Sociedade | 25-06-2022 10:00

Caixa da Chamusca parece “um barco à deriva”

Mesa da Assembleia Geral da Caixa Agrícola da Chamusca do tempo em que a Cooperativa era uma instituição de proximidade e uma boa parte dos chamusquenses eram clientes e associados

A Caixa Agrícola da Chamusca vive momentos difíceis com o despedimento de uma boa parte dos seus funcionários depois do fecho das delegações da Parreira, Carregueira e Azinhaga. O MIRANTE soube de fonte bem informada que a Caixa está sem gerente e que a direcção prepara uma rescisão amigável com João Carlos Silva, antigo gerente, a quem nos últimos tempos foram retirados poderes, embora sem lhe poderem baixar o vencimento.

A Caixa Agrícola da Chamusca não tem funcionários suficientes para abrir a sua agência da Chamusca e a delegação da Golegã de acordo com as exigências do Banco de Portugal, por ter falta de pessoal, segundo fonte bem informada. A falta de qualificação de alguns trabalhadores também é considerado um problema para a qualidade do serviço que a Caixa presta aos seus associados. O MIRANTE confirmou junto de alguns clientes que a última assembleia-geral, que já se realizou depois do fecho da delegação da Parreira, não teve o ambiente de contestação que se esperava; da Parreira só foram à assembleia dois associados, entre eles o presidente da junta de freguesia.
Um dos associados que acompanha a vida associativa da Caixa Agrícola da Chamusca diz que a situação financeira da instituição não é a melhor e que a redução de custos nos recursos humanos tem sido a palavra de ordem do actual presidente da direcção, Carlos Amaral Netto, que já herdou de Vasco Cid uma situação complicada.
Recorde-se que a Caixa da Chamusca foi assaltada em 2018 mas só roubaram os valores dos cofres dos clientes. Houve casos em que os clientes tinham nos cofres dezenas de milhar de euros em valores em ouro, na grande maioria heranças de família. Até hoje os gatunos ainda não foram identificados. A Caixa não indemnizou nenhum dos seus clientes.
A Caixa Agrícola da Chamusca é uma cooperativa das poucas que não pertence ao sistema bancário que reúne todas as Caixas Agrícolas em Portugal. Nos últimos anos, para além de pertencerem a um sistema bancário único, a palavra de ordem das Caixas Agrícolas por todo o país tem sido a fusão. No início do ano o presidente do Crédito Agrícola, Licínio Pereira, admitiu que das actuais 75 Caixas de Crédito Agrícola Mútuo, 19 concentram mais de 70% do activo e outras 19 detêm apenas 9% do activo, o que põe em causa a sua sustentabilidade, considerando que nestas terá de haver fusão com caixas da sua proximidade. A Caixa da Chamusca está fora do sistema e não beneficia de todas as vantagens que unem as caixas agrícolas em Portugal.

Vasco Cid deixou instituição em maus lençóis
Num artigo de opinião, publicado em Dezembro de 2018, chamámos a atenção para as dificuldades que a Caixa da Chamusca estava a atravessar depois da saída de Vasco Cid que, em 20 anos de direcção, ajudou “a isolar a instituição do mundo financeiro, o que também era perigoso para a actividade”, lembrámos na altura.
“A gestão protagonizada por Vasco Cid, que para além de ser presidente do conselho de administração era também director executivo deitou tudo a perder. Depois de muitas guerras internas, entre membros de famílias da região que sempre mandaram na Caixa, Vasco Cid levou a melhor e foi dono e senhor nos últimos anos”. Até há pouco tempo, quando foi obrigado a ceder o seu lugar a um jovem sem currículo como gestor, com 34 anos na altura, da família Amaral Netto, que sempre esteve ligada à direcção da Caixa. A situação em que Vasco Cid deixou a instituição, e a falta de visão quanto ao futuro, fazem com que nos dias de hoje a Caixa Agrícola seja “um barco à deriva”, disse a O MIRANTE fonte bem informada dentro da organização, que acusa também a actual direcção de não ter coragem de emendar a mão dos erros antigos.
O roubo dos cofres estará também a contribuir para a falta de confiança na instituição que, dificilmente, não será ainda mais penalizada no futuro por se encontrar isolada e fora do sistema do crédito agrícola. Na altura em que criticamos o trabalho de Vasco Cid O MIRANTE recebeu um direito de resposta onde o antigo administrador e director executivo se dizia injuriado e ofendido e exigia desculpas públicas.
A actual situação da Caixa da Chamusca, os despedimentos colectivos, o fecho dos três balcões, o acordo com um dos funcionários mais antigos e aparentemente o mais respeitado de todos os seus trabalhadores (João Carlos Silva) são a prova de que Vasco Cid deixou um presente envenenado ao seu sucessor. “O facto de Vasco Cid ter ficado como presidente da assembleia-geral pode significar que a direcção não se sente à vontade para contrariar a política considerada “suicida” que Vasco Cid sempre teve enquanto mandava na Caixa da Chamusca”, disse ainda a mesma fonte que procurou o nosso jornal por achar que é justo que se saiba na Chamusca o que se passa com a Caixa que deixou de ser há muitos anos a entidade bancária de proximidade que a caracterizava.

À Margem

Sócios da Caixa não vão às assembleias-gerais

A última assembleia-geral da Caixa Agrícola não fugiu ao que é habitual: todos os pontos da ordem de trabalhos foram aprovados por maioria com uma abstenção do sócio e presidente da Junta da Parreira que disse não poder votar documentos que só conheceu na hora da assembleia-geral.
Vasco Cid, o presidente da mesa da assembleia-geral, não autorizou qualquer tipo de intervenção fora dos pontos da ordem de trabalhos, que não inclua, como devia ser normal, um ponto para discussão de outros assuntos importantes para a instituição. Ficou assim por discutir aquilo que estava na ordem do dia, que foi o fecho da delegação da Parreira e se a direcção da Caixa pode fechar delegações sem autorização da assembleia-geral.
Ouvido por O MIRANTE, Carlos Amaral Netto refuta a ideia de que a direcção da Caixa não pode fechar delegações; quanto ao envio dos documentos a tempo e horas aos associados confirma que é difícil cumprir essa missão. Sobre a publicitação das assembleias diz que tanto vale publicá-los no Correio do Ribatejo como em outro qualquer jornal pois nunca conseguem mobilizar os associados.

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