Sociedade | 07-04-2022 20:59

Cientista diz que o ‘horário de Verão’ pode aumentar risco de cancro

Cientista diz que o ‘horário de Verão’ pode aumentar risco de cancro

Há evidências de outros tipos de eventos como o aumento da sinistralidade nas semanas a seguir ao avanço da hora.

O cientista que descobriu o gene que controla o ciclo circadiano defende que se devia adoptar permanentemente o horário de inverno e acrescenta que a permanência na hora de verão pode aumentar o risco de cancro.

“O ritmo circadiano é um processo biológico de, aproximadamente, 24 horas” embora seja “diferente em cada pessoa – 80% dos humanos têm um relógio biológico com mais de 24 horas”, começa por explicar Joseph Takahashi, em entrevista à agência Lusa.

A equipa liderada pelo neurobiólogo e geneticista descobriu, em 1997, o gene relógio, presente em todas as células do corpo, e responsável pelo controlo destes ciclos.

Inicialmente, os cientistas acreditavam que este sistema estaria presente apenas no cérebro, mas descobriram que “quase qualquer célula pode ter um relógio”.

“Cada órgão tem o seu próprio relógio, que pode agir independentemente do cérebro, mas o cérebro continua a ser, de forma geral, quem manda, é o maestro de uma orquestra”, esclareceu.

Desde então, tem-se dedicado a estudar a ligação entre este sistema e a saúde e longevidade.

A relação mais óbvia é com o sono, não apenas com as horas que se dorme, mas também o horário em que se dorme, que é diferente para cada pessoa.

“A sociedade alterou o nosso horário, principalmente porque controlamos a luz e estendemos o dia para dentro da noite, por causa da luz artificial. Isso levou os nossos relógios a atrasarem porque já não estamos a seguir o Sol”.

Para além da luz artificial, a sociedade manipula a luz natural com a mudança horária entre o inverno, o horário ‘standard’, e o de verão, que adianta uma hora em relação a esse fuso.

Takahashi lembra que, nesta matéria, há três opções: “a situação actual de alternar entre os dois horários, escolher permanentemente o horário de inverno, ou escolher permanentemente o horário de verão”.

O cientista refere que a decisão tem sido tomada com base nas preferências das pessoas, mas refere que as evidências científicas apontam para outro lado.

Nesse sentido, cita um estudo do norte-americano National Cancer Institute, que observou as taxas de incidência de cancro por município nos Estados Unidos da América.

“O que descobriram, e que é muito surpreendente, é que na fronteira ocidental de cada zona horária, a taxa de cancro é 9% mais alta do que na fronteira oriental. A cada 5 graus de latitude, há um aumento de cerca de 3% na incidência de vários cancros”, detalha.

Essa observação é consistente nas quatro zonas horárias daquele país. “Essa fronteira é completamente arbitrária, é desenhada pelos Estados e pelos políticos, não é natural. A única diferença é o horário”, frisa.

Takahashi afirma que “estar sempre no horário de verão é o equivalente a estar na fronteira ocidental desses fusos horários”.

“O que este estudo mostra é que uma mudança muito subtil, talvez 30 minutos de dessincronização, pode levar a taxas mais altas de incidência de cancro”.

Para além destes dados, “há também evidências de outros tipos de eventos, como problemas cardiovasculares ou outros tipos de cancro”, bem como o aumento da sinistralidade na primavera, nas semanas que se seguem ao avanço da hora.

Joseph Takahashi é professor no Southwestern Medical Center da Universidade do Texas e director do departamento de Neurociência do Howard Hughes Medical Institute.

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