Sociedade | 20-05-2022 10:00

Alcanena com 63% da população sem médico de família

ARS reconheceu que existem 7.582 utentes inscritos sem médico de família em Alcanena

Abaixo-assinado reclama a reposição dos médicos, a reabertura das extensões de saúde encerradas nas freguesias e cuidados de saúde primários de proximidade.

A situação do Centro de Saúde de Alcanena é “absolutamente dramática”, com 63% da população sem médico de família, considera o presidente do município, que pede uma solução célere à ministra. Em declarações à agência Lusa, Rui Anastácio lamentou a incapacidade de antecipar uma situação que era expectável, já que há muito se sabia que a maioria dos médicos se aproximava da idade da reforma, bem como a ausência de soluções por parte da Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo.
“Andamos há seis, sete meses a dialogar com a ARS, alertando para a situação que estamos a viver, que tem vindo a agravar-se, e a resposta que temos é que os próximos dois anos ainda serão piores porque houve uma fornada de médicos que, entretanto, se vai reformar. Como se não se pudesse prever isso já há 10 anos”, disse o autarca.
Para o autarca, é “absolutamente inexplicável” que em Lisboa e Vale do Tejo haja 20% da população sem médico de família e que no concelho de Alcanena esse número suba para 63%. “Há inclusivamente alguma falta de solidariedade territorial, se pensarmos, por exemplo, que no Norte apenas 2% da população não tem” médico de família, acrescentou, defendendo que o Ministério da Saúde contrate, “a título excepcional”, médicos tarefeiros para “uma resposta imediata”.
O autarca lamentou que o sistema de ensino não tenha salvaguardado uma situação que era expectável e considerou incompreensível que, a exemplo do que acontece com os pilotos formados pela Força Aérea, os médicos, “pelo custo que representa a sua formação”, não sejam obrigados a dar ao país alguns anos da sua carreira. “É uma situação absolutamente inaceitável, que o país terá de resolver rapidamente”, disse.

7.582 utentes sem médico em Alcanena
Questionada pela Lusa, a Administração Regional de Saúde reconheceu que existem 7.582 utentes inscritos na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) de Alcanena sem médico de família atribuído. Contudo, de acordo com a ARS, é assegurada diariamente uma consulta de recurso, “através dos médicos que integram a unidade de saúde, de um médico contratado e de uma médica prestadora de serviços”. “Aguardamos a abertura do concurso nacional de ingresso na Carreira Especial Médica, Medicina Geral e Familiar, no qual esperamos que venham a ser contempladas e preenchidas vagas na UCSP de Alcanena”, acrescentou.
Em Alcanena circula um abaixo-assinado promovido pela Comissão de Utentes da Saúde do Médio Tejo (CUSMT) exigindo a colocação de médicos e a reabertura das extensões de saúde no concelho. A CUSMT referiu, ainda, o encerramento, durante a pandemia de Covid-19, das extensões de saúde de Monsanto, Serra de Santo António, Moitas Venda e Espinheiro, juntando-se às de Malhou e Louriceira, encerradas anteriormente. “Os utentes deste conjunto de freguesias foram descentralizados para atendimento no Centro de Saúde de Alcanena que actualmente não consegue dar resposta às necessidades dos utentes do concelho”, sendo “repetidamente reencaminhados para os Hospitais do Médio Tejo”, indicou a CUSMT.

Médio Tejo quer medidas para cuidados de saúde primários

Comunidade intermunicipal apela à aplicação de medidas extraordinárias para combater falta de médicos de família e solicitou audiência à ministra da Saúde

Os autarcas do Médio Tejo lamentam a ausência de medidas que travem a degradação da prestação de cuidados de saúde primários nessa sub-região, a qual, afirmam, ao contrário do prometido, tende a agravar-se. Os autarcas dos 13 concelhos abrangidos pela Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo (CIMT) apelam para que “rapidamente sejam tomadas medidas extraordinárias que alterem o rumo de degradação e ineficácia de resposta da Rede de Cuidados de Saúde Primários no Médio Tejo”, tendo solicitado uma audiência à ministra da Saúde, Marta Temido.
Em comunicado, a CIMT fala em falta de planeamento e afirma que “há muito” que os responsáveis pela Saúde sabiam da existência de médicos de família próximos da aposentação, o que irá agravar uma situação para a qual têm vindo a alertar, sem que tenha sido acautelada atempadamente. A CIMT lembra que a “preocupação pelas percentagens elevadas de população sem médico de família e sem capacidade de resposta por parte dos serviços de saúde” tem vindo a ser manifestada, tanto por autarcas individualmente como a nível intermunicipal, junto do Governo e da Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo.
Segundo o comunicado, nas últimas semanas a situação tende a agravar-se com a aposentação de mais médicos de família que estavam ao serviço no Médio Tejo. “Certo é que, já há muito, se sabia por parte das entidades competentes que estes médicos se aproximavam da idade da reforma devendo nessa altura serem acauteladas todas estas situações”, frisa a CIMT.
Questionada pela Lusa, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo disse estar a aguardar a abertura do concurso nacional de ingresso na Carreira Especial Médica, Medicina Geral e Familiar.
A CIMT integra os municípios de Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Mação, Ourém, Sardoal, Tomar, Torres Novas, Vila Nova da Barquinha (todos do distrito de Santarém) e Sertã e Vila de Rei (ambos do distrito de Castelo Branco) contando com uma população residente de 247.330 pessoas.

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