“Inclusão é não termos que lutar por algo a que temos direito”
Associação de Bem-Estar Infantil de Vila Franca de Xira promoveu a sua primeira tertúlia da inclusão, juntando várias pessoas para discutir o tema e formas de o melhorar na sociedade actual.
A inclusão começa pela capacidade de promover a empatia nos mais jovens, ensinando-os desde cedo a reconhecer, compreender e valorizar as diferenças. A ideia veio a lume na primeira Tertúlia da Inclusão da Associação de Bem-Estar Infantil (ABEI), realizada no Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira.
O encontro, que visou assinalar os 50 anos da associação, reuniu especialistas, agentes sociais, profissionais de educação, cuidadores e cidadãos que, através de testemunhos e reflexões, destacaram a importância de transformar princípios inclusivos em acções concretas no dia-a-dia.
A reflexão inicial ficou marcada pelas palavras de Vera Batista, coordenadora da Associação para a Educação, Cultura e Formação, que sublinhou que “a inclusão não existe sem empatia”, reforçando a necessidade de estimular esta competência desde a infância. Ao longo do primeiro painel, dedicado à inclusão na educação, destacou-se também a relevância da intervenção precoce e a importância de ouvir quem vive a diferença no quotidiano. Foi o caso de Sofia Terceiro, da Associação Dom Maior, que, enquanto mãe de um jovem com deficiência, lembrou que “inclusão é não termos que lutar por algo a que temos direito”.
A visão articulou-se com o propósito da própria ABEI, instituição que apoia mais de 1.500 utentes através do empenho diário de 300 trabalhadores. Segundo o presidente da direção, Miguel Branco, a inclusão deve ser encarada como “um compromisso colectivo”, que exige modelos de actuação colaborativos entre várias entidades. Já Fernando Paulo Ferreira, presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, reforçou esse entendimento ao afirmar que a inclusão tem mesmo que se fazer “para ganhar verdadeiro significado” na comunidade, sublinhando que integrar a diferença nas escolas é uma dificuldade saudável que contribui para a formação de melhores adultos.
Lutar pelo primeiro emprego
A sessão da tarde abordou a inclusão profissional, num debate moderado pela deputada e ex-secretária de estado Ana Sofia Antunes, que sublinhou que “a pessoa com deficiência só tem autonomia se tiver independência financeira”, reforçando a necessidade de garantir oportunidades reais no mercado de trabalho para quem nasce ou adquire uma deficiência. O testemunho de Patrícia Castanha, que trabalha na Federação Portuguesa de Autismo, deu corpo a esta realidade: “Tenho 29 anos, fui diagnosticada com autismo aos 3 e só comecei a falar aos 5 anos. O que mais queria era um emprego para me tornar independente. Até que um dia consegui, foi o dia mais feliz da minha vida, até chorei”, contou com emoção.
O dia ficou ainda marcado por momentos culturais, com música e dança pela Associação Projecto Jovem de Vialonga na abertura dos trabalhos e com a actuação dos The Ziguais, da Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo, que encerrou o encontro. Miguel Branco, presidente da ABEI, confirmou no final que devido ao sucesso da iniciativa vai ser agendada a segunda edição para o próximo ano.


