Coruche mais perto de garantir espólio de Ribeiro Telles
A reunião decisiva entre a Câmara de Coruche, a família de Gonçalo Ribeiro Telles e a responsável pelo levantamento do acervo do arquitecto pode fechar um processo que se arrasta há mais de dois anos.
O presidente da Câmara de Coruche, Nuno Azevedo (PS), afirmou que o município poderá ter, dentro de dias, uma definição concreta sobre a instalação do espólio documental de Gonçalo Ribeiro Telles na vila. A reunião com a família e com a arquitecta que está a acompanhar tecnicamente o processo decorreu no dia 10 de Dezembro, no espaço que a autarquia propõe para acolher a biblioteca e a documentação do arquitecto.
O autarca adianta que o local, situado no centro histórico de Coruche, recebeu boa aceitação por parte da família. “Vi que havia interesse, está entusiasmada, depois de termos apresentado o local que propomos para o espólio”, afirma, sublinhando que esse sempre foi o desejo manifestado por Ribeiro Telles, ou seja, ver a sua biblioteca instalada na vila onde sempre teve raízes profundas.
Segundo Nuno Azevedo, a reunião, que decorreu já depois do fecho da edição desta semana de O MIRANTE, deverá permitir avançar para uma clarificação do processo, incluindo necessidades técnicas, calendário para abertura ao público e restantes etapas. O espaço que o município propõe terá de acolher livros, projectos e documentos acumulados ao longo de décadas. O presidente da câmara garante que o acervo terá condições adequadas de preservação e consulta. “Será um espaço que vai acolher milhares de livros do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles e com todas as condições para quem for visitar e queira consultar a biblioteca e a documentação existente”, afirma.
A escolha do local tem sido um ponto crítico num processo que decorre desde 2023 e que chegou a gerar tensão política. Em reunião de câmara, a oposição acusou o executivo de falta de celeridade, alertando para o risco de o espólio seguir para outra instituição, como a Universidade de Évora, uma das alternativas inicialmente equacionadas, a par da Fundação Calouste Gulbenkian.
A vereadora da Cultura, Susana Cruz, tem reconhecido publicamente as dificuldades em encontrar um espaço com dimensão e características adequadas. Soluções como o Observatório da Cortiça ou o Centro Local de Aprendizagem revelaram-se insuficientes, e a hipótese de receber apenas parte da colecção acabou por ser afastada. “Queremos receber o espólio completo”, sublinhou a autarca em reuniões anteriores.
Figura maior da arquitectura paisagista portuguesa e referência internacional na defesa da paisagem e do ambiente, Gonçalo Ribeiro Telles manteve sempre uma relação especial com Coruche, onde passou parte da infância e que considerava determinante na construção do seu olhar sobre o território. A expectativa da autarquia é que o espólio possa transformar-se num centro de estudo e atracção cultural, assumindo-se como projecto âncora para a vila.


