Sociedade | 21-01-2022 09:40

“Comunidade científica não estava preparada para lidar com uma doença como a Covid-19”

Miguel Castanho

Miguel Castanho, cientista natural e residente em Santarém, alerta que a Humanidade tem que estar preparada para novas pandemias e novos vírus que podem surgir através da gripe ou transportados por mosquitos que, com as alterações climáticas, começam a chegar à Europa. O professor catedrático sublinha que a comunidade científica tem que se abrir e melhorar a comunicação para o exterior.

A pandemia de Covid-19 não será a última e não foi novidade para a comunidade científica, embora esta não estivesse preparada para o que aconteceu. A afirmação foi feita por Miguel Castanho, investigador do Instituto de Medicina Molecular, durante uma sessão da Academia de Ciências de Lisboa que decorreu em formato online na tarde de 20 de Janeiro. O cientista alertou que as próximas pandemias podem nascer da gripe ou de vírus transportados por mosquitos que, com as alterações climáticas, começam a chegar à Europa.

O cientista, natural de Santarém, onde também reside, explicou que a ciência teve que lidar com o vírus mas também com a ânsia de comunicação por parte do público. “A Academia está um pouco fechada sobre si própria e com a pandemia houve uma grande exposição da ciência, que teve que aprender a lidar, rapidamente, com os pedidos de esclarecimentos. O problema é que os vírus não se vêem e é sempre um grande desafio explicar todo o processo à população global”, esclareceu.

Miguel Castanho recordou que a maioria dos países apostou e investiu na descoberta da vacina para combater a Covid-19 e foram deixados de lado os medicamentos ou testes. O professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa lembrou também que houve várias fases desde o início da pandemia e a ciência passou a estar debaixo dos holofotes e exposta perante a opinião pública.

“Foi uma novidade para todos nós. A comunicação de massas tem perigos e os cientistas não estão habituados a fazê-la. No entanto, a falta de presença de investigadores nestes momentos-chave deixa campo aberto para negacionistas, por isso estive presente sempre que me pediam para esclarecer o melhor que conseguisse. Se não estiverem cientistas a falar com a comunicação social estará alguém a dizer o que quer e o que pode não ser verdade”, sublinhou.

Ciência devia mostrar mais o que se faz em Portugal

Miguel Castanho considera que, mesmo em tempo de pandemia, o monópolio da política partidária sobre o espaço público fez-se notar. O cientista lembrou que demorou um ano para se identificarem parâmetros que guiassem decisões políticas, nomeadamente o Rt e o nível de incidência. “Nenhum partido político tem uma estratégia assente na lógica científica”, reforçou.

O investigador, distinguido em 2021 com o prémio Personalidade do Ano atribuído por O MIRANTE, notou que durante toda a pandemia o processo foi liderado pelo sector da saúde e não pelo sector da ciência. “O sector da ciência deveria aproveitar o impacto da pandemia para levar a cultura da ciência a outro patamar. Passar a mensagem do que é a ciência portuguesa e o que se faz em Portugal nessa área. Isso exige pró-actividade e querer por parte das instituições”, concluiu.  

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