Moradores insistem que intervenções na ribeira de Rio de Moinhos foram um crime ambiental
Afirmações de que as intervenções na ribeira de Rio de Moinhos impediram danos não caíram bem em alguns moradores da zona, que insistem que as obras são um dos “mais graves crimes ambientais” de sempre.
As obras de requalificação de um troço de cerca de cinco quilómetros da ribeira de Rio de Moinhos, no concelho de Abrantes, continuam a gerar polémica, depois de numa das últimas sessões camarárias o vice-presidente João Gomes ter afirmado que as intervenções impediram danos durante depressão “Cláudia” e que os problemas que existiram foram em zonas onde os proprietários não venderam os terrenos. Alguns habitantes das aldeias envolventes, como é o caso de Pucariça, contactaram O MIRANTE a pedir o contraditório às afirmações do autarca, insistindo que as obras na ribeira são um dos “mais graves crimes ambientais perpetrados em Portugal por entidades públicas nos últimos anos”.
“Esta vereação esteve calada durante a primeira prova, no Verão, quando a sabiamente pensada obra deixou os canais de rega tradicional da Pucariça totalmente secos (..) Pouco escrutinados por uma oposição débil na Câmara Municipal de Abrantes, nada controlados pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e até financiados por pouco meticulosos fundos ambientais da União Europeia, esta vereação teve rédea solta para, ao longo de três anos, gastar três milhões de euros, destruir a ribeira excepto onde os pequenos proprietários não o permitiram, abater 50 sobreiros e dezenas de outras árvores, danificar irremediavelmente o ecossistema ribeirinho, escavar a vala gigante que desfigurou a paisagem e encher o vale da Pucariça com trinta mil toneladas de pedra, criando uma autoestrada para a água que chega com grande velocidade a Rio de Moinhos. Tudo isto, espante-se, em nome da requalificação natural e da segurança das pessoas”, refere João Paulo Carvalho, um dos habitantes mais indignados.
João Paulo Carvalho continua a afrimar que “a competência demonstrada na atracção de fundos não tem correspondência na inteligência com que os aplica”. “Onde, em muitos locais do país, se fizeram obras fantásticas de requalificação de rios, em Abrantes apenas se destruiu o património natural, sem qualquer preocupação com o ambiente. Estranhou-se, desde logo, que a extensão da obra fosse de 4.650 metros, a poucos metros de requerer um estudo de impacte ambiental”, afirma, acrescentando: quanto à segurança das pessoas, vem a vereação agora autocongratular-se com o ter minimizado o impacto. Ora, a ninguém causa estranheza que não se avaliem outras duas hipóteses igualmente possíveis? Isto é, primeira hipótese, não poderá a obra de três milhões de euros ter sido ineficiente na prevenção das cheias? E, segunda hipótese, não poderá a obra ter agravado as cheias?”, questiona. ”Não queria concluir sem felicitar a nova junta de freguesia pela remoção das manilhas debaixo do viaduto da A23, algo que o projectista não identificou como causa de cheias em Rio de Moinhos, mas que a população podia ter facilmente ajudado a identificar, assim tivesse sido ouvida”, conclui.
Recorde-se que o vice-presidente João Gomes disse que, embora a população tenha criticado muito a obra na ribeira de Rio de Moinhos, e continue a criticar, a verdade é que as inundações que ocorreram nas localidades que se situam junto à ribeira aconteceram precisamente nas zonas onde residem os proprietários que optaram por não vender os terrenos. Um assunto que está a ser resolvido em tribunal, segundo afirmou João Gomes.


