-me. Se soubessem que eu não sabia nada..., mas sou uma pessoa que aprende muito fácil. É um trabalho duro, mas de onde eu venho há coisas que assustam mais”, diz o jovem imigrante que se tornou pai da pequena Naelle em Novembro passado, fruto de uma relação que já nasceu em Portugal.
“Sou uma pessoa fácil de lidar e acredito que iria aparecer alguém para me ajudar ou para me dar a luz para conseguir trabalho, mais cedo ou mais tarde, mas não foi preciso”. A Segurança Social foi essa luz que iluminou o caminho para a integração bem-sucedida de Vítor e da sua família, que vive actualmente num quarto da Associação para a Promoção e Dinamização do Apoio à Família (APDAF), instituição parceira do FICA, mas que tem como objectivo a autonomia plena.


