Sociedade | 21-12-2025 10:00

Bata Branca em Azambuja novamente em risco com acordo a cessar no final do ano

Bata Branca em Azambuja novamente em risco com acordo a cessar no final do ano

Projecto que tem assegurado acesso a cuidados de saúde em Azambuja, concelho onde 91% não tem médico de família, termina a 31 de Dezembro caso os acordos não sejam assinados. Cerci está disponível mas tem reservas. Critica atrasos em pagamentos e a ineficiência na marcação com utentes a esperar meses por uma consulta.

A continuidade do projecto Bata Branca em Azambuja, que tem contribuído para minimizar o problema da falta de médicos de família no concelho, volta a estar em risco, uma vez que os dois acordos de cooperação entre a Cerci Flor da Vida e a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) cessam a 31 de Dezembro, sem perspectivas de renovação. “Não há iniciativa e entendemos que deve ser a ACSS a tomá-la”, diz a O MIRANTE o presidente da instituição que tem a responsabilidade de gestão do projecto, nomeadamente no que respeita à contratação de profissionais de saúde.
José Manuel Franco esclarece que, ao contrário do que foi dado a entender em reunião da Câmara de Azambuja, a Cerci Flor da Vida está disponível para dar continuidade ao projecto, mas exige que algumas das condições sejam revistas. Entre outras está a “ineficiência na marcação de consultas”, com pessoas a terem de esperar “dois meses por uma consulta e depois serem encaminhadas para Benavente quando ao sábado a agenda em Azambuja não está completa - para consulta de doença súbita”.
“Queremos que o projecto corra como deve ser, pois é a dignidade profissional da Cerci que está em causa. Os procedimentos têm de ser feitos de acordo com o que preconizamos”, defende José Manuel Franco. Outra situação, aponta, é que o Bata Branca não deveria manchar as contas da instituição que presta apoio a pessoas com deficiência. “Mas não é o que está a acontecer. Em 2024 houve um prejuízo de 22 mil euros, porque a Cerci paga aos médicos religiosamente ao dia 10 de cada mês e a ACSS paga tarde e a más horas”, critica.
O projecto Bata Branca foi implementado em 2023 com o propósito de colmatar a falta de médicos de família num concelho onde 91% dos utentes não tem médico de família atribuído, mas sempre foi apontado como sendo uma “solução transitória” que daria lugar a “algo mais permanente”, lembra José Manuel Franco. No entanto, sublinha, a criação da nova Unidade de Saúde Familiar (USF), modelo B, em Azambuja, apenas vai dar resposta a sete mil utentes, num universo de 18 mil. “Só se fala em Azambuja, então e o resto do concelho”, questiona.

Município defende continuidade do projecto
A mesma preocupação foi deixada por Armando Martins, do Movimento Cívico Pela Saúde em Azambuja, em reunião do executivo municipal, que fez notar que mesmo no segundo semestre do ano, para o qual é apontada a entrada de mais um médico, a nova USF vai “abranger menos de metade da população do concelho”. Afirmando que na melhor das hipóteses a USF entrará em funcionamento em Abril, Armando Martins questionou como “será feita a assistência médica à população” até lá, caso o Bata Branca não tenha continuidade após 31 de Dezembro.
O presidente da Câmara de Azambuja, Silvino Lúcio (PS), defendeu a continuidade do projecto que, disse, veio “colmatar em parte a falta de médicos no concelho” e, como tal, deveria ser feito um “esforço para [lhe] dar continuidade”. Para isso, a autarquia já manifestou interesse para a sua continuidade junto da ministra da Saúde e da ACSS. Igual manifestação, disse, será feita junto do novo presidente da Unidade Local de Saúde (ULS) Estuário do Tejo, Nuno Cardoso, assim que a reunião solicitada pelos cinco presidentes de câmara se concretize.
Disse ainda que caso a Cerci não esteja disponível para assegurar o Bata Branca no próximo ano, irá propor à tutela que seja a câmara municipal a fazê-lo. Uma sugestão que terá muitas reservas uma vez que o município não pode contratar profissionais de saúde.

Câmara comparticipa custos

Num balanço divulgado pelo município no início de 2025, o Bata Branca, que teve comparticipação municipal de 59.897 euros, contabilizava um total de 11.524 consultas médicas realizadas em 2024 e contava com 11 médicos e uma enfermeira. Nos mesmos 12 meses foram ainda feitas 1.284 referenciações hospitalares e emitidos 1.097 certificados.

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