Ribatejanos pelo mundo contam como é passar o Natal longe da família
Milhares de emigrantes aproveitam a época natalícia para rever a família e ter lugar numa ceia farta onde não falta o bacalhau, as fatias douradas e o bolo-rei. Não é o caso das três histórias que se seguem. Paulo, nos Estados Unidos da América, Diana em França e Rita, na Croácia, vão enfrentar a saudade e passar o Natal longe da família.
A última vez que o azambujense Paulo Jorge Ferreira esteve em Portugal foi em 2009. Emigrar foi uma escolha, uma busca por oportunidades que lhe permitissem viver do que mais gosta: tourear e montar a cavalo. “Foi saber que depois de quatro ou cinco anos a tourear em Portugal e Espanha chegava ao fim das épocas taurinas e não tinha dinheiro nem sequer para dar de comer aos meus cavalos”, conta. Paulo não queria ser “o melhor do mundo” na tauromaquia, queria “simplesmente” conseguir fazer da actividade a sua única profissão. E conseguiu. Mas para isso foi preciso atravessar o Atlântico e mudar-se para Hilmar, na Califórnia.
A trabalhar na coudelaria de um açoriano e a fazer uma média de dez corridas ao ano é, na história, “o cavaleiro que mais toureou nos Estados Unidos da América”. O concretizar de um sonho que trouxe uma saudade permanente, que nunca chega a desaparecer, nem nas três vezes que os pais o visitaram entre 2009 e 2022. “São muitos anos longe de casa... Pensava que se ia tornando mais fácil, mas é precisamente o contrário. Cada vez sinto mais saudades da família. Tenho sobrinhos que não conheci. É muito duro”, desabafa nesta conversa que decorre com uma diferença horária de oito horas.
Para Paulo Jorge Ferreira, de 43 anos, o Natal e Maio - ou melhor a Feira de Maio, festa onde os azambujenses se reúnem em força - são as épocas mais difíceis do ano. Aquelas onde a saudade aperta com força. Para tentar encurtar a distância serve-se das videochamadas. “Faço muitas. Eles estão à mesa todos juntos e vejo-os, conversamos e é assim que tento apaziguar um bocadinho esta saudade”. E à medida que a conversa avança e os pratos típicos que compõem a ceia de Natal são servidos cresce, inevitavelmente, “água na boca” de Paulo. “Fico logo, desde o primeiro segundo em que filmam a mesa, porque a comida aqui é completamente diferente”, refere.
Ainda assim, nesta quadra festiva não falta na sua mesa - onde se senta com a “família” que o “acolheu há 20 anos” - o peru, o bacalhau e um “pão torrado” a fazer lembrar os típicos torricados da sua terra. “Posso dizer que sou uma pessoa abençoada por Deus porque encontrei uma outra família que me trata tão bem como me trata a minha família em Portugal”, remata o cavaleiro que está noivo de uma americana e tem a ambição maior de se despedir da tauromaquia em 2027, ano em que comemora 25 anos de alternativa, com uma última corrida na Feira de Maio, em Azambuja.
Reviver o Natal em Santarém seria o melhor presente
Diana Soares, 51 anos, é uma portuguesa, filha de mãe escalabitana, nascida na Alemanha. Construiu uma vida entre culturas, sem perder a ligação afectiva com as raízes. É por isso que o Natal “é a época do ano em que o coração mais aperta. Porque vemos que a família está junta e nós não. Fazemos videochamadas, mas não é a mesma coisa”, afirma.
A viver em Bordéus, França, para a funcionária de limpeza no serviço de cuidados paliativos do hospital da cidade, este Natal vai ter um sabor agridoce: é o primeiro que passa longe dos dois filhos, mas o primeiro como avó de dois netos. A filha, que também vive naquela cidade francesa, vai ajudá-la a preparar uma mesa de Natal que também ajude a apaziguar as saudades. “Isto não é casa francesa, isto é casa portuguesa. E vai ter tudo: polvo, bacalhau, pudim de ovos, pão-de-ló, arroz-doce e por aí fora”.
Quanto aos presentes, o melhor que lhe podiam dar, já que não pode tirar férias nesta altura do ano, era poder viajar no tempo e reviver um dos natais em que a família estava toda reunida. No dia 24 na família do pai e no 25 de Dezembro junto da família materna em Santarém, cidade onde vive um dos seus filhos.
Natal de uma tramagalense numa família de amigos
Este vai ser o primeiro Natal que Rita Cunha passa longe da família, mais precisamente a 2.676 quilómetros. É esta a distância que separa Tramagal, no concelho de Abrantes, de Zagreb, na Croácia, onde vive actualmente a hospedeira de bordo de 26 anos. “Vou estar mais triste mas ajuda saber que tenho aqui mais pessoas na mesma situação. Vamos dar apoio uns aos outros e sozinha não vou passar de certeza”, adianta.
O plano do grupo, onde é a única portuguesa, é juntarem-se numa das casas e passarem juntos o Natal numa família feita de amigos. Não será certamente o mesmo, mas a garantia é que será um Natal único e uma experiência para recordar desta sua fase de portuguesa a viver no estrangeiro, que começou há oito meses.
Licenciada em Turismo pelo Instituto Politécnico de Bragança, Rita Cunha decidiu emigrar depois de não ter conseguido arranjar trabalho na sua área. “Como sempre quis ser assistente de bordo decidi tentar". Concorreu à Lauda Europe - companhia aérea que pertence à Ryanair - foi aceite, fez o curso em Viena e foi para Zagreb. Embora a experiência esteja a ser positiva tem como ambição regressar a Portugal, caso consiga lugar numa companhia portuguesa. Para já o plano a curto prazo é conseguir fazer um arroz-doce, especialidade da sua mãe, para adoçar um Natal diferente.


